"Chifre de ficante" existe? Trair sem namorar divide opiniões; veja relatos
Será que chifre de ficante conta? O assunto é polêmico. Nem a música sertaneja, que é especialista em sofrência, consegue chegar a um consenso sobre o assunto, quem dirá os solteiros.
A música "Chifre de Ficante", recentemente regravada por Chay Moraes e Tierry, deixa claro há quem se sinta traído mesmo sem namorar. Mas, em 2018, o cantor Gustavo Mioto emplacou o refrão "Solteiro Não Trai" — defendendo que sem um compromisso firmado não existe infidelidade.
O assunto divide opiniões: Marilia Mendonça chegou a responder, nos stories do Instagram, que discorda que a tal traição possa acontecer. Já para uma das intérpretes da música, Chay Moraes, o "chifre" é uma possibilidade. Para Universa, ela comenta: "Às vezes você vê que aquilo está se encaminhando para uma coisa mais séria, então automaticamente deixa de ficar com outras pessoas, para ver no que vai dar. Mas se existe essa esperança, existe também ciúme".
Chay relembra uma vez que se sentiu traída: "Eu ficava com um rapaz e achava que o lance poderia evoluir para algo mais. Ele me chamou para viajar para um rancho, foi lindo. Só que uma semana depois que voltamos, ele foi novamente para o mesmo lugar, com outra mulher. Depois veio conversar comigo como se nada tivesse acontecido, mas eu já estava apaixonando". Se ela perdoou? "Não teve jeito. Por isso defendo que tudo deve ser muito bem conversado: deixando as coisas explícitas, ninguém se machuca", opina.
Para entender como cada um estabelece os limites dentro de uma relação sem o rótulo do namoro, Universa conversou com duas mulheres, que sustentam pontos de vista diferentes com base nas suas experiências.
"Foi a maior decepção amorosa que já tive"
"Aos 20 anos, conheci um rapaz na faculdade e começamos a ficar. Aos poucos, nossa relação foi se intensificando: passamos a nos falar todos os dias, nos víamos com frequência e trocávamos declarações. Ele dizia que me amava e que não sentia vontade de ficar com outras pessoas, assim como eu. Apesar disso, não chegamos a nos intitular namorados: só falamos sobre isso em um churrasco, quando ele estava bêbado, mas no dia seguinte fingimos que nada aconteceu.
Tudo mudou quando recebi uma mensagem de madrugada. Na manhã seguinte, li com calma e percebi que, mesmo usando o apelido carinhoso pelo qual costumava me chamar, a mensagem não era para mim. Nela, ele perguntava se estava tudo certo para o fim de semana, que estava ansioso para que o encontro chegasse logo. Mas nós não havíamos combinado de passar o final de semana juntos.
Percebendo o engano, fui até a casa dele tirar satisfações. No início, tudo foi negado: ouvi até que estava ficando louca. Mas continuei pressionando até que chegou a confissão. Ali, protagonizamos uma verdadeira cena de filme. Brigamos, gritamos. Fui para o meio da rua e ele correu atrás de mim, tentando me convencer a voltar. Não aceitei. Subi no primeiro ônibus que apareceu, encostei a cabeça no vidro e chorei até chegar em casa.
Hoje, oito anos mais velha, acredito que teria feito as coisas de um jeito diferente. Mas, naquela época, foi tudo muito intenso: mesmo não namorando, sinto que foi a maior decepção amorosa pela qual já passei na vida". Jéssica*, 28 anos, de Campos dos Goytacazes (RJ)
"Ficava com outra pessoa, mas não sentia como se estivesse traindo"
"Quando tinha 21 anos, comecei a ficar um rapaz que conheci por meio de um amigo. Nos víamos todo final de semana, nos falávamos todos os dias, mas ele dizia que não queria namorar. Por causa disso, tivemos três 'términos', mas sempre acabávamos voltando. Nesse meio tempo, sabia que estava solteira, então também ficava com outras pessoas.
Quando completamos sete meses de idas e vindas, propus que ficássemos exclusivamente um com o outro e ele aceitou. Eu tentava fazer com que ele conhecesse minha família e participasse mais da minha rotina, mas a resposta era sempre não. Depois de quase um ano, brigamos e reatamos de novo. Ele disse que amava, que queria ficar do meu lado, mas eu não sabia se o pacto da exclusividade ainda era válido — e não queria mais tocar no assunto.
Conheci outra pessoa com quem me envolvi simultaneamente. Mesmo ele se dizendo tão apaixonado, não conseguia enxergar aquela como uma relação de verdade, então parei de levar a sério. Mais tarde, terminei tudo e decidi que das próximas vezes faria tudo diferente: seria menos permissiva e não deixaria de lado minhas prioridades por medo de que o outro se sentisse pressionado. Foi com esse pensamento que conheci meu atual marido e que as coisas deram certo". Amanda Blanco, professora e coordenadora pedagógica, 26 anos, de Curitiba (PR)
*Nome trocado a pedido da entrevistada
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