Conheça Maia Boitrago, a trancista que faz os cabelos de Iza e Tais Araújo
Quem vê Maiane Boitrago Batista ostentando tranças estilosas nem imagina que seus cabelos crespos foram motivo de insegurança e baixa autoestima durante anos. Hoje ela não só mudou a relação com seu cabelo como ganha a vida trançando famosas como Iza, Lellê, Jeniffer Nascimento e Taís Araújo.
Hoje as clientes de Maia pagam entre 150 a 500 reais para fazer tranças. Boa parte utiliza os penteados para amenizar as texturas diferentes dos fios durante o processo de transição capilar, processo que ela mesma passou. "Deixar de usar química foi um processo bem importante para me entender como mulher negra. E acredito que minhas clientes também buscam se conhecer melhor com a transição. As tranças ajudaram muito no processo, devolvendo a autoestima", diz.
Bico virou profissão
A clientela estrelada e a visibilidade nas redes sociais deram um novo rumo à carreira desta hair stylist carioca de 31 anos, que começou a trançar os cabelos profissionalmente após ficar desempregada em 2015.
Depois de anos trabalhando como recepcionista de um salão de beleza no Rio de Janeiro, Maia precisou achar uma nova fonte de renda. Como já trançava no próprio cabelo, passou a fazer o mesmo nos fios das amigas. E assim, no "boca a boca", acabou conseguindo se sustentar fazendo penteados. E o que era um bico para contornar uma fase difícil se transformou em uma profissão reconhecida. A cantora Iza conheceu Maia nessa fase, antes da fama, aliás.
"A Maia faz meu cabelo desde o início, antes de eu começar a cantar, quando eu fazia box braids. De lá pra cá eu indiquei a Maia para a Taís [Araújo] e ela não parou nunca mais. Ela é praticamente minha irmã e eu fico muito feliz com tudo o que tem acontecido na vida dela. Ela é uma estrela e uma artista incrível", elogia a cantora.
Pouco tempo depois de conhecer Maia, Taís Araújo se encantou com o trabalho da trancista - e não demorou muito até que a hair stylist começasse a circular pelo Projac, na TV Globo, para cuidar dos cabelos da atriz, que se encantou tanto com o talento quanto com o astral de Maia.
"Primeira coisa: as tranças que a Maia faz não doem a minha cabeça e couro cabeludo, para mim isso já é maravilhoso", revela a atriz. "Ela é muito criativa, cuidadosa, tem uma energia muito boa. Criei uma relação com a Maia, adoro estar junto com ela", completa.
Tranças como ferramenta de autoaceitação
Com a pandemia, Maia arrumou um espaço em sua casa para atender às clientes com segurança. Famosas e anônimas que buscam nas tranças uma forma de autoaceitação dos próprios cabelos - assim como aconteceu com ela.
Hoje Maia ostenta tranças estilosas e ama seu cabelo, mas seus fios crespos foram motivo de insegurança e baixa autoestima durante anos. Assim como muitas meninas negras na infância, Maia não sabia lidar com os cabelos volumosos e armados.
Ela conta a Universa que tinha vergonha da própria imagem no espelho e sabia que não se encaixava nos padrões de beleza que via por ai. "Eu me sentia extremamente feia por ter cabelo crespo. Eu só queria esconder meu cabelo e, assim, acabei me escondendo também", conta.
Fazer tranças para camuflar os fios afros foi o primeiro passo para o autoconhecimento. Ela aprendeu sozinha, trançando os próprios cabelos. Mas só percebeu que estes penteados poderiam realmente fazer a diferença na sua vida e de outras mulheres quando passou por uma transição capilar.
"Eu comecei a transição sem saber o que era transição. Comecei a usar tranças e um dia resolvi parar de passar química, eu estava curiosa pra saber como era o meu cabelo. Foi um processo bem importante para me entender como mulher negra e foi uma das portas para eu começar a transição de dentro para fora", conta.
Símbolo de beleza negra
Símbolos da ancestralidade negra, as tranças nagô, rasta ou mesmo as soltas em diversos tamanhos e estilos estão entre as queridinhas das mulheres que buscam pela trancista. Penteados práticos, fáceis de manter e que agregam toda a história e beleza da mulher preta. Para Iza, muito mais que um resgate da ancestralidade, as tranças também fazem parte da cultura hoje em dia.
"É importante a gente saber de onde vem cada penteado, mas, ao mesmo tempo, torná-los cada vez mais comuns e usuais. Quando eu faço o cabelo com a Maia, quero que as meninas pretas me olhem e tenham vontade de fazer igual e se sintam lindas com o cabelo que têm", diz a cantora.
Maia concorda com a artista e cliente. Acredita que trançar o cabelo sempre foi muito mais que estética: os penteados afros se tornaram referências de autoafirmação, poder e força. E podem ser vistos também como ato político.
"Se eu tivesse conhecido alguém na infância ou adolescência que me mostrasse o quanto o meu cabelo é bonito e o quanto ele dizia sobre mim, acho que seria uma mulher mais segura", revela. "Olhando para trás, acredito que faço meu trabalho com tanto amor por saber que outras mulheres estão passando pelo mesmo que passei. Rola uma empatia e, principalmente, acolhimento", finaliza.
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