Diário sexual do isolamento: meu ano com flerte de máscara e transas online
"Faz quase um ano que a gente não se vê", me escreveu recentemente via Instagram o crush que tive em março de 2020. Foi ele a última pessoa com quem eu transei antes que a pandemia nos provocasse repulsa por quase qualquer pessoa. Há um ano, ele foi embora da minha casa em uma segunda-feira de manhã. Na quinta seguinte, recebi o aviso de que trabalharíamos em casa dali para frente - sim, sou eu de novo, a jornalista de Universa que fez um relato sobre squirting.
Como muitos brasileiros, no começo pensei que em algumas semanas ou, no máximo, três meses, como víamos na Europa, estaríamos livres da covid e prontos para sair de casa novamente. Errei grandão.
Abaixo, relato minhas experiências sexuais - online e na vida real - durante esse ano de isolamento. Teve date físico e preciso dizer que minha consciência não está tranquila em relação a isso. Com mais de mil pessoas morrendo por dia e com os números de contaminação aumentando, sei do risco que corri.
Para equilibrar a culpa, tento seguir alguns protocolos de segurança: encontros em casa, só com quem mora sozinho e, como eu, sai de casa apenas rumo ao supermercdo. E nunca, jamais, participar de aglomerações, eventos ou locais de risco.
O início: perdi a virgindade de sexo virtual
A conversa com o crush que eu tinha engatado rolou até maio do ano passado, ainda na esperança de nos vermos em pouco tempo. Por dois meses, relembramos a pegação e trocamos nudes, mas, com o tempo, a história esfriou. De minha parte, era tanta apreensão, tristeza e medo que meu tesão foi sumindo.
Quando chegou junho, comecei a sentir muita falta de transar. Sabe aquela sensação de inquietação, aquele calor que você sabe de onde vem? Pois então. Entrei no Tinder para pelo menos ter alguma ilusão de date e acabei fazendo sexo virtual com um cara pelo aplicativo mesmo, tamanho o desejo acumulado.
Já vinha usando vibrador e sendo muito feliz, mas sentia falta de interação humana. Na época, com taxas de contaminação tão proibitivas como agora, não ia me arriscar a encontrar alguém. Lembro que a vontade era tanta, dos dois lados, que bastou uma conversa curta para o clima esquentar:
- Oi, e aí, como está sua quarentena?, perguntei ao match.
- Isolado. Sentindo falta de muitas coisas. Beijar principalmente, ele respondeu.
Quando vi, já estava no meu quarto fazendo o que ele propunha: toca seu seio, pega o vibrador, geme. Foi minha primeira vez fazendo sexo virtual. Achei excitante. Me virei com o que tinha e deu certo: desejo saciado.
No dia seguinte, conversamos mais um pouco e trocamos Whatsapp. Nos meses seguintes, mandamos nudes e continuamos nas sacanagens. Cheguei a mandar áudio para ele gemendo.
Um dia estava conversando com um amigo e deixei ele sem respostas porque o boy virtual apareceu. Depois de mais um round de sexting, peguei o celular e vi a mensagem: "Amiga, cadê você? Está transando?". Ele sabia do meu caso online. Ri da normalidade com que passamos a tratar as interações remotas.
Após 5 meses: na primeira transa, a frustração de uma brochada
Com esse boy, inaugurei a modalidade de sexo virtual casual. Daria para continuar, mas, em agosto, eu estava deprimida. Na minha cabeça, o isolamento duraria até julho. Quando terminou o mês e eu via que as coisas só pioravam, me bateu o desespero e comecei a ter crises de ansiedade que me derrubaram. Sexo era a última coisa que eu queria naquele momento.
Tiraria férias em setembro e comecei a analisar a possibilidade de fazer uma viagem para um lugar no Brasil que tivesse taxas baixas de contaminação, com uma boa estrutura de atendimento à saúde e onde morasse alguma amiga para me ajudar, se necessário. Sempre soube dos riscos que corria, mas achei que seria uma estratégia de redução de danos. Era isso ou a depressão tomaria conta de mim.
Escolhi uma cidade do Nordeste e, no dia seguinte à minha chegada, vendo que a situação do lugar estava tranquila e com contaminação em queda, marquei um encontro no Tinder com um morador local. Nos beijamos, mas não dormimos juntos porque eu planejava sair para um passeio bem cedinho.
Nos reencontramos dois dias depois. Eu tinha gostado dele e estava sedenta por um romance. Saímos para beber e eu me senti tomada de alegria quando ele me chamou para ir até sua casa.
A sintonia estava ótima, até começarmos a transar e ele brochar. Eu sei, homens brocham, é muito normal, acontece. Mas poxa, justo agora? Depois de cinco meses de isolamento, com todo o risco mapeado, parecia que tinha perdido uma chance de ouro. Mas era só a agonia de uma frustração.
Na manhã seguinte, enfim, deu certo. O sexo era bom, o cara era ótimo, o cenário era paradisíaco. Ficamos juntos durante toda a minha semana de férias na cidade. Na volta, o romance durou mais um tempo, mas não sobreviveu à distância.
Falta muito, pandemia? Cansei de sexo virtual e encontrei o match
De volta a São Paulo, isolada e com a saúde mental revigorada, voltei para minha rotina de masturbação. A essa altura, tinha me libertado de uns 90% da vergonha e da culpa que toma nós, mulheres, quando nos masturbarmos. Me sentia livre e descobria cada vez mais prazer, me via como dona do meu desejo - uma sensação que o período em que fiquei deprimida tinha me tirado.
Aquele match do Tinder ainda me mandava mensagem e depois de não lhe dar respostas pela quinta vez, resolvi avaliar melhor o caso. Não queria mais sexo online, mas uma conversa, quem sabe uma amizade, por que não? Respondi o "oi, tudo bem?" dele e, para minha surpresa, recebi um convite para nos encontrarmos.
Antes de aceitar, apliquei o questionário da redução de danos: mora sozinho? Está saindo? Encontra pessoas? Segue os protocolos de segurança sempre? Tem algum sintoma? As respostas foram satisfatórias, então tentei avaliar o risco de ele estar mentindo. Então, decidi confiar.
O encontro foi ok. Arriscamos um beijo, meio sem jeito. Evoluímos, o sexo foi ótimo e, depois, nos encontramos mais duas vezes. A gente se fala até hoje e ainda trocamos fotos e vídeos quando bate a vontade.
Paquera de máscara na porta do supermercado e teste positivo
Quando novembro chegou eu já estava com a ppk em chamas, distribuindo todo o meu charme no supermercado. Quer dizer, o charme possível, com os olhos e a voz que a máscara permitia. E foi pelo olhar que conquistei um ficante. Estava na porta do supermercado esperando um carro por aplicativo quando notei um homem me olhando. Nos encaramos e ele veio falar comigo. Mostrei a tela do aplicativo: "Você tem dois minutos". Trocamos telefone e nos encontramos nos dias seguintes.
Com ele não era casual. Nos falávamos o tempo todo. Foi quando comecei a ter sintomas de covid. Avisei ele. Me senti como se estivesse alertando o parceiro sobre alguma IST (Infecção Sexualmente Transmissível), e o teste dele deu negativo. Depois de duas semanas isolada, tensa e com diversos sintomas, me senti melhor. Ele, então, veio passar dois dias comigo.
Na primeira noite, tentei transar, mas a fadiga pós-covid me impedia de fazer muitos movimentos. Mas me empolguei e sentei sobre ele. "Não vai dar", eu disse, reconhecendo o limite do meu fôlego em recuperação. Pelo menos teve noite de conchinha.
No Carnaval, a melhor transa dá esperança de sexo melhor
Meu período após a covid foi terrível, sobretudo emocionalmente. Com crises de ansiedade piores do que as que tive no meio da quarentena, comecei a tomar medicamentos com acompanhamento médico e me isolei de tudo. Em dois meses, me sentia muito melhor.
O desejo voltou com tudo no Carnaval. Era como se meu corpo soubesse que a festa tinha chegado. Mas sair estava fora de cogitação. Já conversava havia algum tempo com um conhecido no Instagram, que respondia meus stories despretensiosamente e com quem já tinha desmarcado date por medo. Ele passou no teste do isolamento e, embalada num pensamento de proteção temporária pós-covid, o chamei para um encontro.
Nos dias anteriores, minhas amigas não aguentavam mais me ouvir falando em gatilho. Até o beijo da Carla Diaz com o Arthur no BBB, que nem foi lá essas coisas, me deixou com tesão.
No meio do date, levantei os braços e pensei: "Meu deus, meu sovaco". Depois de meses em casa e sem a menor intenção de encontrar alguém, eu já tinha desistido de me depilar. Aceitei o fato. No máximo, ele pensaria que sou feminista. Errado não está.
O cara era divertido e inteligente. O sexo foi delicioso, como eu não tinha há muito tempo. Nós dois estávamos muito dispostos a nos entrosar. Fiquei pensando se esse tempo todo em casa pode ter influenciado nossa performance. Secretamente, torci para que a resposta seja sim. Imagina como vai ser quando a gente puder transar sem medo por aí? Já sonho com um diário sexual do pós-quarentena.
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