"Conheci minha irmã biológica aos 23 anos, graças a um trabalho voluntário"
Eu sempre soube que era adotada: minha mãe de coração, que se chama Reni, fez questão de deixar isso claro ainda na infância. Conforme fui crescendo, me interessei cada vez mais pela minha história e entendi melhor o que tinha acontecido.
Minha mãe biológica, Edna, era de origem humilde. Ela trabalhava em um restaurante e não estava dando conta de cuidar de mim e da sua outra filha, que era mais velha. Reni vivia na casa vizinha ao restaurante e, percebendo isso, aceitou que eu fosse morar com ela quando ainda era um bebê de apenas 8 meses. Nossa relação sempre foi de muito afeto.
Pouco tempo depois da adoção, ela deixou o restaurante — o que não quer dizer que perdi totalmente o contato com minha família de sangue. Aos 9 anos, ela mesma convidou minha mãe e minha irmã biológica para nos visitar e foi assim que nos conhecemos. Nesse período, desenvolvemos uma relação boa, porém distante. Não costumávamos nos ver muito.
Eu sabia que tinha mais uma irmã, mais nova do que eu, que também tinha sido doada por outra família. Tinha curiosidade de conhecê-la, mas, ao mesmo tempo, não sabia nada sobre ela, nem mesmo se estava viva.
Quando eu já estava mais velha, consegui uma informação sobre a caçula da família com a minha mãe biológica: a de que ela vivia em uma cidade próxima à minha. Quando soube disso, fui até lá. Mas, sem pistas de onde encontrá-la, só vaguei pelas ruas tentando identificar um rosto parecido com o meu. Sabia que as chances eram pequenas, mas fiz isso algumas vezes. A ideia de conhecê-la sempre me passava pela cabeça.
'Um paciente me disse: você se parecer com minha filha'
Aos 23 anos, estava começando um curso de auxiliar de enfermagem e vi que um hospital da minha região precisava de voluntários. Decidi me candidatar. Lá, atuava na ala de clínica cirúrgica, ajudando nos banhos de leito, alimentação e troca de fraldas dos doentes.
Eu estudava no período da tarde e passava todo o período da manhã como voluntária. Alguns colegas de sala questionavam os motivos pelos quais eu fazia aquilo, sendo que precisava acordar cedo, me dedicar e não recebia nada em troca. Mas eu fazia de coração.
Certo dia, recepcionei um idoso que havia sofrido um acidente de carro na estrada e quebrado o fêmur. Logo que entrou no quarto, ele olhou para mim, ainda com dor por causa das lesões, e disse que eu me parecia muito com a sua filha. Na hora, fui simpática e fiz um comentário genérico. Achei que o fato de termos algo em comum facilitaria na hora de ajudá-lo.
No entanto, todos os dias, quando eu chegava no quarto para auxiliá-lo, ele repetia a mesma frase. Chegou um momento que não sabia mais o que responder e fiquei até sem graça. Então, pedi que ele me contasse mais sobre sua filha, para puxar assunto.
Foi assim que soube da sua história: ele e sua esposa costumavam frequentar um restaurante e perceberam que uma das atendentes que trabalhava lá não estava cuidando bem das filhas pequenas. Então questionaram se ela tinha interesse em permanecer com a bebê, que era mais nova — e ela disse que não. Propuseram de adotá-la e ela aceitou.
Enquanto ele falava, meu coração acelerou e meus olhos se encheram d'água. Mal podia acreditar no que estava acontecendo. Questionei sobre a localização e o nome do restaurante, e ele me confirmou que eram os mesmos onde minha mãe biológica trabalhava quando eu era pequena.
Logo em seguida, revelei, em choque, que estávamos falando sobre a minha irmã perdida, que vinha tentando reencontrar havia anos. A reação dele foi menos surpresa do que eu esperava: ele me disse que nós éramos tão parecidas, que ele já imaginava que éramos parentes.
Algum tempo depois, eu e minha irmã marcamos de nos conhecer. E todo o medo que sentia de ser rejeitada se dissipou. Hoje, não nos vemos com frequência por causa da pandemia, mas temos diálogos frequentes e uma boa relação. A maturidade fez com que me tornasse cada vez mais próxima também da minha mãe biológica e converso com ela e com a minha mãe do coração todos os dias pelo Whatsapp.
Sempre que conto essa história, me sinto emocionada. Lembro as palavras dos meus colegas, que diziam que eu não recebia nada em troca por fazer aquele trabalho voluntário. Eles não poderiam estar mais errados. Não recebi dinheiro, mas doei o meu cuidado, o meu amor e recebi algo muito mais valioso do que um salário: realizar o sonho de conhecer a minha irmã. Para mim, essa foi a confirmação de que, quando fazemos o bem, de uma forma ou de outra, sempre somos recompensados."
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