Broxada não é o fim: como homens e mulheres podem lidar melhor com isso
"Isso nunca me aconteceu antes" ou "eu devo ter bebido demais" são frases comuns que os homens falam depois de broxar, como um pedido de desculpas ou justificativa. Na maioria das vezes, eles preferem parar o sexo por ali mesmo, de tanto constrangimento. Mas por que deixar que a ereção masculina seja um fator tão decisivo para a transa rolar?
Primeiro, precisamos entender que sexo é pegação, amassos, oral... Vai muuuito além da penetração. Porém, a crença quase geral é contrária: o sexo só é completo quando há penetração ou, então, a penetração é o auge da transa. Essa visão falocêntrica da sexualidade, que é centrada no órgão sexual masculino, entende que a relação sexual começa quando há um pênis ereto e termina com a perda da ereção.
Mas aí chegamos a outra pergunta: e nós, mulheres, como ficamos nessa história?
Uma pesquisa do site OMGYes ouviu 2 mil mulheres e constatou que apenas 18% delas consideram a penetração suficiente para chegar a um orgasmo. Luana**, jornalista, faz parte dos outros 82% e viveu uma experiência recentemente que abriu seus olhos.
"Eu sempre acreditei que o prazer começa desde o beijo e que o que as pessoas chamam de 'preliminares', na minha opinião, já é o sexo em si. Mas de repente me vi em uma situação com um homem, que logo de cara percebeu que não conseguiria ter uma ereção, e quis parar com tudo. Meu primeiro ímpeto foi assumir o papel de 'mãe' e ficar o consolando porque havia brochado. Mas depois fiquei me perguntando: 'porque ele não se esforçou para me satisfazer mesmo sem ereção?'", relata
Essa realidade não é exclusiva de Luana. Muitas mulheres já se depararam com situações em que seu parceiro não conseguiu ter uma ereção e simplesmente entendeu que o sexo tinha terminado. Porém, a falha na ereção não significa o fim da relação sexual. A cultura machista nos faz acreditar nisso e se o homem sofre com a ereção é comum que isso deixe o casal abalado e corte totalmente o clima do sexo, principalmente do lado masculino. Essa frustração e decepção, inclusive, costumam ser levadas para frente, gerando ainda mais ansiedade e preocupação para a próxima vez.
E foi exatamente isso que aconteceu com Luana. Nas próximas vezes que tentou com o mesmo parceiro, ele ficava tão nervoso e afobado que já queria ir logo para penetração, mas não conseguia permanecer ereto e se dava por vencido. "Toda vez que tentava fazer algo que não envolvesse nossa genitais, ele já tentava se masturbar para conseguir ficar ereto. Eu queria falar: 'Esquece a vagina, o pênis! Vamos explorar o nosso corpo, fazer uma massagem e aproveitar o beijo', mas ele estava tão focado nisso que não consegui mudar essa ideia", completa.
De olho no prazer
O fato de Luana e mais de 80% das mulheres não verem a penetração como suficiente para conseguir sentir prazer faz total sentido se entendermos que é o clitóris, que fica fora do canal vaginal, o órgão com maior potencial de prazer no corpo feminino.
Para as mulheres, apenas a penetração não contempla toda a potência sensorial e orgástica. Há um corpo inteiro para sentir e aproveitar na hora do sexo. Se isso fosse explorado, não haveria tantas queixas de mulheres frustradas por não conseguirem ter prazer na penetração.
Priscila**, farmacêutica, viu na prática como a brochada de um parceiro não significa o final da transa e dá a dica: "Na primeira vez que transei com meu ex-namorado ele não conseguiu ficar ereto. Na hora eu estava com muito tesão e queria continuar da forma que fosse. Disse isso a ele e a forma como ele reagiu foi a melhor possível: decidiu focar no meu prazer e explorar todas as áreas do meu corpo. Foi uma experiência tão maravilhosa que começamos a fazer isso mais vezes, deixando a penetração em segundo plano e explorando outras maneiras de sentir prazer".
Já conhece o tantra?
A terapia tântrica não nega a penetração, mas afirma muito mais todo o resto. Assim como pensa Luana, na visão do tantra o que se chama de 'preliminar' já é sexo. O corpo inteiro é um órgão sexual e é possível sentir prazer desde a ponta do dedo do pé até o topo da cabeça.
Para compreender isso no corpo, um ótimo conselho para quem quer começar é não ter pressa. Combinar com o parceiro ou parceira: 'Vamos demorar até chegar nas genitais? Que tal explorarmos os sentidos, lamber e tocar?'. Comunicação é tudo e isso pode mudar a forma como vocês se relacionam!
Fontes: Lua Menezes, escritora e terapeuta sexual; e Paula Napolitano, psicóloga pós-graduada em terapia sexual
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Quero receber*Com matéria publicada em 16/03/2021
** Os nomes citados nesta matéria foram trocados a pedido das entrevistadas
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