Conheça a Maria Gotinha: elas falam da experiência como boneco da vacinação
Zé Gotinha é um personagem que vem marcando a infância das crianças brasileiras desde os 1990. O boneco vestido de branco com a cabeça no formato de uma gota foi, durante muito tempo, sinônimo de vacinação no país. Nesta semana, após o ex-presidente Lula citar o Zé Gotinha durante um discurso, pedindo sua volta para a campanha de vacinação contra a covid-19, o saudoso personagem voltou ao imaginário popular — virou meme e até uma versão de mau gosto, com seringa simulando uma arma em punho, feita por apoiadores de Jair Bolsonaro.
O personagem, foi criado pelo artista plástico Darlan Rosa, em colaboração com o Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância e Juventude).
Caso você tenha mais de 35 anos, provavelmente vai se lembrar da votação feita para selecionar o nome do personagem. Campanhas em rede nacional, aparições do boneco em programas de TV, entre outras atividades de divulgação, foram realizadas para que o Zé Gotinha ganhasse o público e a atenção das crianças. E deu certo.
Por causa do nome, geralmente o mascote é associado ao gênero masculino. Mas, o que poucos sabem, é que nem sempre são homens que se fantasiam de Zé Gotinha. Universa encontrou duas mulheres que já se vestiram como o símbolo da vacinação no Brasil.
Aqui, Kátia e Veridiana compartilharam mais detalhes da experiência, além de reforçarem a importância do personagem e do uso de imunizantes para a saúde pública.
"Eu falava que era Maria Gotinha, porque Zé Gotinha é menino"
"Faz muito tempo que me vesti de Zé Gotinha. Fui duas vezes voluntária de campanhas de vacinação, acho que em 1991 e 1992. Eu devia ter 12, no máximo 13 anos de idade. Se eu não me engano, trabalhei por dois anos nas campanhas. Como minha mãe era profissional da saúde na cidade de Presidente Prudente, no interior de São Paulo, eu pedi para ela para participar das ações e fui selecionada.
Andávamos pela cidade em caminhões, em picapes da prefeitura, chamando a população. Depois parávamos em postos de saúde e ficávamos por lá. Sempre tinha mais de uma pessoa vestida de Zé Gotinha, normalmente adolescente. Ficávamos nos pontos de vacinação brincando com as crianças, nos divertindo. A roupa era muito quente, era difícil passar o dia vestida daquele jeito.
Como alguns desses pontos ficavam no centro da cidade, me lembro de uma situação engraçada em que eu e um colega fomos vestidos de Zé Gotinha a um mercado, no intervalo das vacinações, e quando chegamos para provar a amostra grátis de um produto que estava sendo distribuído no local, não me deixaram pegar, achando que eu já tinha passado por lá. Na verdade, devia ser outro Zé ou Maria Gotinha — eu falava que era Maria Gotinha, porque Zé Gotinha é menino.
Ao me lembrar desses momentos, vejo o quanto eles impactaram a minha vida. Tenho 40 anos, sou enfermeira e acho que é ignorância negar a importância da vacina. Vemos por estudos e pela história o tanto de doenças que foram erradicadas por causa de imunizantes.
A vacina é uma arma que conseguimos encontrar no combate de moléstias, como sarampo, rubéola. Fico muito triste e preocupada com quem recusa a importância delas. O pai e a mãe não concordam e quem adoece é a criança." Kátia Augusto Sales, 40 anos, enfermeira.
"Parecia o Zé Fantasminha e as crianças tinham medo"
"Eu atuei como Zé Gotinha em duas campanhas de vacinação, em 2008 e 2009. Foi no período em que tinha 13 e 14 anos. Não teve nenhum processo seletivo, minha mãe é agente comunitária de saúde (ACS) em Nobres, no Mato Grosso, e um dia me ligou perguntando se eu queria ajudar nas ações. Respondi, sem dúvida alguma, que iria.
A ideia do Zé Gotinha era atrair outras crianças para os postos de vacinação, para que elas vissem que tinha alguém com quem brincar e não sentirem medo. As campanhas nacionais de vacinação aconteciam sempre aos sábados. A gente passava o dia circulando por vários pontos de vacinação — em alguns tinha pula-pula, balinha.
Lembro de participar de carreatas em que eu ia em cima do carro acenando para a população. A roupa não era bonitinha, eu parecia mais um Zé Fantasminha — era uma fantasia simples, amadora, que foi encontrada no posto de saúde. Então as crianças tinham mais medo do que apreço. Tinha que me virar bem.
Por causa do nome, ninguém achava que tinha uma mulher por trás da fantasia. E eu acredito que foram poucas que se vestiram de Zé Gotinha, mas eu adorava. Eu fui criada no ramo da saúde. Sei da importância da vacina para as pessoas, e sei também das consequências que a falta dela pode trazer para a população, então é pesado quando vejo críticas à imunização." Veridiana Búfalo, 26 anos, é engenheira agrônoma.
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