Pastor acusado de abuso sexual contra 12 fiéis é preso no Amapá
A Polícia Civil prendeu na tarde de hoje o pastor Jeremias Barroso, acusado de abuso sexual por 12 fiéis, em Macapá. Os agentes cumpriram o mandado de prisão preventiva na casa do líder religioso, no bairro Perpétuo Socorro.
O líder religioso é fundador da Igreja Getsêmani no estado e um dos coordenadores da Marcha para Jesus, evento evangélico que leva todos os anos mais de 150 fiéis às ruas, em Macapá.
Universa revelou, em 2 de fevereiro, depoimentos exclusivos de vítimas de Jeremias. Todos convergiam ao fato de que ele se aproveitava da fragilidade psicológica das mulheres para cometer os supostos abusos sexuais.
Além da prisão, o pastor foi alvo de um mandado de busca e apreensão em casa. Foram recolhidos dois celulares, um notebook, um HD externo e um pendrive. A Justiça expediu as ordens a pedido da DCCM (Delegacia Investigação de Crimes contra as Mulheres) de Macapá e do Ministério Público do Amapá.
O pastor virou alvo de investigação por abuso sexual desde julho, quando foi denunciado à Polícia Civil por fiéis da igreja que fundou. O caso era tratado como sigiloso pela investigação. Ele já responde na Justiça a duas ações penais por abuso sexual mediante fraude ingressada pelo MP em relação a duas vítimas, mas outras investigações ainda ocorrem em segredo.
Segundo o MP, Jeremias será levado à penitenciária logo após realizar o exame de corpo de delito.
A promotora de Justiça, Andréa Guedes, do Gaeco (Grupo de Atuação de Combate ao Crime Organizado), explicou que o pastor foi preso por não colaborar para os esclarecimentos dos fatos.
"Ele estava se eximindo de comparecer duas vezes à promotoria e também à delegacia, não colaborando com as investigações. Temos apurações em cursos envolvendo mais vítimas. O pastor se escondeu e não quis quando foi acionado. Tudo isso fortaleceu o nosso pedido de prisão e busca e apreensão em sua residência", afirmou.
Defesa contesta prisão
A Universa, o advogado Maurício Pereira, que atua na defesa de Jeremias, classificou a prisão como "descontextualizada dos fatos", pois, segundo ele, não existe nenhum elemento novo para colocá-lo na cadeia.
"Essa prisão é totalmente descontextualizada dos fatos, pois se remetem a supostos crimes cometidos há mais de um ano, o que infringe o Código Penal para casos de detenção preventivas. Além do mais, foi baseada unicamente na palavra das supostas vítimas", protestou.
Pereira ainda argumentou que Jeremias tem emprego e residência fixa, além de estar colaborando com as investigações sobre os crimes apontados contra ele.
"Não há necessidade dessa prisão. O réu compareceu várias vezes, espontaneamente, à autoridade policial para prestar esclarecimentos. Nesta tarde, inclusive até chegou a responder a uma intimação. Foi uma surpresa e sem qualquer motivação. Agora vamos ataca-las com os recursos cabíveis", comentou.
Pastor usava 'purificação' como argumento para assédio, dizem relatos
As investigações começaram em julho de 2020, depois que uma das vítimas contou para outras mulheres da igreja o que estava vivendo e descobriu que as amigas também sofreram situações semelhantes. Todas são atendidas pelo mesmo escritório de advocacia.
A reportagem ouviu quatro das vítimas — uma delas ainda não formalizou denúncia, mas é atendida pelos mesmos advogados. Todas deram relatos sob a condição de anonimato. Os relatos mostram um padrão de como o pastor agia: usava da reputação religiosa para cometer os assédios sexuais, geralmente praticados em seu gabinete.
Entre os relatos, uma das fiéis contou que recebeu do pastor um vídeo em que ele se masturba. Outra relatou que ele mandava mensagens pelo Facebook perguntando a cor da calcinha que ela usava ou ligava na madrugada dizendo que estava "morrendo de vontade" dela. Há também casos que acusam Jeremias de obrigar as vítimas a se tocarem.
"Quero que a justiça dos homens seja feita porque a de Deus eu sei que não falha. Quero que pague por tudo, inclusive pelos danos psicológicos que deixou em mim e em todas as outras", disse uma delas a Universa.
A violência sexual contra a mulher no Brasil
No primeiro semestre de 2020, foram registrados 141 casos de estupro por dia no Brasil. Em todo ano de 2019, o número foi de 181 registros a cada dia, de acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública. Em 58% de todos os casos, a vítima tinha até 13 anos de idade, o que também caracteriza estupro de vulnerável, um outro tipo de violência sexual.
Como denunciar
Vítimas de violência sexual não precisam registrar boletim de ocorrência para receber atendimento médico e psicológico no sistema público de saúde, mas o exame de corpo de delito só pode ser realizado com o boletim de ocorrência em mãos. O exame pode apontar provas que auxiliem na acusação durante um processo judicial, e podem ser feitos a qualquer tempo depois do crime. Mas por se tratar de provas que podem desaparecer, caso seja feito, recomenda-se que seja o mais próximo possível da data do crime.
Em casos flagrantes de violência sexual, o 190, da Polícia Militar, é o melhor número para ligar e denunciar a agressão. Policiais militares em patrulhamento também podem ser acionados. O Ligue 180 também recebe denúncias, mas não casos em flagrante, de violência doméstica, além de orientar e encaminhar o melhor serviço de acolhimento na cidade da vítima. O serviço também pode ser acionado pelo WhatsApp (61) 99656-5008.
Legalmente, vítimas de estupro podem buscar qualquer hospital com atendimento de ginecologia e obstetrícia para tomar medicação de prevenção de infecção sexualmente transmissível, ter atendimento psicológico e fazer interrupção da gestação legalmente. Na prática, nem todos os hospitais fazem o atendimento. Para aborto, confira neste site as unidades que realmente auxiliam as vítimas de estupro.
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