"Por que deixei de me depilar e de usar sutiã"
"Tenho 20 anos e desde os 18 decidi parar de me depilar. Na verdade, o processo começou antes, quando parei de usar sutiã - além de machucar e apertar, fui percebendo que essa peça serve para esconder os seios, que não deveriam ser tão sexualizados pela sociedade. Acho que quando a nós, mulheres, usamos, só reforçamos essa ideia de que devemos cobrir o peito - e os homens, não.
Para mim, não usar sutiã é naturalizar os seios. Não vou dizer que as pessoas não ficam me olhando e julgando na rua, mas para mim o mais difícil era dentro de casa. Meus pais são separados, e não via problema quando estava com minha mãe. Mas quando eu estava na casa do com meu pai, com meu irmão, sentia que eles ficavam incomodados. Agora nem ligo se as pessoas olham e parei de reparar como fazia antes, quando sentia insegurança e medo. Me livrar disso tudo me ajudou a aceitar meu corpo, de me olhar e me aceitar.
Isso de não ligar para as opiniões dos outros me fortaleceu e me preparou para quando parei de depilar. Eu me libertei de muitas coisas. Sempre tive peito muito pequeno e cresci com ideia de que um dia colocaria silicone. Por isso, sempre usava sutiã com bojo. Quem eu estava tentando agradar?
Não costumava depilar as pernas, pois os pelos são claros e nunca me incomodou. Já a virilha, só de vez em quando, mas não sempre por conta de alergia e irritação. Hoje depilo a virilha com lâmina a cada 15 dias, mas não por questão estética. Sinto um desconforto na calcinha quando os pelos começam a ficar maiores.
Um fato que me fez não ligar muito para os pelos na região é porque me relacionava majoritariamente com mulheres e aí era mais tranquilo para mim. Me sentia mais confortável em não estar depilada com elas do que com homens. Sou bissexual, hoje tenho um namorado com quem moro junto e vivo um relacionamento aberto. Quando ele me conheceu eu já tinha deixado os pelos da axila crescerem. Tudo bem. Ter conhecido um cara maduro, que me aceitou, me fez embarcar num relacionamento com um cara.
Decisão com propósito
Pra mim, há dois pontos muito importantes dentro da questão da pressão estética: a magreza e o pelo. Sempre fui muito magra e decidi, então, que iria deixar os pelos crescerem embaixo dos braços. É uma maneira de fugir dessa pressão e me emancipar de alguma forma. Inclusive dos olhares que as pessoas lançam sobre a gente, que sempre nos afeta quando não temos consciência.
Eu me aceito como sou e penso que todo mundo tem pelos no corpo e que é normal. Ficar com vergonha dos pelos da perna e colocar calça jeans em um dia de calor quando a depilação não está em dia? Que absurdo... Isso é se privar da liberdade!
Se estou no metrô e levanto o braço para me segurar na barra, óbvio que vejo uma ou outra pessoa me olhando feio, mas não me incomoda. Parei de pensar que meus pelos estão ali, nem me lembro mais. Virou algo natural.
Novos hábitos
Parar de depilar embaixo do braço, ao contrário do que muita gente pode pensar, me fez ter menos odor nas axilas. Não uso desodorante e antitranspirante. Nada. E não exalam nenhum cheiro forte.
Eu sou vegetariana e no processo de me tornar vegana, então estou tentando ter uma vida o mais natural possível. Tudo o que é industrializado para mim faz mal e estou cortando. E a nossa pele absorve tudo. Assim como não depilar, ser vegana também é um ato político, está tudo junto. Não tem como separar."