"Ppk explodiu": como vídeo sobre infecção na vulva virou fenômeno do Tiktok
"Depois de sentir muita dor, foi como se a minha ppk tivesse explodido": é assim que Anna Clara Moreira, de 24 anos, resume a experiência de ter passado por uma bartolinite, doença causada pela infecção em uma das glândulas da vulva.
Anna trabalha como atendente e produz conteúdo de beleza e moda nas redes sociais, mas pouco depois de ingressar para o TikTok decidiu postar um relato bem-humorado de quando encarou a doença, em 2018.
Ela explica que passou horas em uma rodoviária, vestindo uma calça apertada, sem ir ao banheiro. No dia seguinte, sentiu incômodo para fazer xixi e pensou que pudesse estar com infecção urinária. Horas depois, precisou ser hospitalizada com dor e inchaço na vulva. Lá, tomou medicações na veia e foi para casa. Na manhã seguinte, aconteceu o que ela não esperava: o pus acumulado na região inflamada literalmente explodiu.
O vídeo viralizou e hoje tem mais de 7 milhões de visualizações. A Universa, Anna relembra o quanto se assustou quando percebeu o que estava acontecendo. "Quando me dei conta, um dos lados estava três vezes maior do que o outro. Achei que poderia se tratar de um problema sexualmente transmissível. Demorei para ir ao pronto-socorro porque tive vergonha de procurar ajuda", conta. Chegando no hospital, não conseguia sentar e nem ficar parada, de tanta dor.
Segundo a ginecologista Mariana Rosário, "a glândula incha e, por causa disso, um dos lados da vulva fica significativamente maior do que o outro. Ao apalparem ou verem a imagem no espelho, muitas mulheres pensam que se trata de uma condição grave, como um câncer, por não terem conhecimento sobre a doença".
Apesar dos sintomas agudos e desconfortáveis, que requerem intervenções urgentes para aliviar a dor, não se trata de uma doença agressiva: a maior parte das mulheres, depois do tratamento, retoma completamente as atividades e a vida sexual. A seguir, a médica esclarece mais sobre o assunto:
O que é bartolinite? Quais os sintomas?
Trata-se da infecção de uma das glândulas de Bartholin, responsáveis por secretar a lubrificação feminina. Cada mulher possui duas delas, uma de cada lado, próximo da entrada do canal vaginal. Por serem muito pequenas, não conseguimos enxergá-las. No entanto, se uma delas entope, começa a acumular um líquido viscoso no seu interior e incha, formando um cisto. "Conforme esse cisto cresce, a mulher consegue apalpá-lo e ele pode sentir desconforto durante as relações sexuais", explica a Mariana.
Até esse ponto, a condição não é considerada uma doença. A bartolinite só se desenvolve se a região com o líquido acumulado infecciona. "A região íntima tem muitas bactérias acumuladas. Em geral, essas bactérias são próprias do corpo e não causam problemas. No entanto, ao se depararem com o cisto, elas podem encontrar um ambiente favorável para se proliferarem. Quando isso acontece, a glândula inflama: incha ainda mais, pode ficar avermelhada, quente e dolorida a ponto de a mulher não conseguir se vestir, sentar ou se limpar. Dependendo do nível de infecção, ela também pode apresentar febre", diz.
Causas desconhecidas
Não se sabe os motivos pelos quais a glândula entope — o que os médicos sabem é que não se trata de uma condição relacionada ao sexo. "Mesmo meninas mais jovens, que nunca tiveram relações sexuais, mas que já menstruam, podem desenvolver o problema", afirma. Nas crianças não é comum acontecer porque ainda não passaram pela fase de maturação sexual e, portanto, as glândulas ainda não estão completamente desenvolvidas.
Algumas mulheres, como Anna, associam o aparecimento da doença ao uso de calças muito justas ou de calcinhas desconfortáveis. A médica explica que essas não são as causas do problema, mas que podem ser estopins para que ele seja notado. "Caso a mulher já esteja com o cisto formado, o uso dessas roupas pode aumentar o incômodo", diz. Além disso, essas peças abafam a região, o que não é saudável. "É sempre aconselhável que as mulheres passem pelo menos algumas horas do dia sem calcinha, pois isso ajuda a prevenir corrimentos e outros problemas ginecológicos", diz.
Infelizmente, passar por essa experiência uma vez não é garantia de que a mulher não passará por ela novamente. "Já atendi casos de mulheres que tiveram o quadro repetidas vezes. Quando isso acontece, o tratamento mais indicado é a cirurgia de retirada da glândula", aponta.
Tratamento da bartolinite
Por se tratar de uma condição bastante visível, a bartolinite não precisa de exames para ser diagnosticada. Uma vez identificada, a mulher recebe medicações para alívio da dor, da inflamação e de combate à infecção. "Caso exista um abcesso, ou seja, uma ponta de pus semelhante a de uma espinha que está pronta para ser estourada, os profissionais da saúde recomendam que a paciente se submeta a uma drenagem: um procedimento realizado no centro cirúrgico, com anestesia, para retirar o acúmulo de líquido e limpar a região". Na ausência do abcesso, somente os remédios costumam ser suficientes para resolver o problema.
No caso de Anna, ela optou por não drenar a glândula e foi para a casa. "Porém, como a região já estava muito cheia de líquido, eu dormi e, quando acordei senti vontade de espirrar. Ao espirrar, o inchaço explodiu. O líquido de dentro escorreu e a dor passou quase que imediatamente", diz. Nos casos em que a drenagem não é feita e que a região está com muito pus, a "explosão" pode mesmo acontecer. Com ela, a glândula retorna ao tamanho normal e a pressão é aliviada, por isso a dor diminui consideravelmente. No entanto, a mulher deve continuar tomando os medicamentos pelo tempo indicado pelo médico, para que a região não infeccione novamente.
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