35 anos da morte de Beauvoir: por que ela é tão importante para o feminismo
Há frases usadas pelo movimento feminista que passam de geração para geração. Talvez a mais conhecida delas venha da escritora, filósofa e ativista francesa Simone de Beauvoir, que morreu há exatos 35 anos e continua sendo uma das maiores referências no tema. Ao dizer que "não se nasce mulher, torna-se mulher", ela deu uma nova dimensão à condição feminina na sociedade, suscitando questionamentos e mostrando um caminho para a mudança.
Em seu livro clássico "O Segundo Sexo" (1949), Beauvoir criou uma nova discussão sobre opressões sociais contra mulheres que, até então, passavam despercebidas. Além dele, há mais uma série de obras que até hoje são base para estudo sobre feminismo e gênero. Abaixo, listamos cinco ideias lançadas por ela que explicam o porquê de seu nome reverberar até hoje.
1. Uma mulher independente é uma mulher livre
Pode até soar ultrapassado em um primeiro momento, mas a ideia de que o valor da mulher está ligado ao amor que recebe de um homem ainda persiste socialmente. Vide o uso das expressões pejorativas "mal amada" ou "solteirona". Com seus questionamentos, Beauvoir abriu caminho para que as mulheres começassem a negar, com propriedade, a obrigação social de casar e ter filhos. A discussão se desenvolve até hoje, ao se colocar casamento e maternidade como uma escolha.. Dizer que uma mulher só se realiza ao formar uma família, engravidar, ter filhos, disse Beauvoir, é um "pseudonaturalismo", sob o qual se esconde uma moral social e artificial.
2. O ideal feminino imposto pela sociedade é inalcançável
Para a filósofa, são exigidas das mulheres normas impossíveis de serem seguidas, como o ideal da "mãe perfeita". Isso acontece justamente para que se mantenha o controle do julgamento sobre elas. A escritora também critica o que, para muita gente, ainda é sinônimo de feminilidade, ser fútil, passiva e dócil. Beauvoir lista as características consideradas femininas encontradas nas personagens dos romances da época. Era assim que elas apareciam para viver paixões com homens que emulam, por sua vez, a masculinidade da força e do poder. Mas essas características parecem sobreviver como uma exigência feita às mulheres ao longo da história. Continuam, por exemplo, nas novelas.
3. A luta é contra o patriarcado, não contra os homens
Beauvoir faz uma abordagem estrutural dos papéis de gênero para elaborar a definição de patriarcado, conceito que até hoje é usado nas lutas femininstas e diz respeito ao contato no qual estamos inseridos, no qual prevalecem atitudes e decisões masculinas em detrimento das femininas.
Além disso, é essa estrutura que permite ver a mulher como objeto à mercê dos desejos masculinos, abrindo espaço para violência. A autora deixa evidente que a luta não deve ser contra os homens nem que mulheres devem deixar de se relacionar com eles. Pelo contrário, acredita no envolvimento afetivo no qual a mulher deixa de ser vista como categoria secundária de ser humano para ser reconhecida como o sujeito das próprias escolhas.
4. A verdade absoluta não é masculina
Foram homens que escreveram as narrativas mais difundidas na civilização Ocidental, da Bíblia aos códigos de leis da maioria dos países. E o fizeram, como aponta Beauvoir, a partir da própria perspectiva, tomando-a como universal. O problema é que essas mesmas narrativas continuam sendo reproduzidas ao longo dos anos. O questionamento da filósofa em relação a isso joga luz para uma questão que é discutida ainda hoje e, muitas vezes, busca respostas em sua obra.
5. Abriu caminho para outras mulheres deu mais força para o movimento
Com seus questionamentos sobre machismo e patriarcado, Beauvoir deixou uma vasta obra que serve de inspiração para pesquisas feitas atualmente. Na época em que deu início aos seus estudos, os temas que abordava sobre a condição da mulher não eram vistos como políticos, mas sim como assuntos secundários. Se hoje há tantas estudiosas do feminismo e mulheres que mudam os rumos das políticas ligadas a gênero, muito disso se deve à obra precursora de Beauvoir.
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