Manda nudes: como eles transformaram suas selfies eróticas em negócio
Troca de nudes com o crush já virou algo comum no flerte no novo milênio — ainda mais em tempos de distanciamento social. Mas tem gente indo além na brincadeira e ganhando dinheiro vendendo selfies sensuais.
O comércio de conteúdo erótico exclusivo é cada vez mais comum. Os packs de fotos sensuais são a forma mais simples de começar. Geralmente, quem comercializa esse tipo de material cria álbuns privados em drives de compartilhamento de arquivos, como Google Drive, Google Fotos e OneDrive. A divulgação é feita nas redes sociais e Instagram e Twitter são as favoritas. O valor é variável e depende da quantidade de fotos e vídeos presentes no pack, costuma ser entre R$ 20 e pode chegar até R$ 100, se a venda for feita para gringos os valores podem ser maiores, pois eles pagam mais.
Para o pagamento, plataformas como Paypal e PicPay são comumente escolhidos, pois com eles não é necessário fornecer dados privados. E depois da venda é só compartilhar o link. Há alguns sites que permitem esse tipo de comércio além do Only Fans e do Câmera Privê, mas eles costumam ser burocráticos e, claro, cobram uma porcentagem do valor.
Universa conversou com alguns desses criadores de conteúdo erótico para saber de suas experiências.
"Ganho dinheiro e ainda gozo até 7 vezes por dia"
Mrs Venus, Teresópolis (RJ), tem 24 anos e começou a tirar selfies a partir de um processo de aceitação e amor-próprio. As fotos foram rolando com cada vez menos roupa, e foi se acostumando a nudez do seu corpo, segundo ela, fora do padrão.
Na sequência, passou a vender packs de fotos sem roupa. Com o retorno e o sucesso, os amigos sugeriram que ela virasse camgirl e, apesar da timidez, a curiosidade falou mais alto. Camgirls são modelos de webcam que realizam serviços sexuais em troca de dinheiro. Mrs Venus faz isso desde 2019 mas há seis meses intensificou as atividades e hoje trabalha todos os dias no site Câmera Prive.
No site, as modelos entram no chat e esperam que os clientes fiquem online e peçam para fazer chats privados com elas, pois o ganho delas é por minuto em cada chat. Para Mrs Venus, a espera entre os clientes é a única parte entediante do trabalho, ainda assim ela acredita que compensa e muito. "Eu realmente me encontrei como camgirl, eu sou feliz. Ganhar dinheiro deveria ser pra todo mundo", diz.
Em dias movimentamos ela faz cerca de sete chats privados, nos quais interage individualmente com os clientes - geralmente homens - e adora. "Num dia bom, gozo umas seis ou sete vezes, num dia ruim deve ser umas três vezes", diz e completa. "No final todo mundo sai feliz, porque eu não faço uma coisa robotizada, sempre que eu faço o meu eu gozo de verdade", afirma.
Além do ganho em prazer, ela tem conseguido se sustentar com esse trabalho. "Não compro as coisas mais caras, mas até o momento tem pagado as minhas contas", pontua.
Atualmente Mrs Venus mora sozinha, mas antes morava com a família, que sabe o que ela faz desde o início. "Quando comecei, já fui bem aberta e disse 'estou tirando fotos peladas na internet, se vocês virem alguma coisa por aí pode ser eu mesma'", e graças a esse posicionamento não encontrou resistência de familiares ou amigos.
"As pessoas enxergam a nudez como algo hiper sexualizado. Mas não faço programa"
Felipe, 28 anos, é fotógrafo retratista, produtor audiovisual, criador de conteúdo digital, publicitário, modelo, designer e artista circense.
Mas nessa pandemia o que tem garantido o seu sustento é o site de conteúdo adulto mesmo. "Está sendo a minha principal fonte de renda na quarentena. Comecei a produzir muito autorretrato porque não tinha clientes para fotografar. Eu já tinha muito trabalho com nu artístico e fotografia sensual. E como essas imagens não podiam ir para o Instagram pela censura e muita gente me pedia essas fotos, comecei a disponibilizar um link do Google e fazia packs". Na sequência, também começou a criar fotos e vídeos explorando a sua nudez para o site Only Fans.
Ele tira um dia por semana para produzir as fotos e vê no Only Fans uma forma de expressar toda a sua criação artística sensual sem tarjas. Inclusive considera esse como o seu principal diferencial: fazer um material com conceito e preocupação estética.
Ele está contente com o trabalho que faz rotineiramente desde abril passado, mesmo assim eventualmente algumas situações o chateiam, como por exemplo lidar com as pessoas e seus comentários. "Tem dias que eu acordo e tem uma mensagem perguntando se eu faço programa. Não faço. Sei que as pessoas enxergam a nudez como algo hiper sexualizado, ser biscoiteiro numa rede social atrai pessoas escrotas".
Com isso, Felipe procura não pensar muito em como será a recepção para o seu trabalho, para evitar a autocensura. "A pornografia é muito malvista, é toda uma construção social. A sociedade foi criada com essa concepção do pecado, demonizar o corpo nu, demonizar a liberdade, e com o governo que a gente tá fica ainda mais difícil", finaliza Felipe.
Da depressão à criação de conteúdo erótico
Ellabar tem 25 anos e começou vendendo pack de fotos sensuais porque precisava de dinheiro. "Eu trabalhava com carteira assinada numa empresa e me afastei por depressão. Durante a licença, comecei a vender os packs. No início, era por dinheiro mesmo, hoje em dia eu gosto, nessa pandemia não tô sendo obrigada a sair de casa e ainda tenho tempo para estudar", diz a gaúcha de Canoas.
Ela não tem vergonha nenhuma de trabalhar com conteúdo sexual, conversa com amigos e familiares sobre o seu dia a dia e teve um único problema, logo que começou no mercado: um namorado que não aceitava o que ela fazia. "Terminei o meu relacionamento e continuei o meu trabalho", lembra. No entanto ela admite, sim, que é difícil emendar um relacionamento. "Muitas colegas reclamam que com o nosso trabalho é difícil namorar. Eu até conheci muita gente que acha legal e apoia o meu trabalho mas não namorei mais depois".
Recentemente ela se formou no curso de Fotografia e pretende mudar de estado no final do ano, só não pensa em parar com a produção de conteúdo erótico e se dedica diariamente ao trabalho que faz. "Na "cam" eu fico umas seis horas, porque eu entro de madrugada, eu crio conteúdo pro Only Fans dois dias por semana e vou postando, posto no mínimo umas quatro vezes ao dia e daqui dois meses entra o meu segundo set (conjunto de fotos em um ensaio) no [site] Suicide Girls."
A produtora de conteúdo também tem uma opinião incisiva sobre pornografia. "Muitas pessoas comparam a gente com pornografia mainstream, eu vejo de uma forma diferente, comprando de nós, os caras estão adquirindo da criadora diretamente, não tem exploração, é a gente mesmo que cria, no fim a gente combate a pornografia comum e a exploração dos sites", argumenta.
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