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Caso de assédio no LinkedIn repercute na rede: "Se for casada, me desculpa"

Isabella Toledo sofreu assédio pelo Linkedin e post sobre caso viralizou na rede de contatos profissionais - Arquivo pessoal
Isabella Toledo sofreu assédio pelo Linkedin e post sobre caso viralizou na rede de contatos profissionais Imagem: Arquivo pessoal

Nathália Geraldo

De Universa

20/04/2021 04h00

Quando a coordenadora da área de experiência de consumidor de uma holding de marcas Isabella Toledo olhou para as notificações do LinkedIn na tela do seu celular, levou um susto. No lugar de mensagem sobre mercado de trabalho, um homem resolveu assediá-la, pedindo o WhatsApp, se ela fosse solteira. "Se você for casada, não gosto de problemas".

Nem de longe esse caso de assédio no LinkedIn é isolado. Apesar de ser destinada para contatos profissionais, alguns usuários tomam como comum o comportamento de se aproximar das mulheres como se a plataforma fosse um "LinkeTinder", mas, neste caso sem a anuência da outra parte, o que coloca a situação como de assédio.

Segundo levantamento global da própria empresa, de janeiro a junho de 2020, 16.916 conteúdos foram removidos por conta da prática. A maioria das abordagens acontece mesmo nas mensagens privadas — depois que o assediador passa a fazer parte da rede de conexões da outra pessoa. Desta vez, Isabella resolveu expor o que acontece com muitas mulheres no mundo corporativo dentro e fora da internet.

Assédio no LinkedIn vem por mensagens privadas

Isabella conta para Universa que não foi a primeira vez que foi vítima de abordagens invasivas no Linkedin. Resolveu, então, falar publicamente sobre o incômodo e o constrangimento que sofreu, expondo o print da conversa com o assediador. A publicação teve mais de 13 mil reações e de 700 comentários dos usuários da rede social.

assedio linkedin - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Mensagem recebida por Isabella no LinkedIn; ela preferiu não expor o nome do contato
Imagem: Arquivo pessoal

A profissional explica que ficou mais assustada do que imaginava com a quantidade de mulheres que se identificaram com a situação. Algumas se pronunciaram em apoio à profissional. "Até quando nós, mulheres, seremos assediadas de tantas formas até mesmo em ambientes que são profissionais? Quando seremos respeitadas?", escreveu uma usuária.

"Às vezes parece que estamos sendo repetitivas batendo sempre nas mesmas teclas. 'Respeita as mina', 'Não é não', 'Lugar de mulher é onde ela quiser'. Mas aí quando nos deparamos com este tipo de comportamento e, pior, com as tentativas de justificá-lo...", argumentou outra.

Para Isabella, a carga do machismo na mensagem ficou ainda mais evidente quando o contato pediu desculpa pela abordagem se ela fosse casada. "Significa que só se eu fosse casada ele me respeitaria, porque teria um homem antes dele. E isso não acontece só no Linkedin, é exatamente o que faço na balada, quando preciso dizer que tenho namorado para não ficar com um homem, senão ele me xinga, fala que nem queria mesmo".

"Não temos paz em nenhum âmbito da vida, e a mensagem representa o que nós, mulheres, passamos no ambiente de trabalho também. Em um emprego que eu trabalhava na área comercial, já tive que ouvir que só tinha conseguido marcar uma reunião com um vice-presidente de empresa porque eu era 'bonitinha', e porque era mulher. Quer dizer que não foi por causa do meu trabalho?", comenta.

Larice - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Larice Elias foi vítima de assédio na plataforma por duas vezes. Ela bloqueou os contatos.
Imagem: Arquivo pessoal

A engenheira de produção Larice Elias também já foi duas vezes alvo de machismo no LinkedIn e, por isso, demonstrou apoio ao caso de Isabella. Em uma delas, o post que publicou falando justamente sobre assédio em entrevistas de emprego virou pretexto para que assediadores enviassem mensagens inconvenientes. "Vieram me chamando de 'meu bem', pedindo meu WhatsApp. Até me adicionaram no Instagram", relata.

Na outra situação, Larice divulgava seu trabalho quando um contato resolveu perguntá-la sobre a vida pessoal e o perfil dela nas redes sociais. "Logo já bloqueei, pois estou no LinkedIn apenas para contato profissional e nada mais.

É muito chato e constrangedor, passar por essas situações. Muito difícil ser mulher.

Como denunciar contato no LinkedIn

O LinkedIn tem algumas ferramentas que ajudam as vítimas a denunciarem a conta de quem assediou ou, mais precisamente, a mensagem recebida como assédio. Nos comentários, publicações ou mensagens privadas, é necessário clicar nos três pontinhos da lateral e denunciar o conteúdo. O LinkedIn faz a análise do material e o responsável pode ter desde uma notificação educativa à suspensão da conta.

Segundo a empresa, há um aviso aos usuários de que o LinkedIn é um lugar para discussões profissionais e respeitosas. A Política para a Comunidade destaca que as denúncias podem ser para conteúdo de assédio, provocador, de incitação ao ódio ou racista.

E para proteger os usuários em casos de assédio, abuso e outros comportamentos não profissionais, afirma que usa de inteligência artificial que reconhece uma mensagem como de assédio, permitindo que o destinatário a denuncie antes mesmo de acessá-la e que mantém feedback para as denúncias, informando inclusive o usuário que violou a política da plataforma sobre o motivo das sanções.