Lubrificação ou corrimento: "ficar molhada" sem estar com tesão é normal?
É comum ficar excitada e sentir aquele "molhadinho" na calcinha. Às vezes mais intenso a ponto de ir no banheiro achar para ver, às vezes bem sutil. Mas e quando esse líquido surge sem o estímulo sexual?
É aí que pode surgir a dúvida se esse corrimento é apenas uma lubrificação ou se algo está errado e é preciso ir ao médico. E a resposta é: depende. Isso porque é importante observar que fluido é esse que está saindo da vagina.
Corrimento ou lubrificação
Os tecidos de revestimento do trato genital feminino têm grande quantidade de glândulas em sua composição, seja na vagina, no colo ou no corpo do útero. Essas glândulas produzem secreções que podem variar durante o ciclo menstrual. Podem ser chamadas de "muco cervical" e ser compostas por células do próprio colo, bactérias, muco e água. Então, pode se "caracterizar como fluido hormonal fisiologico ou como corrimento patológico (anormal, devido a alguma doença)", explica o médico ginecologista Fabio Bronner, do Centro Médico Consulta Aqui, do grupo do Hospital Albert Sabin.
Quando há tesão, os níveis dos hormônios do corpo da mulher, como o estrógeno, aumentam e estimulam essas glândulas vaginais que produzem uma secreção incolor, parecida com a clara de ovo, que não tem cheiro, é mais aquosa e sem odor. Este fluido é produzido pelas glândulas de Bartholin, que ficam na entrada da vagina, e pelas glândulas de Skene, que ficam ao lado na uretra. Serve para lubrificar a vagina, facilitando a penetração, o que também contribui para uma relação mais prazerosa.
"Além disso, a vagina também produz um transudato (líquido), responsável por promover lubrificação contínua das suas paredes. Então é normal que ao longo do dia, a mulher perceba um discreto fluxo vaginal, que normalmente sai transparente e que pode, na roupa íntima, e ficar levemente amarelada ao final do dia, devido à oxidação em contato com o ar ambiente", explica a médica ginecologista Janaína Freitas, da Clínica CAM, em Salvador. Essa secreção não necessariamente está associada ao estímulo sexual.
Serve para lubrificar a região e é importante no ato sexual que busca a reprodução porque permite que o espermatozoide suba pelo colo uterino e chegue até o óvulo. Nos dias que antecedem a menstruação, ela fica espessa, e às vezes também pode ficar levemente amarelada. Pode aparecer durante o período ovulatório do ciclo menstrual da mulher, quando o canal cervical, que é o canal do colo do útero se dilata e elimina uma secreção mucóide que formou em seu interior.
Também pode acontecer um pouco depois, até o momento em que o espermatozoide não encontra o óvulo e o nível do hormônio vai caindo. Logo após a menstruação ela fica bem escassa e mais espessa novamente. Então durante todo o período em que a mulher estiver ativa (depois da primeira menstruação e antes da menopausa), pode ser que haja secreção lubrificante nessa fase mesmo sem tesão. Na gravidez é comum um aumento na secreção vaginal, geralmente mais esbranquiçada e espessa.
A progesterona também influencia por ser um hormônio secretor. Por isso, na fase pré-menstrual também costuma ter secreção assim como na fase ovulatória. E como nessa fase da vida mulher diversos hormônios seguem em atuação, a vagina sempre vai estar um pouco úmida. Mas "não é normal a mulher ter secreção durante o período menstrual inteiro. O que a mulher julga atrapalhar ou incomodar é considerado anormal", aponta o ginecologista Marcos Tcherniakovsky, Diretor de Comunicação da Sociedade Brasileira de Endometriose e professor da Faculdade de Medicina do ABC.
O que causa e influencia a secreção vaginal
A secreção pode ser influenciada pelas preliminares do sexo, por exemplo, que podem ser multissensoriais. Pelo olfato (perfumes, por exemplo), visão (filme, lingeries), pela audição (palavras excitantes), tato (beijos, carícias, estímulo de clitóris, seios). A excitação feminina depende de cada mulher, portanto são muitas as maneiras de estimular a lubrificação vaginal.
Em relação a alimentação, não há alimentos específicos para aumentar ou diminuir a lubrificação vaginal, mas uma dieta com ingesta equilibrada de frutas, verduras, iogurte são essenciais para a saúde da vagina de uma maneira geral. O consumo alto de açúcares, carboidratos, por exemplo, aumentam os níveis de glicose no corpo e podem mudar o ambiente vaginal, alterando o pH, que normalmente é ácido. Isso pode fazer com que bactérias causem corrimentos anormais. Por isso ter uma alimentação balanceada, regular e saudável, com probióticos é essencial.
Outro fator que pode ocasionar um corrimento anormal é deixar a vagina sempre como um ambiente fechado, sem respirar. O ideal é evitar vestimentas apertadas e sabonetes que possam irritar ou alterar o pH da vagina. Importante lembrar que a vagina possui bactérias que habitam a região, que fazem parte da flora vaginal. Elas também influenciam na produção de secreção considerada normal. Os valores em relação à quantidade ficam entre "meia e uma colher de chá de corrimento branco ou claro", explica a ginecologista Eloisa Pinho, médica ginecologista e obstetra da Clínica Gru Saúde. Mas se a secreção tiver cor, cheiro, consistência diferente, ou tiver acompanhada de dor, coceira ou ardor, então é necessário procurar um médico.
Quando pode ser considerada ejaculação
A ejaculação feminina é um tema ainda bastante controverso, mesmo para a literatura médica, desde o conceito até a composição desta secreção, aparência e quantidade. Não há consenso sequer sobre a sua existência. O que se chama de ejaculação feminina é a saída de uma quantidade maior de secreção vaginal após ou durante o orgasmo feminino.
"Mas sabemos que há muitas fantasias a seu respeito e o que observamos é que muitas vezes a tensão da mulher sobre isso é tão grande que chega a atrapalhar o prazer. Então é preciso que homens e mulheres compreendam que o orgasmo feminino é diferente do masculino, e o fato de não haver liberação de grande quantidade de fluido vaginal nada tem a ver com a ausência do orgasmo", explica Freitas.
Fontes consultadas: Eloisa Pinho, médica ginecologista e obstetra da Clínica Gru Saúde; Fabio Bronner, médico ginecologista do Centro Médico Consulta Aqui; Janaina Freitas, médica ginecologista do grupo CAM; Marcos Tcherniakovsky, médico ginecologista, Diretor de Comunicação da Sociedade Brasileira de Endometriose e professor da Faculdade de Medicina do ABC.
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