Mãe também namora: como elas apresentaram o novo amor aos filhos pequenos
Se começar um novo relacionamento depois de um término marcante já é difícil, imagina quando se colocam filhos pequenos na equação. A hora de apresentar uma nova pessoa com quem está se relacionando para as crianças costuma fazer pipocar as dúvidas: os filhos vão aceitar numa boa? Eles vão se dar bem? Apresento como amigo ou amiga primeiro?
A terapeuta de casais e de famílias Ana Maria Fonseca Zampieri fala que fatores importantes são a idade das crianças, como a mãe está e, no caso de separação, há quanto tempo aconteceu. "Toda separação envolve um luto, e o do adulto é diferente do da criança", diz. Além disso, a compreensão que a criança tem dos fatos vai variar muito com a idade. Em geral, a partir dos três anos elas começam a compreender mais o que se passa.
Ana aconselha a respeitar o tempo dos filhos, mas também se permitir ser feliz. "A mãe tem o direito a esse outro espaço, a viver um novo amor, ela tem que trabalhar isso dentro dela", diz. Entender que não há nada de errado em estar numa nova relação, ajudar as crianças a compreender isso e, por outro lado, respeitar o processo de luto e de adaptação delas são as dicas que a psicóloga dá.
A seguir, quatro mulheres contaram a Universa como foi esse momento para elas:
"Acho que não é só amigo, vó"
A pedagoga Camila Guedes, 41, viveu esse momento com a filha Lara, hoje com 11 anos. "Quando me separei do pai dela ela tinha 11 meses, e logo ele teve um outro relacionamento, o que tornou as coisas mais fáceis, porque a ajudou a entender que a gente morava em casas separadas, e que ele e eu poderíamos estar com outras pessoas", conta. Ela optou por só apresentar alguém quando rolasse algo mais sério, o que aconteceu quando a filha tinha quase 6 anos - um namoro que logo se transformou em casamento.
"O Fabrício morava em outra cidade. Primeiro, veio no meu aniversário passar um fim de semana, e eu, ele, minha filha e minha mãe fomos almoçar, mas não falei que namorávamos. Naquele dia ela já falou para minha mãe: 'acho que não é só amigo, vó'. Um mês depois ele começou a vir constantemente e a gente começou a sair, brincar junto com ela, para ela entender o processo sem eu dizer de fato 'ah, estamos juntos'. Ela nunca me perguntou nada. Passados uns meses, antes de ela ir fazer uma viagem com o pai, expliquei que estava namorando. Ela só falou 'tudo bem', continuou brincando, tratando ele bem. Depois viajamos juntos, e ela foi entendendo a situação", lembra.
Mesmo com o cuidado, a filha passou por um período de adaptação.
Teve um dia em que ela me perguntou se ele era o pai dela, e eu expliquei que não, que o pai dela ia ser sempre o pai dela, mas que ele era meu namorado e íamos morar juntos, e ela tinha que respeitar ele como a qualquer adulto. Sempre fiz questão de frisar isso, que ela já tinha um pai e isso não iria mudar"
Além disso, Lara criou uma história divertida nessa época: "Ela era apaixonada por sereias e dos 3 até mais ou menos os 7 anos brincava que era uma." Quando se aproximou do novo companheiro da mãe, ela inventou uma história em seu mundo mágico, que contava para todos.
"Ela entrava no imaginário da sereia e começava a falar para todo mundo que tinha 3 pais: o pai do astro, que é meu companheiro, o pai dela e o pai do mar. A gente não gostava muito da palavra "padrasto" pela conotação negativa. Como ela falava padrasto muito rápido, parecia 'pai do astro'. Aí ela passou uns meses falando para todo mundo que conhecia: 'eu tenho 3 pais', 'pai do mar, que fica lá, quando eu viro sereia'", lembra, rindo.
Com a idade, a "fase sereia" passou, e hoje estão todos adaptados à situação. "Já faz quase 6 anos que estamos juntos, e temos uma relação muito boa", diz Camila.
"Melhor que o esperado"
A servidora pública Michely Queiroz, 41 anos, viveu uma história feliz com esse tipo de situação. "O Moreno está com 2 anos e meio apenas, o que desconfio que facilita o processo." Tudo se deu com naturalidade na aproximação entre o filho e a atual namorada, a comunicóloga Thaís Oliveira, 22 anos. "Nem passou pela minha cabeça apresentá-la como amiga. Quando eles se conheceram ainda não namorávamos, apresentei somente como "titia Thaís", porém trocávamos carinhos na frente dele com naturalidade. Quando oficializamos o namoro, passei a dizer que a namorada da mamãe, titia Thaís, estava chegando ou iríamos encontrar com ela. Fui direto ao ponto, com naturalidade".
Assim, os dois foram se conhecendo e ficando próximos. "Tive receio mas foi tudo melhor que o esperado. Ele a tratou e trata com carinho, sempre pergunta por ela: 'cadê titia Thaís?', a chama e insere nas brincadeiras e vice-versa.
Desde que se separou, Michely fica metade do tempo com Moreno, e na outra metade com a empreendedora Luiza Paranhos, 30, sua outra mãe. Michely e Thaís estão juntas há 5 meses. A melhor parte da história é que Luiza apoia o relacionamento delas, sendo amiga das duas. Quando conversamos, as três estavam passando férias com Moreno juntas, na praia. "A outra mamãe dele fica muito feliz de ser assim", diz Michely.
"Teve a fase dos ciúmes, mas passou"
A assistente social Juliana*, 34, apresentou um namorado ao filho quando ele tinha 6 anos. "Passamos por 3 fases. Primeiro, eles se amaram. Falei que éramos só amigos", diz ela. Esperto, o filho logo percebeu que havia algo mais. "Ele ficava me provocando, dizendo que ele era meu namorado". Na época, ela ainda não tinha oficializado o namoro, mas quando isso aconteceu abriu o jogo com o filho. "Aí veio a fase do ciúme. Eles passaram a conviver mais, e meu filho começou a implicar com meu namorado. Até que tive uma conversa com ele, expliquei que era importante para mim. Se que se o pai dele podia, porque a mãe não poderia? Ele se tranquilizou e os dois voltaram a se dar bem. No fim, ficaram super fãs um do outro, formaram uma duplinha, era bonitinho de ver", conta.
Seis meses depois, ela e o namorado terminaram, e desde então ela não apresentou mais ninguém ao filho. "Tenho muito cuidado, não apresento pessoas com quem saio, para preservar ele. Vira e mexe ele pergunta se tô namorando e diz que tenho que arrumar um namorado, mas eu falo 'filho, quem sabe da minha vida sou eu'", brinca.
"Minha família tem muitos problemas com abandono"
Infelizmente, nem todo mundo tem histórias felizes. A assistente social Fernanda Granja, 41, passou por dificuldades ao apresentar novos parceiros aos filhos. "Ser mãe solo não é fácil. Tive minha primeira filha com 18 anos e o pai dela foi embora, não assumiu, não dava pensão, não a via - apesar de sermos vizinhos. Quando ela tinha 3 meses, conheci uma pessoa que fez parte da convivência dela até os 4 anos. Não precisei contar muita coisa porque ela era bebê, e essa pessoa se tornou em uma referência para ela, mas depois nos separamos e ele foi sumindo", conta.
Depois disso, Fernanda não apresentou ninguém para a filha por anos, até conhecer o atual ex-marido, com quem ficou casada durante 10 anos e com quem teve o segundo filho, Samuel. "Antes de o meu filho completar dois anos, o pai dele saiu de casa. Então fui mãe solo praticamente duas vezes. Depois, o pai voltou a ser presente na vida dele, hoje temos uma convivência boa, mas encarei por um tempo duas vezes a solidão na criação dos filhos", diz Fernanda.
Desde que se separou, ela teve apenas um namoro sério, mas a história se repetiu. "Demorei um tempo para contar que estava namorando, porque ficava confuso para o filho mais novo, 'e meu pai?', 'qual o lugar dele?'" relembra. O relacionamento durou cerca de dois anos, até que o namorado foi embora, sem se despedir.
"Meu filho ficou perguntando por ele direto por pelo menos uma semana, ainda mais porque ele realmente sumiu do nada, sem falar dar tchau para ele, nem para ninguém aqui de casa", conta. Depois disso, ela não apresentou mais ninguém.
"Meu principal receio é o da criança se apegar e a pessoa ir embora. Claro que isso vai acontecer ao longo da vida delas, não tem como controlarmos isso, mas a gente tenta poupar os filhos desse sofrimento".
Segundo Fernanda, tanto a filha quanto o filho tiveram que fazer terapia ou acompanhamento específico - o filho teve gagueira durante um tempo - pelos problemas gerados por isso. "Minha família hoje tem muitos problemas com abandono. A falta de responsabilidade afetiva dos homens nesse machismo estrutural é muito prejudicial, eles não pensam nas crianças, não só nas dos outros, mas também nas deles, quando abandonam, como foi o caso da minha primeira filha", diz.
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