"Violência aumenta com mais mulheres nas eleições", avalia Talíria Petrone
O Brasil registrou, nos últimos cinco anos 327 casos de violência política, sendo 125 assassinatos e atentados, 85 ameaças, 33 agressões, 59 ofensas, 21 invasões e 4 casos de criminalização. Isso sem contar com o período pós eleições municipais de 2020.
Em 2019, foi uma ocorrência a cada três dias, segundo dados do relatório "Violência Política e Eleitoral no Brasil", organizado pela Terra de Direitos e pela Justiça Global. E é por causa desses números que a deputada federal Talíria Petrone (PSOL-RJ) realiza, nesta segunda-feira, (03) a audiência pública Violência política contra mulheres negras.
A própria deputada já foi vítima de violência política. Em 2019, enviou uma carta de denúncia à ONU relatando ameaças a sua vida. Em uma delas, a pessoa afirmou que tinha o objetivo de "jogar uma bomba na piranha que o PSOL elegeu". Em documento, ela pediu que o governo brasileiro tomasse medidas concretas para garantir a sua segurança. Talíria precisou se mudar do Rio com a família. Na época, ela falou sobre essas ameaças com Universa:
"Já chorei de exaustão e fiquei na dúvida se dou conta das responsabilidades como deputada. Além de ter de lidar com as tarefas de casa, o cuidado com a minha filha e os trabalhos do mandato, as ameaças das quais sou vítima me deixam ainda mais tensa e amedrontada".
O relatório atenta que as vítimas mais afetadas pela violência política são justamente as mulheres, sobretudo as negras. Na avaliação de Talíria, a violência vai desde o desfavorecimento na divisão ou mesmo desvio de recursos dos partidos, até atentados e assassinatos.
"Com o crescimento, ainda que tímido, da participação das mulheres nas disputas eleitorais e, notadamente, o sucesso que negras e LGBTQIA+ têm conquistado nesses processos, a violência política passa a nos atingir desproporcionalmente. No caso das mulheres negras e trans, especialmente, em maior ou menor intensidade, nenhuma é poupada por essa forma de opressão que tem como objetivo final nossa exclusão dos espaços de poder e decisão, já tradicionalmente tão desfavoráveis a nós", afirma.
O debate, em parceria com a Comissão de Legislação Participativa (CLP) e com as organizações Terra de Direitos, Justiça Global e Instituto Marielle Franco, visa ainda alertar para o fato de 63% das investigações sobre o tema em curso não foram identificados suspeitos dos crimes. Em todos as vezes que os agentes responsáveis pela agressão foram identificados, no entanto, eles eram do sexo masculino.
Em 2018, por exemplo, o mundo se comoveu com a execução da vereadora do Rio pelo PSOL Marielle Franco junto ao seu motorista, Anderson Gomes, e mais de três anos depois não se sabe quem mandou matá-la nem os motivos. Sua irmã, Anielle Franco, participará do debate.
"O absurdo é normalizado contra as mulheres"
Em sua coluna de 14 de abril, a colunista de Universa Isabela del Monde lembra que há 89 anos as brasileiras conquistaram o direito de votar e de serem votadas, mas "parece que a praxe é que conquistas e orgulho sejam pervertidos em instrumentos de preservação de desigualdade".
A advogada se baseia na quantidade de candidaturas laranja de mulheres ao longo de nossa instável democracia ou o descumprimento da legislação eleitoral que determina que 30% do valor do fundo partidário seja destinado a candidaturas femininas — de acordo com a DeltaFolha, candidatos homens receberam 73% do dinheiro nas eleições municipais de 2020.
Isabela lembra ainda que durante as eleições, enquanto os homens, com exceção de idosos e LGBTQIA+, são julgados pela população e seus pares pelo que fizeram em suas carreiras políticas, as mulheres são apontadas por quem são: gordas, trans, negras, jovens, idosas, feias, promíscuas, e assim por diante.
Esse cenário foi identificado pelo MonitorA, uma parceria da revista "Azmina" e do InternetLab, que acompanhou, de setembro a novembro de 2020, as redes sociais (Twitter, Instagram e YouTube) de 175 candidaturas, de homens e mulheres, para cargos de vereança, vice-prefeituras e prefeituras.
"Vivemos em um país em que o absurdo é normalizado contra as mulheres", afirma Isabela.
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