Sex toy quebrado tem cura: conheça o hospital dos vibradores, em SP
Olhando de fora, não tem nada de diferente. Mas por dentro, no fundo do Pronto-Socorro das Bonecas, o Hospital dos Vibradores é uma mistura de sex shop com lojas da Ri Happy. O lugar é comandado por Bartolomeu Queiroz de Alencar, 60, e, segundo ele, que está há mais de 15 anos no ramo, nunca teve tanto movimento como agora, na pandemia.
A procura pelo conserto de produtos eróticos disparou durante o isolamento social, diz Bartolomeu. Se antes ele recebia em sua loja em Osasco, na Grande São Paulo, de 1 a 2 brinquedos "de adulto" por semana, agora a quantia aumentou para 5 por dia.
Eu arrumo brinquedos há 38 anos. Vibrador, para mim, é como se fosse uma Barbie, mas com cabeça diferente
"Os modelos mudaram muito com o tempo. Há 16 anos, um cliente chegou perguntando se eu consertava um 'brinquedo diferente'. Peguei, olhei e vi que era um vibrador. Trouxe para a oficina, consertei e dei o preço. Foi assim que reparei que tinha um mercado ali. Passei a enviar e-mail para algumas lojas de sex shop e logo começou a chover produto aqui na loja", conta para Universa.
Bartolomeu diz que é o único profissional do Brasil nesse mercado. Ao pesquisar por "conserto de vibradores" no Google, o endereço do hospital é o primeiro a aparecer. Um negócio curioso que não envolve só a satisfação do cliente, como também proporciona ao consumidor a chance de manter por perto um produto especial, às vezes ligado emocionalmente ao dono.
Conserto de vibrador varia entre R$ 38 e R$ 120
A primeira coisa que Bartolomeu exibe para a reportagem é um armário branco. Quando ele abre as gavetas, vem a surpresa: mais de 100 vibradores velhos lá dentro. Ao ver a variedade, a repórter aqui solta um palavrão, assustada. Ele dá risada. "Esses brinquedos aqui recebi de uma sex shop parceira lá de Minas Gerais. Estão quebrados e rasgados, dá para ver? Não é para revenda. Eu uso as peças e motores velhos deles para arrumar outros produtos", explica.
Bartolomeu conta que o valor do conserto varia de item para item e a faixa de preço varia de R$ 38 a R$ 120. "Não cobro caro porque tem muita demanda. Cobro um preço justo. Um modelo novo desse daqui, por exemplo (aponta para um vibrador com dois pontos de masturbação, um em cada extremidade), é na faixa de uns R$ 400, se a pessoa pagar R$ 90 para arrumá-lo, já compensa para ela", explica.
"Pode segurar, tem problema não, só não vai funcionar porque o motor está quebrado. Eu higienizo tudo, o álcool fica sempre do meu lado", diz Bartolomeu enquanto mostra um pênis de plástico que chegou com defeito. No fundo da loja, estantes, brinquedos, pintos de borracha, sugadores e uma mesa com algumas parafernálias eletrônicas compõem o cenário.
Ele conserta e dá conselhos, mas diz que não usa
Apesar de mexer com brinquedos eróticos há tanto tempo, Bartolomeu diz não levar trabalho para casa - muito menos para a cama. "Eu não uso não, mas dou conselhos sobre o que não fazer com eles."
Por causa da alta demanda na pandemia, Alencar contratou funcionários, mas relata dificuldades em encontrar pessoas dispostas a trabalhar na área.
Ninguém aceita trabalhar aqui se eu falo que é para arrumar vibrador. Esses dias contratei uma mulher para me ajudar, limpar, higienizar as peças. No outro dia o marido dela apareceu, avisando que ela não trabalharia mais comigo
A única pessoa que ajuda Bartolomeu na oficina é Maria Nilza dos Santos, 54. Ela trabalha na loja há 18 anos. "No começo achava estranho, o pessoal trazia tudo escondido, mas depois virou algo normal. Se precisar fazer alguma higienização eu ajudo - e cuido da parte dos Correios também."
O dono do Hospital dos Vibradores faz trocadilhos com o tema - um modo de desanuviar qualquer constrangimento na conversa. Conta que sonha em expandir a empresa.
Queria abrir uma franquia em outro estado, mas ninguém faz o que faço. Tem nojo, tem medo de mexer. Já peguei coisa suja, mas coloco luva e desinfeto.
Ele conta que tanto homens como mulheres recorrem ao hospital para consertar os vibradores e sex toys.
Sugador de clitóris é o principal "paciente"
Na caixa de produtos que devem ser arrumados, um modelo se repete, é o sugador de clitóris. "Esse daqui é campeão de venda, né", conta. A reportagem questiona se o alto valor do item tem alguma relação com a parte eletrônica. "Não, o motor dele é igual ao dos outros, a diferença é que a bateria dele é maior. Mas acho que o preço tem a ver com o prazer que ele proporciona."
Ainda que os fabricantes e donos de sex shop informem que a maioria dos produtos pode ser molhado e utilizado debaixo d'água, Bartolomeu diz que esta é a principal razão de pane em sex toys. "Caiu água no motorzinho? Já era. Pode trazer para mim. Ganhamos muito dinheiro por causa disso", gargalha. Além disso, manter as pilhas dentro dos itens também pode danificá-los.
Em quase 20 anos de funcionamento, o Hospital dos Vibradores já recebeu produtos de vários locais do Brasil. O eletricista conta um caso interessante que aconteceu recentemente, enquanto pega uma caixa de papelão do chão e mostra um exemplar do vibrador "Rabbit" que estava lá dentro.
"Está vendo esse daqui? Um dia uma pessoa do Maranhão me ligou e me mostrou o brinquedo por uma vídeochamada. Pedi para ela tirar a capa de plástico que cobre a parte eletrônica do aparelho e me mostrar. Vi que tinha escapado um fio do masturbador e falei que ela só tinha que levar em algum lugar para soldar. 'Não, eu vou mandar para você', ela respondeu. Por vergonha, ela preferiu gastar quase R$ 100 com correio do que levar em alguma oficina de lá. Eu nem cobrei para fazer o serviço."
Clientes tem menos vergonha de pedir o conserto
Questionado se ele notou diferenças no negócio nos mais de 15 anos de funcionamento, Alencar é direto: "Hoje em dia a coisa é mais aberta. As mulheres chegam aqui falando que o 'pau quebrou'. Gritando 'é você que arruma os pintos?'. Inclusive, tem cliente que vem aqui sempre. Claro que tem uns caras que ainda tentam mentir, dizer que estão com o brinquedo da namorada. Eu sei quando é assim."
Mas, pelo jeito, não são só os clientes que têm relação de apego aos brinquedos. Quando a reportagem pergunta sobre os planos para o futuro, Bartolomeu responde: "Se um dia eu me aposentar, eu vou parar de consertar os brinquedos, os vibradores não".
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