Sthefany Brito: "A maternidade dói, é difícil e não devia ser romantizada"
Mãe de primeira viagem há exatos cinco meses, a atriz Sthefany Brito diz que consegue hoje substituir as lágrimas da dor que sentia nos primeiros 20 dias amamentando Enrico pelo choro de emoção ao ver a criança fazer carinho em seu rosto enquanto é alimentada. Ela ainda celebra outro feito: aceitar —e gostar— mais do corpo. Recentemente, usou biquíni pela primeira vez após dar à luz, sem se importar mais com a barriga que, ela explica, demorou a diminuir.
"Já deixei muitas vezes de ir à praia, não pelo peso, porque sempre fui magrinha, mas não me sentia bem com as estrias que já existiam muito antes da gravidez, com uma celulite, uma barriga que não estava tão definida. Hoje me arrependo muito dessa cobrança tão cruel comigo mesma".
Aos 33 anos, Sthefany conta que muito da culpa que ela e outras mães sentem se deve à romantização da maternidade, e por isso decidiu compartilhar as dores e delícias de cada momento com a família para seus 1,8 milhão de seguidores no Instagram
"Vejo muitas mulheres sofrendo por essa idealização, romantização que não deveria existir. Pode ser famosa, não famosa, jovem, mais velha, branca, preta: é tudo igual. Dói e é difícil do mesmo jeito", ela afirma.
Veja trechos principais da conversa da artista com Universa.
UNIVERSA: Você celebrou, recentemente, o fato de ter colocado biquíni pela primeira vez após o parto. Como se sentiu ao se olhar no espelho?
Sthefany Brito: Grávida (risos). Tenho usado maiô desde o nascimento do Enrico, e como tem feito muito calor no Rio de Janeiro, muito sol, estava ficando com a marca. E falei: "Quer saber? Já passou da hora de botar um biquíni". E foi assim que aconteceu. Tem dias que eu me olho e falo: "Tá ótima". E tem dias que me olho e falo: "Tenho que correr mais atrás, treinar mais, tentar de repente me alimentar um pouco melhor para o corpo voltar". Mas estou tendo muito mais empatia por mim, pelo meu corpo, por esse momento da minha vida. Então daqui para frente só uso biquínis. E estou me sentindo muito mais leve, também, porque toda vez que compartilho alguma coisa da minha vida, da minha maternidade nas redes sociais, recebo tanta mensagem de mulheres me agradecendo porque se identificam. É bom para elas, mas é muito melhor para mim, porque me sinto muito acolhida.
Você já teve esse tipo de questão antes, de colocar maiô ou mesmo nem ir à praia por vergonha do seu corpo?
Sim. Durante muito tempo. Como eu cresci trabalhando e sendo uma pessoa pública, sempre me cobrei muito. Nem eram as pessoas ao meu redor. Já deixei muitas vezes de ir à praia, não pelo peso, porque sempre fui magrinha, mas não me sentia bem com as estrias que já existiam muito antes da gravidez, com uma celulite, uma barriga que não estava tão definida. Hoje me arrependo muito dessa cobrança tão cruel comigo mesma. Mas é uma questão de amadurecimento mesmo, de tempo que a gente vai vendo o que realmente vale a pena na vida.
Já passou fome, ou passou por procedimento doloroso para ter o corpo dito padrão?
Nunca cheguei a passar fome, mas claro que na adolescência a gente nunca está satisfeita. Se tem o cabelo enrolado, quer ter liso, ou se tem liso, quer enrolar, se está acima do peso, quer emagrecer... Mas já fiz dietas malucas, já fiquei muito tempo sem comer sem supervisão. Uma vez pararam o estúdio para eu almoçar.
Numa brincadeira com os fãs na sua rede, você deu a entender que estava sem libido, o que é normal acontecer após o parto. Mas é algo que te preocupa ao ponto de ter procurado ajuda?
Jamais. Primeiro de tudo, tenho uma relação onde, acima de qualquer coisa, a gente é muito amigo e parceiro. E a gente conversa muito. Acho que isso é a base fundamental que faz o nosso relacionamento dar tão certo. Não existe nada de tabu. O que estou sentindo é falado, o que ele sente também, e assim a gente troca. É mais do que normal esse momento. É muita mudança, mas não está sendo um problema, e nunca será a partir do momento que a gente tem muita abertura um com o outro. E aí é o famoso "quem quer dá um jeitinho", né? Não tem segredo: é conversar. Acho que o combinado não sai caro. As coisas têm que ser esclarecidas, principalmente nesse momento em que a mulher está ali com os hormônios todos desregulados, com um corpo ainda tentando voltar, um neném que está todo mundo conhecendo e se entendendo.
Mesmo em tempos mais feministas, você acha que a maior parte da responsabilidade ainda recai na mulher?
Eu acho que não tem regra. Assim como cada relacionamento funciona de uma maneira, essa questão também é muito pessoal. Tem homem que faz questão de pagar as contas de casa, e outros que querem dividir, como tem mulher assim também. Não existe certo e errado, assim como cada casa tem uma rotina. Acho que nesse quesito cada relacionamento vai ver o que funciona melhor para cada um.
Como mãe de menino, já se pegou pensando ou mesmo pesquisando como abordará com ele questões como igualdade de gênero, o respeito às mulheres?
É só o que eu penso. Assim que descobri que era um menino, a minha preocupação é só essa. Cresci ouvindo minha mãe falar para meu irmão: "Imagina se fizesse com a sua irmã", quando ele fazia alguma coisa que não era muito bacana. Quando você tem uma outra mulher na família, consegue usar esse exemplo. Uma das maiores preocupações é dele ter caráter e saber respeitar não só a mulher mas qualquer humano. Converso muito também com meu marido em relação à criação, sobre o quanto é complicado criar, educar. Procuro me informar muito sobre como abordar a criança, como colocar isso na vida dela.
Você teve muita dificuldade em amamentar seu filho no início, por conta das dores. Foi a maior que você sentiu até aqui?
Sim. O maior perrengue, com certeza, disparado, foi a dor que eu senti no seio. Ficou muito machucado e precisei de bastante ajuda para poder continuar, e doeu nos primeiros 20 dias. Depois passou. Ultimamente sinto um pouquinho de dor porque ele está maior, mama com mais força, sente mais fome, é guloso, mas nada que se compare ao que eu senti no início. E está tudo certo. Graças a Deus eu pretendo amamentar ele mais um tempinho ainda. Consegui engrenar bem na amamentação, e agora é um momento muito prazeroso e muito nosso. Ele me olha no olho, já faz carinho na minha boca. É muito gostoso ver como esse momento vai se tornando tão especial. Às vezes choro amamentando. É indescritível e muito mágico.
Dizem que ser mãe é sentir culpa. O que exatamente você sente?
Culpa (risos). E é tão inocente que quando você vê está num conflito. É culpa desde uma mãe que não conseguiu amamentar até a que conseguiu mas não conseguiu amamentar tanto. É sempre uma cobrança muito grande da maternidade, e digo por mim mesma, porque me baseava muito no que via nas redes sociais, uma maternidade muito romantizada e idealizada. Via fotos lindas, maravilhosas das mães amamentando seus filhos, e aí no começo, quando meu peito começou a ficar muito machucado e aquele momento realmente foi ficando muito difícil para mim, me sentia culpada. Falava: "Não é possível que todo mundo consegue só eu que não". E agora que as mamadas estão ficando menos espaçadas, já começo a pensar: "Será que ele está com fome?", ou "Será que não estou me alimentando bem?". Pronto, minha culpa de novo. Vejo muitas mulheres sofrendo por essa idealização, romantização que não deveria existir. Pode ser famosa, não famosa, jovem, mais velha, branca, preta: é tudo igual. Dói e é difícil do mesmo jeito.
O que mais te surpreendeu, positiva e negativamente, na maternidade?
Positivamente: acho que todo mundo falava que eu veria um amor indescritível. É realmente isso. Já tentei, em muitos momentos, explicar o que estou sentindo. As palavras não alcançam a dimensão do que eu sinto. Ele está me olhando e quando vejo estou chorando. Ele toca na alma. É uma coisa avassaladora, surreal. E negativamente, voltando de novo ao assunto da maternidade ser romantizada, no meu caso, foi o início da amamentação, que foi bem difícil. Eu não esperava e me surpreendi e por isso comecei a dividir com as pessoas. Não que tenha sido negativo, mas foi uma coisa inesperada para a qual não estava preparada. Mas por outro lado foi maravilhoso ter acontecido para poder compartilhar com outras mulheres e até ajudar.
Você teve o seu filho em meio à pandemia, em que o sentimento de solidão e isolamento é maior. E dizem que a maternidade já é solitária mesmo, apesar de a mulher ter seu companheiro, sua rede de apoio. Como está sendo esse isolamento para você?
No início foi bem difícil. Descobri a gravidez assim que a pandemia toda começou, e sempre imaginei como seria esse momento na minha vida, com todas as minhas amigas. Acompanhei muito a gravidez da maioria, mas elas não puderam acompanhar a minha pessoalmente, e foi bem frustrante. Sempre imaginei saindo com elas, curtindo a família vendo a barriga crescer, e tinha vários looks na cabeça que eu usaria, para botar o barrigão pra jogo. E isso não aconteceu. Foi bem difícil não poder compartilhar esse momento tão especial com as pessoas que eu mais amo. Mas por um outro lado, depois de um tempo, claro, analisando essa situação, foi muito bom também porque pude estar mais em contato com meu marido. Ele trabalha muito fora, então a gente acabou ficando muito mais junto, e ele acompanhou muito mais de perto a gravidez. Quando o Enrico nasceu, a minha esperança era que a pandemia já tivesse acabado e que a gente poderia encontrar todo mundo, o que também não tem acontecido. Isso me deixa bastante triste, porque ele está numa fase de conhecer, de perceber as coisas, as pessoas, e ele não tem quase nenhum contato com criança. Mas se Deus quiser logo todo mundo estará brincando feliz.
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