Conheça a indicada ao Oscar Chloé Zhao: "Sou independente e feminista"
O Oscar esperou 93 edições para finalmente ter duas mulheres disputando o prêmio de Melhor Direção: Chloé Zhao, de "Nomadland" — primeira chinesa indicada na categoria —, e Emerald Fennell, de "Bela Vingança". Antes disso, apenas outras cinco diretoras foram indicadas à maior premiação do cinema: Lina Wertmüller, Jane Campion, Sofia Coppola, Greta Gerwig e Kathryn Bigelow, que venceu a categoria em 2010 por "Guerra ao Terror". O prêmio será dado em 25 de abril.
Além do feito, a asiática nascida em Pequim Chloé Zhao tornou-se, no início de março, a segunda mulher premiada com o Globo de Ouro de melhor direção — a primeira, Barbra Streisand, venceu em 1984. Nessa mesma noite seu "Nomadland" levou o troféu de Melhor Filme.
Seu filme foi baseado no livro da jornalista Jessica Bruder, "Nomadland: Surviving in the Twenty-First Century" (Nomadland: Sobrevivendo à América no Século 21, em tradução livre). O texto mostra a trajetória de famílias americanas que perderam toda a renda com a crise financeira dos Estados Unidos em 2008, e muitas delas passaram a viver como nômades, em vans adaptadas ou casas motorizadas, se movimentando ao longo do ano todo em busca de empregos temporários, principalmente nos grandes galpões da Amazon montados para dar conta do aumento das vendas nas festas de fim de ano.
Esse é o terceiro longa da diretora. O próximo desafio de Zhao será um dos principais filmes da Fase 4 da Marvel: "Os Eternos", com estreia marcada para 5 de novembro e que reúne um elenco formado por Angelina Jolie, Kit Harington e Gemma Chan.
Ciência Política antes do Cinema
Nascida em Pequim, Chloé cursou o ensino médio em Londres e estudou ciência política no Mount Holyoke College de Massachusetts. Mas quatro anos depois, e trabalhando como atendente num bar, ela descobriu que gostava de "conhecer pessoas e aprender sobre suas histórias". Resolveu se matricular no Programa de Pós-Graduação em Cinema da Universidade de Nova York.
Antes de rodar seu primeiro filme, "Songs My Brothers Taught Me" (As canções que meus irmãos me ensinaram, numa tradução livre), que estreou em 2015, Chloé leu um artigo de jornal sobre uma epidemia de suicídio de adolescentes que moravam próximo à Reserva Indígena Pine Ridge, em Dakota do Sul. E viajou ao local batendo de porta em porta para conhecer os jovens locais, montando assim seu roteiro e um elenco não profissional.
"Feminismo está no meu sangue"
Em entrevista ao site "Seventh Row", em 2017, Chloé disse que por ter estudado numa faculdade feminina em Massachusetts, certamente se identificava com o feminismo. Ainda assim, preferia contar histórias sobre homens.
"Obviamente o feminismo está no meu sangue. Eu sou uma pessoa muito independente e feminista. Mesmo assim, estou mais interessada em contar histórias sobre homens do que sobre as mulheres —pelo menos até agora em minha carreira", ela declarou na época.
"Claro, eu acho que é importante criar personagens femininas com mais nuances do que as retratadas pelo olhar masculino, para que nossas filhas possam crescer se vendo autenticamente na tela. Muitas grandes cineastas —e cineastas homens— estão fazendo isso, mas acho que minha vocação está mais em retratar personagens masculinos através de um olhar feminino", ela continuou.
Nessa mesma entrevista, Chloé ressaltou o lado bom de estar fora do radar da grande indústria.
"Se um diretor tem cinco milhões de dólares, ele passa por cima da natureza. Acho que esse é o problema da nossa sociedade moderna. Sentimos que podemos fazer o que quisermos, que estamos acima da natureza. É assim que estamos destruindo a Terra agora. Por ser uma cineasta de cor, não há muitas pessoas jogando dinheiro em mim. E isso acabou sendo uma bênção! Essa limitação humilha a mim e minha visão. Tenho que trabalhar com a natureza. Como resultado, acho que as pessoas reagem muito bem ao filme porque ele parece totalmente autêntico."
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