Marca relança perfume após relato de mãe que perdeu o filho para a covid
"Esse perfume tem cheiro de mãe". Era assim que o técnico carioca Alexandre Mendes Terra se referia à fragrância usada pela mãe, a artesã Wanda Terra, 78 anos. O perfume preferido por mais de quatro décadas — o Annete, de O Boticário —, porém, parou de ser produzido pela marca e, desde então, Wanda usava gotinhas econômicas do produto apenas em uma ocasião especial: quando recebia visitas do filho. Alexandre morreu em março passado, aos 46 anos, por complicações da covid.
Nas redes sociais, a advogada Karyne Leão, nora de Wanda, relatou um episódio envolvendo mãe, filho e o perfume, que causou comoção nas redes sociais. "Um dia eu fui até a casa de dona Wanda deixar os pertences do Alexandre, meu cunhado, e, ao chegar ao local, vi a dona Wanda muito triste. Chorava segurando o vidro de perfume, que tinha menos que um dedinho de líquido... Aquela cena mexeu comigo profundamente. 'Esse perfume era o favorito do meu filho, eu só usava quando ele vinha me visitar, ele dizia que esse perfume tinha cheiro de mãe', disse para mim. Ela abraçou o vidro e eu não contive as lágrimas". O post da advogada viralizou e que teve um desdobramento afetuoso.
O apelo chegou até a marca de cosméticos, que resolveu enviar edições especiais do produto para Wanda, que vive em Angra dos Reis, sudoeste do Rio. Os frascos contarão até com o nome da artesã na embalagem e o próprio presidente do O Boticário, Miguel Krigsner, foi quem enviou uma carta à mão comunicando o presente. "Querida dona Wanda, tomamos conhecimento do significado que esse perfume Annete tem nas suas memórias. Resolvemos, com o apoio da nossa equipe de fábrica, fazer algumas unidades desta fragrância, especialmente pra você. Queria te contar que Anette é a minha primeira filha e que o perfume foi criado por ocasião do seu nascimento", escreveu o empresário.
Em entrevista para Universa, Wanda deu mais detalhes, emocionada, sobre a surpresa. "Depois de tanta dor esse foi um presente tão lindo. Estou muito agradecida de ver uma empresa como o Boticário se sensibilizar com uma história de uma mãe que mora no interior do Rio , em uma casinha simples. Eles não têm ideia do que fizeram por mim".
"Não consegui me despedir do meu filho"
Alexandre foi internado na UTI do Hospital de Clínicas Alameda, em Niterói, no Rio de Janeiro, no dia 27 de fevereiro. Ele não resistiu à covid e morreu no último dia 4 de março, aos 46 anos. Entre lágrimas, dona Wanda conta que não teve chances de se despedir do filho: "Ele passou algum tempo internado. Sofreu muito, apesar de ter ficado em um hospital de qualidade. Ficou um vazio muito grande".
"Desde que foi lançado, nos anos 1970, eu uso esse perfume. Meu filho amava o cheiro! Ele me abraçava, me beijava e dizia 'esse perfume tem cheiro de mãe'. Quando eles pararam de fabricar, eu queria comprar e não conseguia mais, então eu fui guardando o perfume e só usava um pouquinho no dia que meu filho vinha me visitar, porque ele morava em Niterói"
O técnico deixa uma filha de 15 anos, neta de Wanda, e de quem a avó promete cuidar. "Já ajudei meu outro neto mais velho a se formar, que agora Deus permita que eu consiga fazer o mesmo por ela. O sonho dela é ser enfermeira", conta a artesã, que sobrevive da venda de quadros e pinturas.
Além de Alexandre, Wanda também é mãe de Claudia e Eduardo, filho caçula que mora no Canadá. O sucesso da publicação foi tanto que Eduardo chegou a receber e-mail de estrangeiros que leram o relato e se emocionaram com a história do irmão.
Wanda conta que tem se apegado as memórias boas que tem do filho para lidar com a dor. "Só de falar com você eu já estou chorando. A gente só tem escutado notícia triste e esse gesto da marca fez bem para a minha alma. Significa que a gente ainda pode confiar no bem, que ainda existe pessoa boa nesse mundo".
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