Ela comprou uma camiseta feminista e a encomenda veio violada: "E a louça?"
A supervisora de qualidade de uma indústria de alimentos Marina Taroco, 28 anos, só queria ter no guarda-roupa alguns looks que a inspirassem a acordar "para destruir o patriarcado", como sugere uma das estampas da camiseta que comprou. Mas, na caixa da encomenda que fez das peças da marca de roupas The Feminist T-Shirt (traduzindo, "A Camiseta feminista"), recebeu uma mensagem com tom machista: "E a louça? Lavou?".
A violação na encomenda, que chegou na manhã de segunda-feira (26), revoltou Marina. Ela pediu à empresa transportadora, a Jadlog, explicações sobre o caso. "Estamos em 2021 e ainda temos que passar por isso. É um caso que mostra como nossa luta ainda será longa", explicou, em entrevista para Universa.
Mensagem em caixa de camiseta feminista gera revolta
Marina, que mora em São João Del Rei (MG), contou à reportagem que encomendou pela segunda vez duas camisetas da marca de roupas, de Araraquara, interior de São Paulo. A embalagem imprime o nome da marca e, abaixo dele, foram escritos à caneta os dizeres machistas "E a louça? Lavou?".
O tom da mensagem é visto como machista por reduzir a mulher a ocupações específicas, principalmente às ligadas ao trabalho doméstico, e reforça o estereótipo que recai sobre mulheres que se engajam na luta feminista. Para Marina, o que pode ser visto como uma brincadeira para alguns foi uma ofensa.
"Foi claramente uma forma de me ofender, me colocando em um estereótipo da feminista", aponta Marina, que se identifica com as teorias feministas e afirma que tem estudado mais sobre o assunto, já que "tem muita gente que tem preconceito com o termo feminismo". "Liguei para a Jadlog assim que recebi o pacote, uma mulher me pediu desculpa e que ia repassar para o pessoal dela. Só que resolvi postar no meu Instagram, porque não queria ficar calada."
As estampas das camisetas destacam justamente palavras e frases de luta pela igualdade de gênero e de combate ao machismo e o patriarcado. As peças escolhidas por Marina foram de "Lindo dia para destruir o patriarcado" e "Que nada nos defina, que nada nos sujeite. Que a liberdade seja a nossa própria substância, já que viver é ser livre", da escritora e filósofa feminista francesa Simone de Beauvoir.
Marina reforça que a mensagem deixada possivelmente por um funcionário da Jadlog não é uma "mera brincadeira". "Eu trabalho com muitos homens e vejo o quanto o machismo, o racismo, a homofobia são estruturais, porque tudo fica nessa de ser brincadeira. A empresa não tem culpa pelo que o funcionário faz, mas nos tempos que vivemos isso não cabe mais. Por isso que chegamos em 2021 com uma sociedade machista, homofóbica e racista como a que temos."
Universa enviou e-mail para a assessoria de imprensa da Jadlog na manhã desta terça-feira (27) questionando se houve apuração interna sobre o ocorrido. No final da tarde, a empresa informou que "repudia o comentário machista e a atitude discriminatória às mulheres expressa na encomenda" e que "está buscando apurar a origem da alteração da embalagem, para verificar se ela ocorreu ou não dentro do seu sistema, considerando que são inúmeras as etapas percorridas por uma encomenda até chegar ao destinatário final". Disse ainda que atua na defesa da igualdade de gêneros e na valorização das mulheres e que aderiu aos princípios de empoderamento feminino da ONU Mulheres Brasil.
"Camisetas são para disseminar feminismo", diz proprietária
A proprietária da The Feminist T-Shirt, Délis Magalhães, 27 anos, afirma que o recado deixado à cliente na caixa é "um absurdo". "E só mostra o quão necessário é esse trabalho, porque o principal objetivo da marca, acima de vender camiseta, é disseminar o conhecimento real sobre as teorias feministas."
Criada em junho do ano passado, a empresa é tocada apenas por Délis e tem equipe de designers feminina e atuação com pequenos fornecedores. O transporte das encomendas é feito por empresas terceirizadas, como a Jadlog. "É essencial um posicionamento deles e que tomem iniciativa sobre o que aconteceu".
Ela alega que, depois que o caso ganhou repercussão nas redes sociais e outras mulheres foram ao perfil oficial da transportadora para reclamar, parte dos comentários foi apagada. Também diz que entrou em contato com a Jadlog e com a plataforma intermediária de venda para buscar respostas em relação ao caso de Marina.
Délis afirma que foi a primeira vez que vivenciou um episódio de machismo relacionado à sua empresa. "Foi bem chocante. Mas é exatamente isso que a gente tem que combater", analisa.
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