"Faço parte de um trisal e criei perfil pra quem quer esse tipo de relação"
Quando digo que tenho um marido e uma esposa, as reações são as mais diversas. Muita gente pensa que a nossa vida é uma bagunça, totalmente promíscua. Outros ficam curiosos para entender a nossa dinâmica: o que pode e o que não pode dentro da relação. Já tive problemas em falar sobre isso publicamente, mas hoje levamos o assunto de uma forma muito tranquila.
Vamos do começo: conheci o Diego pelo Orkut. Tinha apenas 13 anos quando nos vimos pela primeira vez e ficamos. No ano seguinte, começamos a namorar. Nessa época, éramos adolescentes e buscávamos mais independência. Ele tinha problemas de convivência em casa, eu também. Por causa disso, pedi para ser emancipada e nos casamos quando eu tinha 16 anos.
A partir dali a vida ficou mais difícil: fomos morar em um quarto, nos fundos da casa da avó dele. Mas nós já trabalhávamos e fomos nos estruturando e juntando dinheiro. Um ano depois, conseguimos alugar nosso apartamento e montar o próprio negócio. A convivência sempre foi boa, feliz.
Havia, entretanto, um assunto sobre o qual não conversávamos: a minha bissexualidade. Eu não tinha coragem de tocar no assunto da minha atração por mulheres, mas, no fundo, ele percebia. Naquela época, isso era um tabu maior do que nos dias de hoje, então não me sentia confortável em falar abertamente sobre o tema.
"Sentimos atração pela mesma menina na balada"
As coisas mudaram quando completei 20 anos. Estávamos em uma balada: nós dois bebemos e confessamos que sentimos atração por uma menina que estava na festa. Não tomamos iniciativa, mas, pela primeira vez, conversamos sobre a possibilidade de ficarmos com outras pessoas. Era como se uma porta estivesse se abrindo. Pouco tempo depois, ficamos, em outra festa, com uma garota — mas paramos nos beijos. Foi assim que nossa curiosidade sobre sexo a três começou.
Aquele era um universo novo para ambos, então fizemos algumas pesquisas na internet. Até que marcamos de ir, pela primeira vez, em uma casa de swing. Lá, participamos do nosso primeiro ménage, com uma garota de programa. Foi maravilhoso: eu já sabia o que iria acontecer, então não me senti insegura e nem desconfortável pelo contato físico do meu marido com outra mulher. Além disso, não havia sentimento envolvido.
A experiência foi tão boa que queríamos repetir. Mas desejávamos mais do que isso: percebemos que nosso desejo não era apenas sexual. No fundo, buscávamos uma terceira pessoa para o casamento, alguém com quem pudéssemos nos relacionar afetivamente e de forma fixa. Finalmente, depois de muita conversa e de estudo sobre poliamor, tomamos a decisão de buscar uma mulher (já que eu sou bissexual e o Diego é heterossexual) que se encaixasse nesse perfil.
"Tive que adiar a busca porque descobri que estava grávida"
Nossos planos, no entanto, foram adiados: justamente nessa época, após sete anos de casamento, descobri que estava grávida. Então paramos a busca para experienciar essa nova etapa. Um ano depois do nascimento do nosso filho, começamos a nos desentender cada vez mais e nos separamos. Cheguei a ter um relacionamento lésbico durante alguns meses, mas acabou não dando certo. Mais maduros, decidimos reatar o compromisso.
Mesmo sendo mãe e sentindo receio de como seria e essa adaptação em casa, achei que era o momento de buscarmos outra pessoa. Nosso desejo é ensinar, desde bebê, que o amor é válido em todos os seus formatos. Então instalamos o Tinder e criamos um perfil de casal. Nessa época, nossa loja já era conhecida em Brasília e tive muito receio do que os clientes poderiam pensar, então fiz questão de manter as identidades anônimas. Mas deixamos bem claro no perfil aquilo que procurávamos, ressaltando que não queríamos apenas sexo.
Saímos com duas meninas, mas os encontros não foram bem o que esperávamos. Até que, na terceira tentativa, conhecemos a Karina. Ela sugeriu que montássemos um grupo no Whatsapp para poder conversar sempre com os dois ao mesmo tempo. Nos falamos durante um mês e meio e vimos que tínhamos muito em comum. Fomos bastante cuidadosos no início, já que ela nunca tinha se relacionado com uma mulher. Mas a verdade é que tudo aconteceu muito rápido: na segunda vez que veio para casa, ela chorou na hora de ir embora, porque queria ficar. Isso aconteceu há dois anos. Desde então, moramos nós três e nosso filho, que chama ela de tia.
"Acham que meu marido pode tudo, que é especial, que tem duas esposas"
Muita gente acha que o Diego tem duas esposas e que isso resume nossa história, mas não é verdade.
Cada um de nós se relaciona igualmente com os outros dois, o que quer dizer que eu tenho uma esposa e um marido também. Hoje, vivemos um relacionamento fechado entre nós três, o que quer dizer que não ficamos com outras pessoas. E, sim, sentimos ciúme! Principalmente no início, tivemos diversas inseguranças, tanto com as pessoas de fora quanto entre nós. Foi preciso dialogar muito e até fazer terapia de grupo para resolver essas questões.
Outro problema é a nossa família: nem todos lidaram bem quando assumimos o compromisso. Por esse motivo, mantivemos em segredo no começo. Mas, depois de um tempo, concordamos em falar abertamente sobre o assunto. Criamos uma conta no Instagram a fim de matar algumas curiosidades e compartilhar mais sobre a nossa rotina.
Logo percebemos que existe também uma demanda: casais querendo conhecer um terceiro elemento, seja para sexo, seja para uma relação estável, e mulheres e homens em busca de parceiros poliamorosos. Então abrimos a conta para receber esses perfis e fazemos uma espécie de Tinder. Colocamos a foto, o meio de contato da pessoa, de onde ela é e o que busca em uma relação. Tivemos até gente que casou graças aos anúncios.
Hoje, incentivo homens e mulheres a testarem outros formatos de relações. Posso dizer que meu casamento melhorou infinitamente depois da chegada da Karina. Dialogamos mais, temos mais confiança, brigamos menos. Agora, desejamos aumentar a família e experimentar uma maternidade compartilhada. Sou da opinião de que, se existe vontade, o melhor é sempre tentar.
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