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"Não podia usar decote", diz apresentadora que viveu três relações abusivas

Carla Prata conta que viveu três relacionamentos abusivos:  - Divulgação/Roberto Pereira
Carla Prata conta que viveu três relacionamentos abusivos: Imagem: Divulgação/Roberto Pereira

Carla Prata em depoimento a Nathália Geraldo

De Universa

21/04/2021 04h00

"Meu nome é Carla Prata, sou apresentadora e digital influencer e tenho 39 anos. Já vivi três relacionamentos tóxicos e abusivos que me ensinaram a saber exatamente o tipo de homem que não quero para minha vida. Eles não me fizeram desacreditar de um relacionamento saudável, mas agora para a pessoa ficar comigo ter que ser foda. E para permanecer, tem que ser foda ao quadrado.

O primeiro foi o pior dos meus relacionamentos. Ele era alcoólatra, me trancava no quarto, me agredia fisicamente. Era um relacionamento tóxico e não me dava conta, era muito nova. Não me sentia culpada, mas resolvi procurar terapia. Eu perguntava para a psicóloga: "Por que ele me agride?". E ela nunca me respondia. Até que ela me disse: "A pergunta não é essa. É por que você permite que ele faça isso com você". Então, nunca mais eu voltei ao relacionamento.

No segundo relacionamento, ele fazia tudo como se fosse o apaixonado. Vivia 24 horas me colocando em tudo dele, mas isso me sufocava. Chegou a tatuar meu nome nas costas dele. E tinha ciúme. Foi afastando minhas amigas de um jeito que eu não percebia e tentava fazer o mesmo com minha família. Eu falava que alguém ia nos visitar e ele dizia que tinha marcado outra coisa.

Minha mãe nessa época já atuava como psicóloga e me mandava vários textos sobre relacionamento abusivo. E eu respondia que ela estava exagerando, que ele era tão bom para mim.

A gente ia casar e ele comprou um apartamento para morarmos juntos, enquanto dividíamos o meu. Como cuidei da reforma de cada canto, ele pensava que naquele momento eu iria fazer tudo que ele gostasse. Até o dia em que ele disse para eu não desfilar na avenida. "Eu não quero mulher minha no Carnaval".

Terminei com ele por telefone. Avisei que o Carnaval ia continuar na minha vida, que é a coisa que mais amo no mundo. Disse que não trabalhava desde os 13 anos para um homem que não fosse meu pai chegar e dizer o que eu deveria fazer.

carla prata - Divulgação/Carlo Locatelli - Divulgação/Carlo Locatelli
Apresentadora passou por três relacionamentos abusivos: "Me fez ver o tipo de homem que eu não quero"
Imagem: Divulgação/Carlo Locatelli

O terceiro relacionamento era um estresse toda a semana, se eu passava batom vermelho, usava decote. Ele terminava comigo porque eu colocava foto de biquíni nos Stories quando ia na clínica de estética. Tinha que colocar uma toalha em cima.

Nesse, eu percebi a situação mais rápido. Só que quando estamos nesse tipo de relacionamento, é comum não dar ouvidos aos outros. Ele dizia que só estava zelando por minha imagem, porque eu trabalho na mídia. No final, é um ciúme absurdo de uma pessoa que quer você só para ela.

O machismo está diretamente relacionado a isso. O homem sente que tem que mandar na vida da mulher, no que ela posta, na roupa que ela usa, na academia que ela frequenta.

Uma mulher que pode estar passando por isso primeiro tem que se amar muito, ter autoestima. Não podemos achar que só aquela pessoa nos completa. E quando está 'dando erro' no começo, não podemos insistir.

Eles sempre falam a mesma coisa, pedem desculpa, dizem que vão ao psicólogo. No meu segundo relacionamento, ele melhorou por duas semanas e depois voltou ao que era. Se você perguntar para o homem abusivo se ele é machista, vai dizer que não.

Só que não é normal um homem terminar o relacionamento porque a mulher está com decote, porque passou batom vermelho, porque dançou rebolando. Aliás, se falar para mim do batom, já que sou leonina com ascendência em Escorpião, aí é que eu durmo e acordo com ele. Sei que viver um relacionamento abusivo é quase uma escravidão, mas as mulheres não podem esquecer de sua individualidade. Tem que se amar primeiro para amar alguém depois.

Por eu ter passado por três relacionamentos abusivos, digo que a pessoa tem que me tratar como uma rainha e não como um animalzinho de estimação. Eles não me fizeram desacreditar em uma relação saudável, mas estou mais exigente. Aliás, querendo só o básico. Porque escuto alguns relatos e me pergunto: por que ela está se sujeitando a isso? Com essas experiências, fui me fortalecendo, me amando."