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"Após traição, virei detetive de maridos e cobro até R$ 10 mil por caso"

Eduarda já atendeu mais de 400 casos e garante que apenas 7% dos homens são fiéis - Acervo pessoal
Eduarda já atendeu mais de 400 casos e garante que apenas 7% dos homens são fiéis Imagem: Acervo pessoal

Eduarda Lima em depoimento a Ana Bardella

De Universa

06/05/2021 04h00Atualizada em 06/05/2021 14h51

"O começo da minha história é parecido com o de muitas mulheres: tinha uma vida estável, até que descobri uma traição e fiquei com o coração partido. Só que, no meu caso, transformei as feridas em negócio. Criei uma empresa que investiga casos de infidelidade e hoje atendo principalmente clientes de luxo.

Nasci em uma cidade pequena de Minas Gerais, mas aos 14 anos me mudei para Juiz de Fora a fim de estudar. Cursei duas faculdades, a última delas na área financeira, e comecei a trabalhar para uma multinacional. Depois, abri uma empresa que vendia toners e cartuchos para impressoras. Tinha uma condição financeira boa, fazia muitas viagens e namorava um rapaz por quem era bastante apaixonada. Ficamos juntos por quase cinco anos, até descobrir que ele mentia para mim.

Ele tinha muitas amigas e estava sempre viajando a trabalho. Desconfiada, passei a investigá-lo. Em pouco tempo, consegui provas de que as viagens não batiam com a agenda profissional. Descobri que ele ativava o Tinder quando estava em outras cidades, tinha casos com mulheres de fora e, por causa de um gasto no cartão de crédito, soube até que estava envolvido com garotas de programa.

O processo do término foi extremamente dolorido. Tive que ouvir que era 'louca' e que estava inventando tudo. Entrei em uma crise depressiva, perdi muito peso e, sem sair da cama, acabei deixando a empresa de lado. Voltei a morar na minha cidade natal e só consegui me reerguer porque tive o apoio da minha família. Graças ao incentivo deles, me tornei funcionária da prefeitura.

"Jurei que todas as vezes que um homem estivesse fazendo uma mulher de idiota eu iria ajudar"

Eduarda começou ajudando mulheres sem receber dinheiro em troca - Acervo pessoal - Acervo pessoal
Eduarda Lima se profissionalizou como detetive após descobrir traições do ex-namorado
Imagem: Acervo pessoal

Um dia, quando já estava com a vida mais estabilizada, entrei em grupo feminino no Facebook e vi a postagem de uma moça de 20 anos abrindo seu coração sobre um dilema amoroso. Ela estava noiva de um rapaz que dizia ser piloto de avião, mas acreditava que pudesse estar sendo enganada.

A história me tocou e começamos a conversar no privado. Disse que iria ajudá-la. Pedi o perfil do tal namorado e comecei a segui-lo no Instagram. Na mesma hora, ele me seguiu de volta e curtiu várias fotos. Puxei uma conversa e fui reunindo diversas informações desencontradas. Paralelamente, puxei dados disponíveis em órgãos públicos. Descobri que ele não tinha sequer licença para dirigir, quanto mais pilotar um avião.

Após mostrar as provas para a menina, ela terminou o relacionamento e me agradeceu muito. Tanto que fez um post, nesse mesmo grupo, contando sobre como eu havia ajudado. A publicação tomou grandes proporções e minha caixa de mensagens ficou lotada com outras mulheres, oferecendo até dinheiro pelos meus 'serviços' — que até esse momento não eram monetizados. Tocada pelas mensagens, eu respondi a todas. Jurei que se elas estivessem sendo feitas de idiotas, eu iria ajudar.

"Comecei cobrando R$ 50, mas cheguei a atender um caso de R$ 10 mil"

Para atuar no primeiro caso como detetive, cobrei apenas R$ 50. Mas, quando me vi com 20 atendimentos simultâneos, fui obrigada a subir o valor. Acabei caindo em um nicho. Depois de ajudar uma amiga dos EUA, ela me recomendou para conhecidas que também vivem por lá e hoje tenho uma parcela de clientes que vive em Miami. Pouco a pouco, fui montando um pacote de serviços que inicia em R$ 500, mas aumenta de acordo com as especificações de cada caso.

Percebendo o quanto as mulheres chegavam até mim fragilizadas, procurei uma psicóloga para auxiliar. Além de me orientar nas situações mais delicadas, ela também criou, em conjunto comigo, uma classificação dos tipos de personalidade dos homens que investigamos.

A partir das informações que as clientes nos traziam, montamos uma lista de 12 personalidades e definimos as estratégias através delas. A mais comum ainda é o cafajeste descarado: aquele que dá em cima fácil se outra mulher corresponde ao tipo físico que ele acha mais atraente — mas existem também os desconfiados, que demoram mais para corresponder às investidas.

Percebendo que não daria conta de atender a tantos serviços, fui estendendo minha rede e convidando amigas e conhecidas para trabalhar comigo nas abordagens. Todas elas são acompanhadas de perto e recebem um detalhamento de como se comportar. O time foi crescendo e, atualmente, conto com o auxílio de 14 colaboradoras, dentro e fora do Brasil.

Minha equipe deve passar muita credibilidade, por isso não usamos contas falsas. As ajudantes, que têm diferentes tipos físicos, utilizam seus perfis nas redes sociais para fazer as abordagens e não atuam de forma descarada. São orientadas a agir como mulheres reais, que estão paquerando. Nosso objetivo é marcar um encontro. Depois que o homem aceita, mandamos as provas para as clientes e damos um jeito de desmanchar a situação sem levantar suspeitas.

Como meu rosto já ficou conhecido, hoje não faço mais as investigações, apenas coordeno a equipe. Há casos, por exemplo, em que a história fica mais complicada. Se o homem já está envolvido com outra pessoa, geralmente recorro aos serviços de um fotógrafo para fazer o flagra. Também temos um advogado parceiro, que auxilia a mulher caso ela opte pelo divórcio. Em um dos casos, que envolvia uma figura pública e demandou uma viagem para outro estado, chegamos a cobrar R$ 10 mil.

"Investiguei mais de 400 homens e apenas 7% deles foram fiéis"

Em dois anos, foram mais de 400 clientes atendidas. Faço questão de investigar apenas homens, porque a minha missão tem a ver com ajudar outras mulheres.

Mas confesso que, enquanto os negócios cresciam, minha vida pessoal bagunçava: durante um período, se tornou difícil me relacionar. Até porque, as estatísticas não ajudam. Percebi que em 93% dos casos a infidelidade masculina acontece. Passei a acreditar que a monogamia realmente não é natural — e que são poucos que fazem essa escolha e conseguem se manter nela. É uma questão de criação e de caráter.

Nos primeiros meses atendendo, intercalava entre períodos de não querer saber de homens e outros de beijar todos na balada, mas não desenvolver sentimentos reais por nenhum. Brinco com as minhas amigas que meu faro para a infidelidade se tornou muito aguçado — mas é claro que isso também gerou bloqueios. Achei até que nunca mais conseguiria me apaixonar de novo.

Esse pensamento mudou quando conheci alguém que tem a alma bonita, em quem pude reconhecer uma inocência que não via há tempos. Atualmente estamos separados por diferenças de idade e porque estamos passando por fases distintas. Mas sou muito focada: ele me fez acreditar novamente nas pessoas e espero que um dia possamos ficar juntos.

Por enquanto, sigo trabalhando. Nunca foi minha intenção que o negócio se transformasse em algo tão grande, que fosse chamada para abrir franquias, expandir tanto ou dar entrevistas. Mas, já que aconteceu, não pretendo desperdiçar a oportunidade" Eduarda Lima, 31 anos, Espera Feliz (MG)

Errata: este conteúdo foi atualizado
Diferentemente do informado, Eduarda ocupa um cargo comissionado na prefeitura.