Após gerenciar obras por 20 anos, arquiteta decidiu criar brincos e colares
Se o pneu da bicicleta estourava, era em casa mesmo que ele era consertado. Também era em casa que os cabelos eram cortados, as roupas feitas, as decorações das festinhas de aniversário elaboradas. "Cresci no meio dessa cultura do faça você mesmo", diz Janaína Dutra. E foi assim que, ainda menina de escola técnica no Recife, ela desembestou a fazer os acessórios que queria usar — já que achava caros os que via nas vitrines.
Mas aquela artesã em potencial acabou virando arquiteta e trabalhou com análise e gerenciamento de obras por duas décadas. "Lidava com orçamentos de milhões. Nada a ver com criação."
Como acontece com tantas mulheres, foi uma gravidez — a do segundo filho — que a fez repensar a carreira. Cansada do ambiente de trabalho estressante e de ter pouco tempo para a filha pequena, Janaina viu a ideia de empreender começar a pipocar na sua cabeça.
Demissão: um esperado empurrão
"A idade chega e a gente vê que a vida não é só isso. Queria qualidade de vida."
E, então, depois que o caçula nasceu, uma suposta má notícia acabou virando o pontapé para a sonhada mudança. A empresa em que Janaína trabalhava estava para fechar e ela foi demitida, assim como todos os seus colegas. "Isso só agregou. Era o empurrão que eu estava esperando", diz a hoje empreendedora de 41 anos, mãe da Ana Luiza, 10, e do Antonio, 3.
Daí surgiu, em 2018, a marca de brincos e colares Cria, que ganhou o nome em homenagem aos rebentos de Janaína. De um quarto em sua casa, com apoio da família, mas "sem saber o que estava fazendo", ela começou a confeccionar as peças minimalistas e coloridas com um objetivo ao mesmo tempo simples e grandioso: mostrar para mulheres reais que é fácil se sentirem mais bonitas do jeito que elas são.
No novo negócio, ela aproveitou os conhecimentos da arquitetura sobre cores, materiais e proporções. E da experiência com gerenciamento, se valeu do know-how sobre fornecedores e finanças. Começou a vender suas criações em eventos e lojas colaborativas. Um sucesso. E, então, veio a pandemia.
Na pandemia, feito é melhor que perfeito
"As lojas fecharam e as vendas zeraram", diz Janaína que, como outras muitas mulheres, acumulou as funções de professora, faxineira, cabeleireira e até médica durante o isolamento social.
Sem vender nada e confinada, disparou a fazer cursos para aprender a migrar seu negócio físico para o meio virtual. Em abril, já vendia suas crias por Instagram, WhatsApp e Facebook. "Fiquei insegura, mas não tive medo. Agi rápido. Não tinha muita opção. Apostei no lema 'feito é melhor que perfeito'."
No processo de adaptação forçada, ela ganhou a sorte grande ao encontrar um grupo virtual de pequenos empreendedores locais de Recife que decidiram dar as mãos — via WhatsApp — para enfrentar os perrengues da pandemia. No grupo, que ganhou o nome carinhoso de Empresas Afetivas, esses comerciantes trocam dicas e contatos, se juntam para fazer pedidos grandes com custos reduzidos e dividem informações sobre cursos e feiras virtuais.
Tudo a gente compartilha. Ninguém está só. A gente faz parcerias para sobreviver e se fortalece pra não desanimar."
Com uma ajuda aqui, um apoio acolá, ela retomou as vendas com tudo.
"Não quero romantizar a crise"
Apesar do susto, Janaína diz que a mudança para o comércio virtual trouxe uma vantagem: criar uma relação mais próxima com as clientes.
"Não quero romantizar a pandemia. Sei que muita gente teve que fechar as lojas, muitos perderam o poder de compra, mas eu acabei ganhando a possibilidade de conhecer melhor quem gosta do meu produto."
As vendas virtuais rendem muito mais feedback e, no tête-à-tête das redes sociais, ela acabou arrebatando freguesas com fidelidade de colecionadora. "Elas me mandam fotos com as peças, mostrando 'Olha aqui as minhas crias'. Nas lojas físicas, dificilmente eu teria esse contato tão próximo."
Beleza de quarentena
E como é trabalhar no ramo da moda e da vaidade em tempos de pandemia e confinamento? Muitos pensariam que um negócio como o de Janaína estaria fadado ao fracasso quando muita gente enclausurada adotou o pijama como look de home office.
Mas ela garante que as mulheres compram suas peças para ficar em casa mesmo. Umas, ela conta, querem se arrumar para reuniões de trabalho. Outras, para lives. "E, tristemente, algumas pessoas continuam saindo..."
O lado bonito disso tudo, diz Jana, é que suas peças vêm sendo dadas como presentes — como um afago e uma presença possíveis em meio a tempos difíceis de distanciamento social.
Como conselho a quem passa por dificuldades e tem que se adaptar pra não perder o bonde ou fechar a lojinha, ela diz que o importante é estudar sempre e ficar perto de quem está numa situação parecida. "Sempre converso com outros empreendedores, com quem domina o negócio. Pergunto mesmo. E as pessoas são muito solidárias", diz.
No caminho, Jana encontrou pedras, mas também fez várias amigas empreendedoras. "Vai todo mundo se empurrando. Uma hora, você empurra. Na outra, é empurrada. Não tem escolha. Tem que correr atrás."
Este conteúdo é resultado da parceria entre Facebook e Universa no projeto #CompreDelas, de incentivo a mulheres empreendedoras
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