Aos 23, ela criou sua marca de sandália vegana que cresceu 700% na pandemia
Quando Isabela Chusid, 26, começou a cursar administração na FGV (Fundação Getúlio Vargas), em São Paulo, ela confessa que não tinha muita ideia do que fazer da vida. Da mesma forma, sentia-se um tanto perdida nas primeiras empresas em que trabalhou.
"A minha família toda empreende, mas eu, bem capricorniana, achava que queria um emprego em uma multinacional. Depois de passar por indústrias grandes, pequenas, de bens de consumo, consegui perceber que estava infeliz, que não me encaixava nos moldes de um emprego tradicional", diz a Universa.
A rotina só começou a fazer sentido quando ela decidiu seguir o exemplo da família e criar o próprio negócio. E a receita estava, quem poderia imaginar, no seu histórico médico.
Com diagnóstico de frouxidão ligamentar, Isabela foi orientada pelo ortopedista a usar calçados com curvas de apoio para os pés, que pudessem dar mais sustentação à sua pisada. Encontrar a sandália adequada e que também fosse bonita, no entanto, parecia algo impossível.
"Nessa época, eu trabalhava em uma empresa e me sentia muito subaproveitada", lembra. "Ao mesmo tempo, sentia falta de um calçado legal, que trouxesse praticidade, conforto e uma pisada adequada, algo que eu pudesse ir à praia e sair à noite com um look mais despojado". Foi aí que Isabela decidiu criar a própria marca de sandálias: a Linus.
Além do cuidado anatômico, ela queria colocar no mercado um produto livre de metais pesados, reciclável e com materiais veganos, ou seja, 100% de origem vegetal.
"Foi difícil fazer fornecedor acreditar num projeto ainda no papel"
Apesar da experiência em multinacionais, Isabela nunca tinha trabalhado com calçados ou moda. Não entendia sobre materiais, mas sabia o queria, entendia de marketing e estava disposta a pesquisar e a estudar o melhor do mercado nacional para o seu produto.
O primeiro desafio foi encontrar fornecedores que topassem usar o material mais sustentável para criar uma sandália com design confortável e bonito e que também estivessem dispostos a escutar uma empreendedora jovem.
Eu tinha 23 anos e foi difícil fazê-los acreditarem em mim, porque era uma menina à frente de uma empresa inexistente e querendo fazer algo novo", conta.
As coisas começaram a se encaixar quando ela encontrou uma mulher, algo escasso nas fábricas em que visitava, que entendia de sustentabilidade e desenvolvimento de produtos. "Até hoje, ela é uma das que tenho melhor relação entre meus fornecedores", diz.
O design das sandálias foi feito pelo namorado de Isabela, com consultoria do seu ortopedista e do fisioterapeuta.
Para dar o pontapé inicial, Isabela investiu R$ 50 mil no negócio, valor gasto com as consultorias, o site e o desenvolvimento do material. O dinheiro veio das economias que ela tinha e garantiu a produção do primeiro lote, com 900 pares.
"Decidi que queria lançar a sandália para o Natal de 2018 e foi importante colocar uma data limite, porque é muito fácil postergar a entrega quando você não tem chefe para te cobrar", diz.
"Ainda me olham como menina"
Desembarcou no Rio Grande do Sul, onde ficava a fábrica, com uma sacola de panetones para celebrar a proximidade do Natal e decidida a resolver o problema.
Uma coisa que aprendi é que empreender é resolver problemas todos os dias. Você resolve um e logo aparecem outros 16. Só que também é preciso ter consciência de que algumas coisas se ajeitam com o tempo".
Assim que chegou à fábrica para resolver o primeiro grande problema, Isabela sentiu algumas dificuldades de ser mulher e jovem nesse meio. "Fazia 45º C na cidade e eu tinha a preocupação de usar calça comprida e roupa social, porque eram todos homens e eu tinha a sensação de que, se não fosse assim, não seria respeitada", conta.
Muitas vezes, eles ainda me olham como menina, acham que sou tranquila, boba e até ingênua. Então, acabei adotando uma postura um tanto quanto masculina, de falar sério, brigar, adotar um tom mais firme para ser escutada", afirma.
Apesar das barreiras iniciais, o encontro presencial fez a diferença, e a Linus nasceu no dia 20 de dezembro de 2018, como o planejado. Em pouco tempo, Isabela já havia recuperado o dinheiro investido e a marca passou a ser vendida em grandes plataformas on-line, como Basico.com, Amaro e Ahlma.
"Ver grandes marcas tentando fazer produtos semelhantes, preocupadas em buscar materiais mais sustentáveis, é um bom indicador de que estão vendo um potencial no mercado, de que estou no caminho certo", diz.
Crescimento na pandemia
Em 2020, o faturamento da empresa aumentou 700%. Para Isabela, esse crescimento é resultado de vários fatores, como a visibilidade de estar em grandes plataformas, a estratégia digital em um momento em que todos passaram a comprar on-line e a postura sustentável da marca. Ela não revela números, mas diz que a expectativa para 2021 é quadruplicar o faturamento do ano passado da Linus
Acho que a pandemia acendeu nas pessoas uma preocupação maior com o seu impacto no meio ambiente", afirma. Como as sandálias são minimalistas e prezam pelo conforto, ela acredita que muita gente achou que seriam um bom investimento tanto para ficar em casa quanto para trabalhar ou passear — quando isso for possível.
O foco, por enquanto, é que as vendas continuem concentradas na internet, por meio do site da marca e de empresas parceiras. Além disso, a Linus possui uma loja conceito, desativada neste momento por conta da pandemia, no bairro de Pinheiros, na zona oeste de São Paulo.
Isabela não dá detalhes sobre os próximos passos do negócio, mas fala que o objetivo agora é expandir as vendas internacionais e fortalecer a marca. "A nossa ideia é não se estabelecer apenas como uma marca de calçados, mas de lifestyle sustentável", conta.
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