"Já perdi 5 idosos para a covid. Me sinto impotente", conta cuidadora de AL
"Sou técnica de enfermagem e, desde 2019, trabalho como cuidadora de idosos aqui em Maceió (AL). Decidi ser cuidadora depois de muito tempo cuidando do meu irmão, um paciente especial, que nos deixou no mês passado. Após uma cirurgia que fiz no útero, também vi a necessidade desses cuidados e decidi que essa seria essa minha função na vida. E aqui estou.
Logo no começo da pandemia, peguei covid. Foi uma experiência péssima! Achei que fosse morrer, tive 50% dos pulmões comprometidos. Apesar de estar em contato com pessoas com a doença e em hospitais, peguei com meu marido, que trabalha em supermercado e se contaminou lá. Mas venci.
Com a pandemia, meu trabalho aumentou, demandas surgiram. Tem sido uma rotina pesada cuidar de pacientes com covid-19. E tem sido um período muito difícil. Até então, na minha curta carreira, não tinha perdido nenhum paciente. Desde que comecei nessa missão na pandemia, já perdi cinco pacientes idosos
Um dos pacientes eu acompanhei de novembro de 2020 a janeiro deste ano, entre idas de vindas do hospital para casa. Após esses dois meses, ele morreu em janeiro. Foi uma grande dor. Eu sou muito apegada aos meus pacientes, é impossível não se apegar a eles.
O último que morreu por covid, eu estava com ele no hospital e o via ficando cada vez pior, mais grave, com tosse muita intensa. Era um atendimento complicado, mas sempre eu tentava alguma coisa a mais que o ajudasse. Lembro que, no último dia que o acompanhei, ele estava mal. Eu então pedi à equipe médica do hospital: 'Façam alguma coisa!'. Colocaram ele no oxigênio e decidiram levaá-lo para a ala vermelha, com pacientes graves de covid, e em uma semana ele veio a óbito.
A morte dele e de todo paciente é uma sensação difícil de descrever. Me sinto impotente, não posso fazer nada ali. Quando vi esse último paciente indo para a ala vermelha de covid, só lembro que corri atrás da maca dele. É uma angústia. Cuido dos meus pacientes como se fossem da minha família. Quando eles se vão, sinto a dor como se tivesse perdido alguém próximo
Meu marido sempre fala que eu preciso desfocar mais do trabalho em casa. Mas eu me apego, não consigo.
E com a covid, a relação com a família do paciente é sempre muito importante. Eu me dedico muito, eles percebem isso, sempre estou passando informações, tenho cuidados, dou atenção. Eles são sempre muito agradecidos pela dedicação. Muitas vezes me indicam para cuidar de um parente ou amigo quando pedem uma ajuda.
Eu agora estou na casa de uma paciente onde vou ficar por uma semana: eu entrei na terça-feira à noite e vou sair na segunda à noite. É uma paciente que comecei a cuidar quando ela passou 12 dias no hospital. Ela teve 75% do pulmão comprometido pela covid, mas teve alta e continua o tratamento das sequelas em casa. Ela não está conseguindo andar sozinha, tem dificuldades e precisa ser acompanhada.
É comum fecharmos esse tipo de acordo para passar vários dias na casa do paciente. Eu prefiro isso do que passar pouco tempo. Acho melhor do que está nesse para lá e para cá. Evito o trânsito, consigo dormir." Então, facilita. E assim vou seguindo, sempre com pessoas precisando de nós. E estou sempre pronta para atuar e acolher.
* Ana Mércia Vieira, 33, técnica de enfermagem, é cuidadora de idosos em Maceió (AL)
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