Intubação com apenas 11 dias: a dor das mães de recém-nascidos com covid-19
Na última quinta-feira (4), a chef de cozinha Renata Vanzetto publicou alguns posts nos stories do Instagram relatando o susto que passou com seu bebê recém-nascido, Max. Com apenas quase um mês de vida, Max pegou covid-19 e ficou alguns dias internado no hospital.
Renata não está sozinha na sua aflição. Diversas famílias têm passado pelo susto de receber um diagnóstico de covid-19 em seus bebês que acabaram de chegar ao mundo. A administradora e professora de educação infantil Carolina Chander Fernandes, 39 anos, de São Paulo, passou por isso com seus filhos de quase três meses, Alícia e Max. Os gêmeos pegaram da irmã mais velha, que frequentava a escola, mas tiveram apenas sintomas leves como coriza e tosse. Para a pequena Helena, filha da autônoma Paloma Torbis, de Porto Alegre, a situação foi mais grave. A recém-nascida precisou ser entubada com apenas 11 dias de vida.
"Febre em recém-nascido é muito sério"
O Max da Renata Vanzetto começou a ficar febril na quinta-feira anterior ao diagnóstico. "Passou e voltou, 37,2ºC. No domingo, ele teve febre, fomos correndo para o hospital, porque ele é um recém-nascido. Febre em recém-nascido é muito sério", disse a chef nos stories.
Max foi submetido a exames de tórax, de coração, de meningite, de sangue e, finalmente, o teste do coronavírus. "Foram 24 horas de muita aflição e muito medo", contou a chef. Max ficou cinco dias em observação no hospital. "O que passei não desejo para nenhuma mãe. Cuidem-se, mais do que nunca. Essa doença assusta, separa a família e, às vezes, não tem um final feliz. Não duvidem disso", alertou a chef e empresária, que comanda oito empreendimentos em São Paulo, entre restaurantes, bar e espaço de eventos.
"Minha filha não melhorava, precisou ser intubada"
A situação da autônoma Paloma Torbis, 32 anos, de Porto Alegre, foi bem mais grave. Sua filha Helena nasceu no dia 8 de setembro de 2020, com 40 semanas de gestação e sem nenhuma intercorrência. Dois dias depois, ambas tiveram alta e voltaram para casa.
Três dias depois da alta, porém, Paloma percebeu que a filha estava com a temperatura alta. Ela ligou para o pediatra, que a orientou a tirar algumas peças de roupa da bebê e dar um banho e observar. "Apesar de já ter um filho mais velho, não sabia que febre podia ser tão grave em recém-nascidos", diz. Como a febre não passou, Paloma levou Helena à emergência na madruga de segunda-feira. No dia seguinte, o bebê foi diagnosticado com covid-19.
Helena ficou em observação, mas sua temperatura começou a subir, e ela ficou com dificuldade para respirar. Helena foi então transferida para a UTI. Nos dias seguintes, a saturação do oxigênio dela foi baixando e ela fazia cada vez mais esforço para respirar. Paloma então foi informada de que a filha precisaria de ventilação mecânica. Primeiro, os médicos tentaram aplicar métodos menos invasivos, como o aparelho respiratório CPAP, que é acoplado ao rosto por meio de máscara. Mas, sem obter uma melhora, ela teve de ser submetida a uma intubação.
Paloma e seu marido passaram por vários dias de muita aflição, amenizado apenas pelas correntes de orações e pensamentos positivos recebidos de amigos e até de pessoas que não conheciam, pelas redes sociais. "Ela ficava estável, mas não melhorava. Precisava controlar a pressão, ela chegou a tomar pelo menos cinco medicamentos simultaneamente", diz a mãe. Helena teve pneumonia e desenvolveu um quadro de pneumotórax, que é a presença de ar entre das camadas da membrana que reveste os pulmões, e teve de ser submetida a um dreno torácico para a retirada do ar: mais um procedimento invasivo.
Depois de cerca de uma semana, Helena começou a responder positivamente à ventilação. No dia em que os médicos tiraram a intubação, porém, ela teve uma nova piora, e precisou reabrir o dreno. "Fui do céu ao inferno no mesmo dia", diz Paloma. A mãe passou por tudo isso também totalmente isolada, sem poder sair do quarto de UTI e sem poder ver o filho mais velho, de quatro anos, pois também havia sido diagnosticada com covid.
Aos poucos, Helena foi melhorando até se recuperar e ter alta, depois de 29 dias de internação, sendo que 11 deles passou intubada. Em casa, a bebê voltou a mamar no peito e hoje, aos seis meses, é uma criança saudável, que ainda passa por acompanhamento com pneumologista para detectar possíveis sequelas da doença que possam aparecer futuramente.
"Escola fez bem para a minha filha, mas precisamos pesar os riscos"
Carolina e sua família seguiram a quarentena e todas as medidas de prevenção desde o início da pandemia. "Mas, com a chegada dos gêmeos, a rotina ficou pesada e minha filha de dois anos, Aléxia, começou a sentir muita falta de atenção exclusiva. Então, mesmo com o receio da exposição, optamos por mandá-la de volta para a escola neste ano, no começo de fevereiro", diz.
Em meados daquele mês, a escola enviou um comunicado informando que uma aluna havia contraído o vírus. Na mesma época, a filha de Carolina começou a apresentar sintomas como febre, tosse e coriza. Alguns dias depois, Carolina, seu marido e, por fim, os gêmeos, também desenvolveram sintomas. Passados mais alguns dias, a tosse e a coriza dos gêmeos pioraram, e a mãe os levou ao hospital.
Para Carolina, o pior sintoma foi a obstrução do nariz, já que recém-nascidos não conseguem respirar pela boca. "Vê-los com dificuldade para respirar foi desesperador. Mas, por sorte, a secreção estava apenas nas vias aéreas superiores, nariz e garganta, estava tudo bem com os pulmões deles e não precisaram fazer exames como tomografia", diz Carolina.
O caso dos bebês de Carolina foi leve. Eles não precisaram ser internados e voltaram para casa, onde toda a família está se recuperando. Agora, a professora pretende segurar a filha em casa por um tempo, mesmo considerando que a escola seja um serviço essencial. "Eu vi um resultado muito claro do quanto ir à escola fez bem para a minha filha, mas o cenário da pandemia me fez refletir sobre o que é mais importante", diz. "Não acho que as escolas têm de fechar, mas me pergunto se as crianças da educação infantil dão conta de seguir os protocolos", afirma.
Grande maioria dos bebês é assintomática
Felizmente, Helena escapou da triste estatística: cerca de 420 bebês menores de 1 ano de idade morreram por conta do covid-19 no Brasil desde o início da pandemia até o início de fevereiro de 2021, de acordo com dados do Ministério da Saúde.
Mas, segundo o infectologista pediátrico Marcelo Otsuka, vice-presidente do departamento de infectologia da Sociedade de Pediatria de São Paulo, óbitos ou mesmo casos mais graves de covid-19 em recém-nascidos são muito raros. "A grande maioria dos bebês recém-nascidos que pegam coronavírus é assintomática", diz.
A maioria dos bebês contaminados pega o vírus das mães, já que o contato com elas, nesta fase, costuma ser mais intenso. Mas é importante que todas as pessoas da família: pais, irmãos etc, sigam as recomendações básicas de prevenção, que valem para todo mundo, como praticar distanciamento, evitar aglomerações, usar máscaras e lavar as mãos.
De acordo com o médico, a maior parte das maternidades realiza o teste PCR nas mães antes do parto. Caso o resultado seja positivo, o bebê já é considerado um provável portador do coronavírus. "Nestes casos, mesmo que a mãe use máscara o tempo todo, é muito difícil que o recém-nascido não contraia o vírus", diz Otsuka.
Não há nenhuma evidência científica de que a covid-19 seja mais perigosa para recém-nascidos do que para crianças mais velhas. Em alguns casos o bebê pode precisar de internação e de oxigênio suplementar, mas casos mais graves, com intubação, como aconteceu com Helena, são muito improváveis.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.