Aos 17, MC Soffia celebra uma década de carreira e quer mais meninas no rap
De "Menina Pretinha", primeiro hit com clipe lançado em 2016, a "Tô um nojo", parceria lançada há dois meses com a rapper Onnika, MC Soffia mudou cabelo, roupa, e a mensagem das letras. Iniciada no mundo do rap aos 7 anos, Soffia virou adolescente. É uma "rapper teen", como descreve seu perfil no Instagram. Agora, ela, que foi beneficiada por um projeto cultural chamado "Futuro do Hip Hop" no início de sua carreira, quer levar outras meninas para o caminho do sucesso.
Nesta segunda-feira (22), Soffia completa 17 anos e promove uma série de lives musicais em seu canal do Youtube, a partir das 20 horas, para celebrar a data. Os shows acontecerão nas próximas cinco segundas, com convidados do rap e do trap.
Na rede social, ela ainda faz o projeto "Ocupa Preteenha" em que, aos domingos, ela publica no feed o material de uma artista que seja negra e jovem como ela. A ideia é ter mais meninas na arte e acolhê-las, algo de que sentiu falta no começo da trajetória nas rimas. "O maior apoio que eu tive foi da minha família, não tive nenhum artista que falasse: Mano, vou pegar essa menina para levar pro mundo artístico".
Em março, a artista ainda prevê lançar a música "Papo Reto", em que fala da valorização das mulheres no hip hop, um movimento que apoia e quer dar mais visibilidade. "Na letra, falo de coisas que passei e de que vou trazer mulheres do rap. Inclusive referências, como Negra Li e Sharylaine. Em um trecho da canção, Soffia comenta sobre o machismo que a cerca:
Claro que tem mina no rap, tem muitas em qualquer lugar, só que o Estado é machista e sendo falso moralista fica querendo nos invisibilizar.
Em entrevista para Universa, ela comenta sobre seu caminho na música, moda, inspiração e planos para quando tiver 30 anos. Leia os principais trechos:
UNIVERSA O que você mais gosta de fazer da sua rotina como artista?
MC SOFFIA: Compor. Comecei com 10 anos, aí fui compondo melhor porque ao longo dos anos fui atrás de referências. Fiz curso de produção musical para aprender sobre batida e ir atrás das que eu queria. E também gosto de fazer os clipes. O "Tô um nojo" com Onikka, de trap, foi feito com base no feat da Beyoncé com a Nick Minaj. Queria fazer igual.
A música é um trap que fala de uma coisa do mundo jovem. A gente brinca: "Nossa, pode vomitar que a menina tá um nojo". Estou me aventurando no rap, no funk, o trap, não fico só em um ritmo, não.
Qual é sua relação com a moda?
Desde os meus 5 anos, não gostava que minha mãe me vestisse. Ela queria colocar sandalinha, coisa rosinha, e eu não gostava. Eu escolhia o look. Aí comecei a pegar referências de fora, porque sempre quis me vestir de forma futurística e street.
Essa é a moda de que eu gosto, com referência americana, um tênis, calça larga, blusa larga, ou às vezes mais justa.
Pego as referências no Pinterest e no Instagram, e troco com meu stylist. Gosto dos looks da Glow Princesss, das rappers Megan Thee Stallion e Saweetie, da Rihanna também. Esse estilo street tem tudo a ver com o hip hop, que sempre se abriu para a possibilidade da moda, com os boots, a roupa e tudo mais.
Como sua mãe te influenciou positivamente a se posicionar sobre ser uma menina negra?
Minha mãe é minha empresária e foi ela que me apoiou, me levou para eventos culturais para cantar, no projeto em que eu iniciei, o Futuro do Hip Hop. E ela sempre pergunta o que eu quero, se é isso que quero seguir. É minha inspiração. Inclusive, está fazendo faculdade de direito para cuidar mais da minha carreira.
Você tem uma música que se chama "Empoderada". Como o rap te dá poder?
O poder está no meu sentimento, que eu coloco tudo na letra. Eu levar a mensagem das minhas inspirações de vida já é um poder. E aí, aumenta quando as pessoas ouvem e se identificam.
Você já sofreu com a síndrome de impostora, que atinge muitas meninas e mulheres, por conta de a cena de rap ser machista?
Não, mas penso que eu poderia ter tido mais ajuda e acolhimento do pessoal famoso do rap. Sempre quis gravar CD, fazer clipe e participar dos clipes de outros artistas, mas não foram muitos que vieram atrás de mim para fazer isso. Não tive acolhimento de muitos.
A síndrome da impostora bateu no futebol. Eu jogava no bairro, com uns 12 anos, via só menino jogando e ficava com vergonha por ser menina. Até que joguei em escolinha e, na minha escola, criamos um time feminino. Até consegui chuteira para gente.
Até hoje eu jogo, mas agora estou mais do basquete. Jogo no parque com amigos, primos, por diversão. Lá, não tenho vergonha de chega, não. O futebol é mais machista mesmo, eles se acham os donos. Por isso, tem meninas em todos os esportes, mas várias têm vergonha.
Você tem músicas em parcerias com mulheres e também chamou algumas para participar das lives. Quais são os trabalhos de mulheres que você recomenda?
As jovens que participam do meu projeto "Ocupa Preteenha", não só com música, mas poesia, dança. A ideia veio na época que as pessoas estavam ocupando o Instagram de outros artistas [pelo movimento antirracista que ganhou projeção midiática no ano passado]. Como eu queria que na minha época algum artista grande tivesse me ajudado... Porque meu apoio foi da minha família. Não teve ninguém que falou: "Mano, vou pegar essa menina para levar para o mundo artístico".
Então, eu penso que ajuda nunca é demais. Aí, recomendo a Onikka, que fez o feat. comigo, a Luanna, a Negra Rosa, que canta demais, a Catarina Xavier, que faz músicas com ensinamentos de matemática...De internacional, tem a Alaya High, a Lay Lay.
Pretende fazer faculdade ou alguma formação relacionada à música?
Agora estou no segundo ano do Ensino Médio e, em paralelo à carreira, pretendo fazer intercâmbio na África do Sul, estudar inglês, francês... Ao mesmo tempo, tenho um sonho de conhecer as escolas norte-americanas e participar daqueles cursos da Fundação Obama [que faz projetos para lideranças jovens]. Mas, quanto à faculdade, penso em alguma coisa de música ou de artes cênicas.
No ano passado, tivemos um levante dos movimentos negros, pela luta antirracista. Como você viu essas manifestações?
Eu espero que, depois da pandemia, cada vez mais pessoas participem, para entender o tema e nossa luta, que estamos fazendo há anos. E que as pessoas do nosso povo também venham, para a gente lutar e mudar as coisas.
Nas redes sociais, você já foi alvo de críticas ou de comentários racistas? Como lida com isso?
Sim, na internet vai ter quem goste e quem não goste do nosso trabalho e temos que estar preparados. Eu não leio mensagem negativa, e sempre que é um ato de racismo minha mãe denuncia o perfil. Ela faz isso por mim, às vezes fazemos posts para não deixar isso passar batido. De alguma forma, eu acabo me envolvendo, as pessoas comentam, e tem um abalo emocional, mas não é por isso que vamos desistir.
Quais planos você tem para sua carreira quando tiver 30 anos?
Nossa, espero que eu já esteja com hits de sucesso, com minhas músicas naqueles rankings entre as dez melhores do Spotify, e que eu ganhe prêmios nacionais e internacionais. E quero continuar a inspirar meninas a fazerem o que elas quiserem.
Isso porque eu espero que eu seja uma referência, porque me inspiro em muita gente também.
A Beyoncé é a que mais me inspira; só que não tenho o sonho de ser ela, eu quero ser a MC Soffia, mas com a arte que ela traz para o palco, com a estrutura, o look que ela mostra nos shows. Aliás, ela tem que vir, depois da pandemia, para apresentar o do Lemonade!
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