Menino de 4 anos relata tortura a pai; mãe e padrasto são presos
Um menino de 4 anos revelou à polícia de Capivari, cidade a duas horas da capital São Paulo, que foi torturado por meses pelo padrasto, com socos, chutes na cabeça, enforcamentos e outras agressões. Segundo o relato, a mãe da criança sabia de tudo e participava das agressões. O casal foi preso nesta sexta-feira (23), e a vítima está com o pai.
O chefe dos investigadores da polícia civil de Capivari, Marcelo Monaro, informou a Universa que embora a mãe tenha negado a violência e o padrasto tenha ficado em silêncio, o depoimento da criança, além dos laudos são somados à investigação e ajudaram na prisão. A delegada Maria Luísa Rigolin, que pediu a prisão do casal, disse ainda que não há indícios de que essa mãe sofria violência doméstica também.
"Até o momento não tenho esta informação. Contudo ela era completamente omissa frente aos inúmeros hematomas que a criança apresentava", afirmou.
Além de ter a mesma idade do menino Henry Borel, morto enquanto estava sob a responsabilidade da mãe, Monique Medeiros, e do padrasto, conhecido como vereador Dr. Jairinho (Solidariedade), essa criança de Capivari também tinha sua guarda compartilhada com o pai. Esse ficava quinzenalmente com o menino, aos fins de semana.
Entre 2010 e 2020, pelo menos 103.149 crianças e adolescentes com idades de até 19 anos morreram no Brasil, vítimas de agressão, segundo levantamento divulgado pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). Do total, cerca de 2 mil vítimas tinham menos de 4 anos.
Pai interrogava mãe sobre hematomas
Com o passar do tempo esse pai começou a perceber que o filho estava mais introspectivo, e que quando o entregava para a mãe, a via puxando o braço da criança, xingando ela, mandando parar de chorar. O pai também percebeu hematomas no menino, no rosto, principalmente nariz e testa, além de escoriações no abdômen e glúteos.
Ao questionar a mãe sobre aquelas marcas, a suspeita respondia que não interessava ao pai de onde vinham os machucados, já que era ela quem cuidava da criança. O menino apareceu ainda com infecção urinária, e a mãe explicou que ele já estava sendo tratado.
Em 10 de abril, depois de ouvir o pai insistindo para lhe contar o que acontece enquanto está com a outra família, a criança disse que sofria agressões do padrasto, principalmente em seus órgãos genitais e que a mãe via tudo. Falou ainda que ficava trancado num quarto praticamente todos os dias, e que o padrasto o segurava contra a parede pelo pescoço e lhe dava socos no rosto. A O menino também teria dito que mãe golpeava a criança com o salto do sapato e a fivela do cinto.
Assim que ouviu o relato, o pai do menino foi imediatamente na delegacia da mulher de Capivari. A criança foi ouvida por uma psicóloga e deu todos os detalhes, fazendo, inclusive, gestos de cada cena. Consta no inquérito policial que o casal praticou tortura psicológica e física além de lesão corporal, já que o menino tem diversas marcas pelo corpo. A justiça justificou maus-tratos ao determinar a prisão temporária da dupla.
"A criança precisa contar com um adulto para relatar agressões"
Assim que percebeu que o filho sofria agressões, o pai ganhou sua confiança para que a criança contasse todo o ocorrido. Especialistas no tema ouvidos por Universa ensinam que essa proximidade é essencial para desvendar um crime cometido sem testemunhas.
"As crianças precisam contar com um adulto para relatar as agressões, alguém em quem confiam e têm vínculos afetivos. De preferência alguém que possa intervir para afastá-las do agressor, para colocá-las em segurança. Pai, mãe, avós, tios, padrinhos, que fiquem com a criança e não a entreguem de volta na residência onde a violência estaria ocorrendo", aponta Ariel de Castro Alves, advogado, especialista em direitos da infância e juventude e membro do Instituto Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente.
Qualquer pessoa pode denunciar uma agressão contra uma criança, inclusive de forma anônima, caso do Disque 100. Outros canais são o Conselho Tutelar, delegacia de polícia ou Ministério Público. As escolas são também importantes portas de entrada para denúncias.
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