"Ao fugir de estupro, pulei do 1º andar e tive que enfrentar 2 cirurgias"
"Era sexta-feira, 29 de janeiro, por volta das 11h da manhã quando tudo aconteceu. Eu tinha acabado de atender uma cliente no salão de cabeleireiro e junto com a minha funcionária aguardávamos a chegada da próxima. Eu estava mexendo no celular agendando alguns atendimentos quando olhei e já vi aquele homem, de aproximadamente 20 anos, dentro do salão. Com uma faca na mão ele anunciou o assalto e trancou a porta de vidro da entrada.
Sempre deixávamos a porta fechada, abrindo apenas quando as clientes chegavam, mas naquela semana a porta estava ficando aberta por determinação da Vigilância Sanitária. O órgão exigiu que deixássemos o estabelecimento aberto para a circulação de ar como forma de prevenção à covid-19.
Com a faca nas mãos e gritando ele pediu nossos aparelhos celulares. Entregamos sem dizer nada. Mas ele não queria apenas isso. Logo ele pediu para fecharmos as cortinas, assim ninguém que passasse na rua veria o que estava acontecendo ali dentro.
Enquanto a minha funcionária fechava as cortinas o homem já pediu para que tirássemos a roupa. Como ela estava mais próxima dele foi a primeira a ser atacada. Ele começou a passar a mãos nela e a forçar ela a ficar nua. Sempre apontando a faca e dizendo que ia nos matar.
Eu sabia que algo mais grave iria acontecer e que eu precisava fazer algo pela nossa segurança, a nossa vida correia risco. Aquele homem não queria apenas nos roubar, ele queria nos estuprar.
Eu estava sentada próximo ao caixa e tirei minhas sandálias sem que ele percebesse. Falei para irmos para o andar de cima, eu sabia que havia uma porta grande e que se eu pulasse lá de cima poderia conseguir pedir ajuda e sair daquela situação.
Corri para o andar de cima e ele veio correndo logo atrás. Por eu já conhecer a escada e o ambiente consegui ser mais rápida do que ele. Chegando no andar de cima, não pensei, pulei de uma altura de aproximadamente quatro metros.
Caí sentada. Mesmo com muita dor, comecei a gritar pedindo ajuda. Logo vizinhos começaram a aparecer nas janelas e na rua. O homem fugiu em uma bicicleta.
Assim que cai na calçada já não sentia minhas pernas. Deitei de tanta dor e logo fui socorrida pelas pessoas e levada para o Hospital de Urgências de Goiânia.
No hospital veio o diagnóstico: com a queda eu havia fraturado a primeira vertebra da coluna e os dois calcanhares. A fratura da coluna foi gravíssima, segundo os médicos, e precisei passar por uma cirurgia de alto risco. Para corrigir a fratura do meu calcanhar direito também foi necessária outra cirurgia.
Na quinta-feira (11), depois de 14 dias de internação, finalmente tive alta hospitalar e pude voltar para casa. É um turbilhão de sentimentos que se misturam, ao mesmo tempo em que estou feliz por estar viva e em casa, fico revoltada. Eu estava bem, trabalhando e de repente minha vida mudou e estou em uma cama sem saber como será o dia de amanhã e como vai ser minha vida daqui para frente.
Ainda é cedo para falar se voltarei a andar. Os médicos ainda não têm um diagnóstico fechado sobre a minha lesão e as sequelas que ela trará. Foram 10 dias sem sentir as minhas pernas e sem conseguir movimentá-las. Nos últimos dias, senti uma melhora, consegui ter alguns pequenos movimentos na perna direita e isso me dá a esperança de que aos poucos minha vida será retomada.
Sei que o caminho é longo e terei que passar por muitas sessões de fisioterapia, mas com fé tudo vai se resolver. Os médicos dizem que entre três e seis meses a minha situação deve melhorar. Esse será o prazo para sabermos como ficará a minha vida.
O que mais espero é que aquele homem pague pelo que fez [A polícia identificou o homem, que deixou o próprio celular e os das vítimas caírem na fuga, mas ainda não conseguiu prendê-lo]. Eu não fui a primeira vítima dele e se nada for feito, tenho certeza que não serei a última. É preciso justiça."
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