Comissão da Alesp dá pena branda a Cury; "Inaceitável", diz Isa Penna
O Conselho de Ética da Alesp (Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo) decidiu pela suspensão de 119 dias do deputado Fernando Cury (Cidadania), por cinco votos a quatro, no processo em que foi acusado de quebra de decoro por importunação sexual contra a deputada Isa Penna (PSOL). A sessão terminou com dois deputados renunciando aos cargos no conselho por causa da decisão "vergonhosa".
Na quarta-feira (3), o relator do processo, Emidio de Souza (PT), apresentou seu voto sugerindo afastamento de seis meses. O deputado Wellington Moura (Republicanos) pediu vistas e, hoje, apresentou outro voto, pedindo suspensão de 119 dias. Porém, pelas regras da casa, o período configura-se como licença, mantendo o gabinete de Cury funcionando normalmente, o que não significaria, na prática, uma sanção. Agora, o processo segue para votação no plenário da Alesp e poderá ter a pena alterada no decorrer da avaliação da casa.
Em dezembro de 2020, a deputada teve os seios apalpados por Cury durante uma sessão no plenário da Alesp e, na sequência, entrou com pedido de processo contra ele. Para Isa, a decisão é "inaceitável". "É uma representação do corporativismo e machismo estrutural da casa. O deputado Emidio de Souza, assim como a bancada do PSOL, entendia que o caso era de cassação. Mas na busca de uma resposta que pudesse minimamente representar um recado para todas as mulheres do país, de que não continuaremos compactuando com o assédio, ele propôs uma relatório final de seis meses com suspensão da remuneração do parlamentar e de seu gabinete. Mas nem isso passou", afirma a deputada a Universa. "Hoje é um dia triste para todas as mulheres brasileiras."
Procurada por Universa, a equipe de Cury enviou uma nota assinada pelo advogado do deputado, Roberto Delmanto Junior, reproduzida na íntegra: "A defesa do deputado estadual Fernando Cury recebe a decisão do Conselho de Ética de forma muito respeitosa e, a partir desse momento, espera a apreciação por parte dos demais nobres deputados, em plenário".
"Processo foi continuação de violência que sofri", diz deputada
A deputada Isa Penna ainda afirma que a decisão, assim como todo o processo no Conselho de Ética, foram uma continuação da violência que sofreu com o assédio cometido por Cury. "É insuportável se submeter a um processo, mesmo com imagens claras e televisionadas, em que você é desacreditada continuadamente. O recado que querem dar é que esse espaço não é para as mulheres. Mas não vamos deixar, vamos seguir na luta e ainda vai a plenário à votação, podendo ter aumento da punição", afirma.
"A decisão do conselho se preocupou mais com o assediador do que com a vítima e a sociedade. Acho que a Alesp entrará para a história como protetora de atos de violência contra a mulher, e, como casa do povo e exemplo para sociedade, estimulando a violência contra todas."
Moura cita Bíblia e mostra fotos de Cury com a família para defendê-lo
Em seu voto pedindo a diminuição da pena de Cury, Wellington Moura disse que era preciso ter "cuidado para não cometer injustiça". Depois, em uma fala defendendo o colega, mostrou fotos de Cury retiradas de suas redes sociais em que ele aparecia com sua família e beijando a mulher.
"O Cury que eu conheço é marido de uma só mulher, que ama sua esposa. Merece uma segunda chance. Vou citar uma passagem da Bíblia: 'Vai e não peques mais'. Quem não tem pecado aqui?'", disse.
Procuradora da Mulher na Alesp se manifesta: "Licença não é punição"
A deputada Marina Helou (Rede), também pediu a palavra. Apesar de não fazer parte do conselho, ela é procuradora da Mulher na Alesp e representa a bancada feminina. "Falo também como mulher que já passou por situação de assédio", disse. Marina criticou o voto de afastamento por 119 dias. "É uma licença, não é uma punição. Não subestime nossa inteligência nem a necessidade de punição exemplar para mostrar que esse ato não é aceitável", afirmou.
"Isso seria uma tentativa de tapar o sol com a peneira. Uma punição de seis meses é o mínimo e traz o marco de que assédio não será tolerado e mulheres merecem espaço na política."
"Desrespeito", diz presidente da comissão após deputados abandonarem sessão
Os cinco deputados que votaram pela pena mais branda de Cury abandonaram a sessão assim que a presidente do conselho, Maria Lúcia Amary (PSDB), declarou os votos. Além de Wellington Moura, são eles: Adalberto Freitas (PSL), Alex de Madureira (PSD), Estevam Galvão (DEM) e Delegado Olim (PP). Maria Lúcia desabafou afirmando se sentir extremamente desrespeitada por essa ação deles, inclusive como mulher e por ter conduzido todas as sessões com dignidade. Durante todo o encontro, eles também a interromperam diversas vezes.
Em determinado momento, o deputado Adalberto Freitas chegou a pedir que a sessão fosse anulada porque no bate-papo da sala virtual, a deputada Isa Penna afirmou que lembraria os nomes daqueles que votaram em apoio a Cury. Disse estar se sentindo "ameaçado", mas seu pedido foi indeferido pela presidente.
Cury negou ter cometido importunação sexual, dizendo que tratou-se de um abraço, e que costuma abraçar as pessoas da maneira como fez com a deputada. Afirma que não tocou seus seios, mas em suas costelas, e que não teve a intenção de ofendê-la. Testemunhas afirmaram que não tratou-se de um abraço principalmente por ele ter se aproximado por trás dela e, imediatamente após o toque, Isa ter afastado a mão de Cury de seu corpo.
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