É difícil pedir o que quer no sexo? Elas contam como abandonaram a vergonha
Falar ao parceiro ou parceira o que você curte no sexo tem tudo a ver com o prazer que você vai sentir. A gente não pode colocar no outro a responsabilidade do nosso orgasmo. Sexo é troca. Então, além da química e da vontade de transar, o ideal é abrir um canal de comunicação, sem melindres.
Tudo bem que, às vezes, dá para deixar as palavras de lado e guiar e ser guiada com gestos. "Uma das principais queixas que recebo, por exemplo, é que o cara não sabe onde é o clitóris e acaba fazendo sexo oral ou mais pra cima ou mais pra baixo. Rola de você mudar a posição do quadril, ajudar com a cabeça. Isso vai chamar atenção e ele pode se ligar, mas vai depender do nível de resistência dele. Caso contrário, será preciso deixar bem claro", fala Roberta Struzani, sexóloga e fisioterapeuta uroginecológica. Por isso, uma comunicação clara é o caminho mais fácil para conseguir exatamente o que se quer. Mas falando assim parece fácil, né?
Roberta fala bastante em seu perfil no Instagram (@robertastruzanioficial) sobre reconsagração do ventre e pompoarismo, técnicas que podem ajudar na autoconfiança e, consequentemente, dar coragem de falar do que curte e do que não curte na cama. "Tanto em uma relação casual quanto em uma duradoura, emoções profundas estão envolvidas durante o sexo, muita coisa pode vir à tona. Então, para não abalar a segurança de ninguém, melhor falar com carinho, orientar: 'gosto assim', 'porque você não tenta desse jeito'... Assim, vocês vão construindo juntos", diz Roberta.
Como falar sem magoar, eis a questão
"O sexo é um momento de vulnerabilidade, de superexposição, e não são só os corpos que estão lá, são histórias", diz a terapeuta sexual Maria Cecília, que compartilha seus conhecimentos no @mariasexcilia. Por isso, é importante ter cuidado ao soltar o verbo. Maria Cecília afirma que a melhor forma é ser você mesma e conhecer o outro. E pode, sim, ser difícil. E pode, sim, levar um tempo.
Muitas mulheres precisam também combater ideias inconscientes e machistas. É sempre bom lembrar que você tem o direito de ter um sexo prazeroso, que tem direito a gozar e não só o parceiro. Outra dica: para chegar lá, é preciso descobrir exatamente o que te dá prazer, para saber o que vai pedir. Para isso, vale tudo "Se masturbar, exercitar a fantasia, pensar e notar o que a deixa mais excitada assistindo um filme, vendo imagens sensuais ou ouvindo contos eróticos, por exemplo", diz Maria Cecília. Além de repertório, todo o conhecimento também vai deixá-la mais sexual e confiante.
Universa ouviu três mulheres que contaram como deixaram a vergonha de lado para ter mais prazer:
"Eu e meu marido casamos virgens e aprendemos juntos"
"Desde o começo do relacionamento, eu e meu marido temos uma troca muito bacana nesta questão de conversar sobre sexo. Nós casamos virgens, então aprendemos juntos. A gente aprendeu tudo junto na prática, mas ele tinha mais conhecimento teórico. Sempre tive muitos tabus sobre sexo me rondando, pois minha família não falava sobre o assunto, já na família dele, sim. Então, criamos uma relação de companheiros, de falar do que quer e do que gosta desde o começo.
Depois veio a maternidade, atípica, e foi bem complicado para mim. O cansaço tirou muito da minha libido. Aí, ele passou a se esforçar de todo jeito, com surpresas, como massagem. E nessas horas eu aproveito para dizer quais locais estão bons de serem tocados, onde fico mais excitada. Ele me ajudou também na questão de olhar o próprio corpo, de me masturbar.
Ele que me ajudou, pois eu tinha muita vergonha de me masturbar: primeiro conversando sobre, falando da importância da gente se conhecer, depois me mostrando vídeos, etc. Com o tempo, acabei me soltando mais e passei a não ter mais vergonha também de usar lingerie ou mesmo transar com a luz acesa. Hoje, falamos abertamente sobre o que queremos" Gabriela Pereira, 33 anos, estudante de Psicopedagogia, Sorocaba (SP)
"A masturbação me ajudou a saber o que me agrada mais"
"Perdi a virgindade aos 19 anos e na época não tinha maturidade para falar nada na cama. Com o primeiro namorado eu transava e não gostava muito. Mas não tinha referência, então pensava que era aquilo mesmo, meio sem graça. Como eu era mais fechada, cheguei a pensar que o problema era comigo e não conversava sobre o assunto nem com minhas amigas.
Quando terminamos, fiquei com outras pessoas e passei a ver que poderia ser diferente. Comecei a me masturbar para saber o que me agradava mais. Ao mesmo tempo que passei a ter mais noção do corpo, percebi onde ficavam os pontos que me davam mais prazer. Passei a dizer mais o que queria na cama com clareza 'faz assim, assado, aqui sim, aqui não' cada vez mais e vi que era mais gostoso pra mim. O sexo passou a desenrolar e eu comecei a sentir mais prazer.
Nos relacionamentos seguintes, fui me abrindo, mas também achava importante não ficar impondo tudo de cara. Primeiro sentia como era, indicava o toque que me desagradava e depois passava a dizer mais abertamente o que eu gostava. Não dá para dizer logo na largada quando se está conhecendo alguém. Hoje estou namorando há mais de um ano e vejo que também precisamos estar abertas a ouvir o outro. O sexo é troca e quanto mais se fala, mais intimidade e mais satisfação rola" - Patrícia*, 30 anos, veterinária, Porto Alegre (RS)
"Comecei mostrando com gestos e depois criei coragem de falar"
"Na época de solteira, na casa dos 20, eu era muito insegura. Associado a isso, tinha o tabu, fruto de uma educação repressora, de que o sexo era quase uma imundice. Eu apenas sabia que o sexo agradava aos homens, mas não percebia como isso seria saboroso para mim.
Fazia o que fosse para manter o relacionamento, mas não sabia realmente o que era ter prazer sexual com alguém. Casei uma vez, me separei, e as coisas começaram a mudar com meu segundo marido. Com ele, comecei a falar o que queria na cama. Era um momento mais seguro, conhecia meu corpo.
Com a maturidade, veio mais segurança. Tomei coragem e experimentei falar uma primeira vez e ele recebeu bem, deu certo. À medida que nos entrelaçamos eu ia guiando e esperando as atitudes espontâneas dele. Quando percebia que não gostava, orientava na hora. Também fazia sem falar, me tocando para ele entender. Também passei a perguntar muitas vezes se ele gosta disto ou daquilo.
Pergunto ali, depois de gozarmos juntos, ainda deitados na cama. Algumas vezes, quando demoro mais a gozar, eu digo. 'Olha, precisamos praticar mais'. Durante muitos anos não curtia penetrações. Gostava que me lambesse os mamilos, o sexo oral, mas a penetração era inútil e cansativa. Mas hoje, chego ao ponto de pedir que ele me penetre, mal comece a me tocar. Hoje eu me mexo e adapto o toque da vulva durante a penetração. Peço, por exemplo, para que ele não tenha pressa. digo: 'Calma, amor, deixa eu aproveitar um bocadinho mais de ti, dentro de mim'." - Stephanie de Matos, 37 anos, psicanalista, do Rio de Janeiro, morando em Portugal
* Nome alterado a pedido da entrevistada