Ginecologia natural para iniciantes: conheça os principais fundamentos
A ginecologia natural tem toques de sabedoria ancestral e primitiva, mas começou a ganhar destaque — ou melhor, voltou a ter relevância — nos últimos anos. Em países da América Latina, essa retomada foi marcada pelo lançamento do livro "Manual de Introdução à Ginecologia Natural" (e-book à venda na Amazon, editora Ginecosofía), da chilena Pabla Pérez San Martín, em 2015.
Trata-se de uma terapia holística que busca lançar um olhar sobre o corpo feminino diferente da medicina convencional, atendendo a mulher em sua complexidade física, emocional, energética e mental. A ideia é tratar a paciente e não a doença. São propostas que vão ao encontro da valorização do autocuidado e aos preceitos do sagrado feminino. Conheça, a seguir, alguns dos principais temas da ginecologia natural:
1. A menstruação deve ser encarada com naturalidade
O ideal é evitar absorventes industriais, cujo algodão, para ser clareado, recebe substâncias nocivas e estaria relacionado ao aumento do fluxo e das cólicas, segundo especialistas. As melhores opções em prol da saúde da vulva seriam os coletores, o disco menstrual, as calcinhas próprias para o período e os absorventes de pano. Há a indicação de o descarte da menstruação via coletor ser feita em plantas ou na terra, para completar o ciclo da natureza. Além disso, existe a Mandala da Lua, ferramenta que ajuda a mapear e a sincronizar o ciclo menstrual e o ciclo lunar. Na prática, consiste em fazer anotações diárias em um diagrama mensal específico, estipulando a data, o dia do ciclo menstrual, a fase da lua que está regente e os padrões físicos, mentais e emocionais referentes a cada dia e fase do seu ciclo.
2. Ervas são fundamentais
Em vez de medicamentos tradicionais, a palavra de ordem é utilizar ervas para tratamento de males como candidíase (em especial a de repetição), vaginite, cólicas menstruais, miomas e infeção urinária. As mais usadas são camomila, artemísia e calêndula, que podem ser adotadas de diversas formas: chás, compressas, banhos de assento, vaporização de útero, óleo essencial, escalda-pés, etc. Outra forma de recorrer à natureza, dessa vez na hora do sexo, é substituir o lubrificante por óleo de coco, que facilita o deslize e dura mais tempo que o produto na versão industrial.
3. Vulva só se limpa com água e sabão
Nada de sabonetes íntimos ou lenços umedecidos para fazer a limpeza da região. A vulva é muito delicada e tem uma fina camada gordurosa protetora que o lenço acaba removendo, o que pode ressecar, irritar, causar coceiras e corrimentos. Já o sabonete, se não for 100% natural, oferece o risco de alterar o pH vaginal e causar alergias e corrimentos. As ginecologistas avisam que a vagina e a vulva são "autolimpantes" e que a secreção do dia a dia, na verdade, são células mortas e bactérias eliminadas pelo colo do útero.
4. Só cuida bem do corpo quem o conhece direito
Um dos princípios mais valorizados pela ginecologia natural é que toda mulher precisa conhecer bem o próprio corpo e reconhecer quando algo vai mal. Isso vai muito além de se masturbar e identificar pontos e padrões de prazer, o que também é bastante válido. Tem mais a ver com a observação atenta do ciclo menstrual, do colo do útero — com um autoexame diante de um espelho — e do muco cervical a fim de checar possíveis alterações.
5. Calcinha? Só quando for estritamente necessário
Toda a região vulvar precisa respirar livremente. Toda mulher deveria abusar de saias, calças mais soltas e peças com tecidos leves. É fundamental evitar ficar muito tempo com peças excessivamente coladas ou justas, como roupas de ginástica e calças jeans. Tecidos sintéticos podem "abafar" a área e causar proliferação de bactérias. A melhor aposta é o algodão, mas quanto menos vezes uma mulher puder usar calcinha, melhor.
Pontos controversos
Alguns aspectos da ginecologia natural são tidos como discutíveis por adeptos da medicina convencional. Para isso, algumas especialistas aconselham unir as duas práticas e tirar proveito daquilo que é mais necessário e benéfico em cada uma. O que tem gerado discussão:
- Críticas ao uso de contraceptivos hormonais: a camisinha feminina seria uma alternativa para dispensar o uso de hormônios, que, além de aumentarem o risco de doenças como trombose, muda a fisiologia natural. Porém, há certos males, como ovários policísticos, que são regulados via pílula.
- Argumento de que ervas não tratam infecções e problemas sérios: a infecção urinária mal tratada, por exemplo, pode comprometer os rins. É um quadro que exige o uso de antibióticos. A endometriose, conforme o caso, sem uma técnica adequada (cirurgia, em muitas circunstâncias), também atinge outros órgãos.
- Falta de comprovação científica de algumas práticas: a técnica de se sentar em um vaporizador com ervas ganhou muitos adeptos após a atriz Gwyneth Paltrow se declarar adepta da prática, que, em tese, serviria para tonificar, higienizar e equilibrar os hormônios vaginais. "Goop", a série sobre bem-estar da estrela na Netflix, causou um monte de reclamações por mostrar essa e outras práticas sem aval de pesquisas ou cientistas.
Fontes consultadas: Bel Saide, médica formada pela UFRJ (Universidade do Federal do Rio de Janeiro) e especialista em ginecologia natural; Débora Rosa, médica formada pela UFRJ e especialista em ginecologia natural; Karen Rocha De Pauw, ginecologista e obstetra formada pela UFU (Universidade Federal de Uberlândia) com especialização em Reprodução Humana pelo HC-FMUSP (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo), e "Manual de Ginecologia Natural & Autônoma", de Lais Souza, Jaqueline de Almeida, Maíra Coelho e Luma Flôres.
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