Mulheres Pós 2020: como a pandemia acelerou o esgotamento mental feminino
Sobrecarga mental é um assunto que, há tempos, faz parte do cotidiano feminino. De acordo com dados levantados pelo ThinkOlga, se todas as atividades da economia do cuidado realizadas por mulheres (por economia do cuidado entende-se tarefas relacionadas ao trabalho doméstico, à assistência a pessoas com deficiências e doentes) fossem remuneradas, elas seriam equivalentes a duas vezes o valor do PIB gerado pelo setor agropecuário no Brasil em um ano.
Agora, com a pandemia, a situação ficou ainda mais crítica. Aprisionadas dentro de casa, muitas estão lidando com diversas cobranças que impactam diretamente em sua saúde mental; elas se preocupam 24 horas por dia, 7 dias por semana, com o lar, com a criação dos filhos e com a performance profissional — vale ressaltar que o esgotamento também atinge aquelas que saem de casa para trabalhar, como, por exemplo, as profissionais da linha de frente do combate ao coronavírus.
Pensando no assunto, a jornalista Maíra Liguori, a diretora de pessoas da Azul, Camila Almeida, a diretora de saúde mental da Ambev, Mariana Holanda, e a gerente de resiliência, Viviane Elias Moreira, reuniram-se para falar sobre os efeitos da pandemia na saúde mental da mulher. Estamos preparados para um burnout global?
A conversa faz parte do primeiro painel do terceiro dia do "Mulheres pós 2020", evento transmitido por Universa. Veja outros momentos da conversa a seguir:
"Todo mundo que já sofreu um burnout sabe que existe um antes e um depois"
Mariana Holanda assumiu o cargo de diretora de saúde mental da Ambev pouco tempo depois de ter sofrido um episódio de burnout. Em sua visão, o enfrentamento ao problema não é uma questão individual e deve ser debatido abertamente.
Ela traz uma pesquisa recente da Catho para exemplificar como a pandemia afeta a saúde mental feminina. Segundo o levantamento, 60% das entrevistadas afirmaram sentir os impactos do distanciamento social em suas saúdes emocionais e 79% se disseram mais ansiosas por causa do contexto mundial.
"Todo mundo que já viveu um burnout sabe que existe um antes e um depois do episódio. A pandemia deu uma acelerada no debate do assunto, mas já sabíamos da importância do tema antes disso. Em 2019 o burnout já tinha sido classificado como uma doença ocupacional", aponta a executiva.
Assim como Mariana, Viviane Elias também defende que o primeiro passo no combate ao problema é "falar do assunto". "Em 2018 um estudo mostrou que a cada 5 trabalhadores, 3 já apresentavam sinais de esgotamento mental. Depois da pandemia, esse cenário piorou - principalmente para as mulheres e para aquelas que estão na linha de frente do combate ao vírus".
O papel da empresa no combate ao esgotamento mental é crucial
Camila Almeida, da Azul, traz exemplos de práticas adotadas pela companhia aérea: "Como dependemos do turismo, fomos um dos primeiros setores a sentirem o impacto da pandemia. Dormimos com mais de 1000 voos e acordamos com 70. Foi um momento de incerteza e preocupação", ela conta. "Desde o começo da pandemia intensificamos a comunicação com nossos funcionários, que chamamos de tripulantes. Trabalhamos com diversos programas de assistência médica, pedimos para que os líderes não marquem reunião no horário de almoço, etc".
Na opinião de Viviane, as "empresas precisam entender que CNPJs são feitos de CPFs". Dar, portanto, atenção para a saúde mental dos colaboradores traz um impacto não só para a performance de um indivíduo, como também para a empresa. "É preciso agir. Agir em prol de um status quo mais inclusivo. A OMS já avisou que a próxima pandemia será da saúde mental e gente sabe que no Brasil o recorte de desigualdade é um dos primeiros gatilhos para a saúde", pontua.
As empresas precisam entender que CNPJs são feitos de CPFs" - Viviane Elias
Para combater o esgotamento mental em mulheres, todas as participantes defenderam uma maior participação masculina nas atividades domésticas. Viviane, inclusive, ressaltou o papel das empresas na desconstrução de padrões sexistas no comportamento de seus funcionários: "Temos que trazer o homem para o centro da conversa para que ele não designe todo o trabalho para a mulher. Eles precisam entender que o cuidado é compartilhado".
Maíra Liguori, jornalista e mediadora da conversa, encerrou o debate com um apelo: "Homens, não demorem. Estamos cansadas!".
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