Mulheres no exército: brasileira conta como funciona o trabalho em Israel
Vivendo em Israel há três anos, a brasileira Ana Baron, 22, sempre teve forte envolvimento com a cultura judaica. Desde a primeira visita ao país, ela se apaixonou pelos costumes e, depois de algum tempo, decidiu se mudar para lá.
E a imersão foi além do turismo local. Ela resolveu servir ao exército israelense. Ao contrário do Brasil, onde somente os homens são obrigados a entrar no serviço militar, por lá, mulheres também precisam se alistar. "Vi que era um jeito de me inserir na sociedade israelense, aprimorar o hebraico e conhecer mais", afirma.
Ela conta que nunca teve o desejo de entrar para esse tipo de trabalho, principalmente diante da imagem que tinha do exército no Brasil. Mas, ao chegar lá, viu que era uma situação bem diferente. "Não tem nem comparação. É completamente outro mundo", diz. A princípio, ela recebeu a informação que deveria servir por um ano e depois descobriu que o tempo para mulheres é de dois anos.
Treinamento puxado
Depois de algum tempo, Ana se acostumou com a ideia de entrar no exército e até acelerou seu ingresso, já que pessoas de outras nacionalidades podem não ser chamadas. Ela conta que já estava com 20 anos e poderia ser considerada velha pelo serviço e por isso resolveu encarar a oportunidade. "Arrisquei e no final fui chamada", relembra.
Para os jovens israelenses, o preparo começa ainda na escola e os adolescentes passam por provas psicotécnicas e treinamentos para identificar em qual perfil eles se encaixam para ocupar a base militar.
Alguns podem ir para serviços administrativos ou direto para o front, como na Faixa de Gaza ou outros locais. Na prática, somente os homens vão para essas regiões. De acordo com a brasileira, "algumas mulheres até reclamam porque não são inseridas nestes tipos de ações, já que o exército é aberto a todos".
Quando foi aceita no serviço militar, ela passou por um treinamento de dois meses, que incluía aulas de tiro, primeiros socorros e até permanência na selva, se alimentando com comida enlatada.
Eu sou meio chorona. Então, as primeiras vezes que atirei foram difíceis e eu ficava pensando por que eu tenho que andar com uma arma. Não tem nada a ver comigo.
Além de saber manusear uma arma, todos os soldados precisam aprender primeiros socorros e saber como agir em situações extremas.
Rotina cansativa
Após os primeiros treinamentos, ela foi trabalhar nos serviços administrativos do exército. Sua função era dar aulas sobre o papel da organização na sociedade e mostrar como funcionam as Forças de Defesa de Israel. Geralmente, a rotina começava às cinco e meia da manhã e, às vezes, acabava às dez da noite.
Ela recebia diversos soldados que vinham de muitos lugares e tinham passado por várias situações. "Eu tinha que ensinar valores a eles. Muitas vezes pegava soldados com problemas de saúde e outros problemas, então, meu papel era ensinar. Era algo bem nacionalista".
Durante a pandemia, ela e outros soldados também iam até a casa das pessoas e ajudavam na coleta e realização de exames de coronavírus. Mesmo passando por situações consideradas complicadas lá dentro, ela se sentia, muitas vezes, uma pessoa privilegiada. "Tinha gente que não podia nem mexer no celular. Como eu era de outro país e estava lá sozinha, ainda podia fazer isso", diz.
Outro agravante é o fato de jovens terem que mudar sua rotina desde muito cedo. Em vez de irem para faculdade, eles precisam entrar no exército e receber ordens de pessoas com idades semelhantes às deles e se acostumar rapidamente com o dia a dia militar.
Ajuda psicológica e transtorno pós-traumático
Como é um trabalho puxado, que envolve muito desgaste físico e psicológico, os soldados têm direito a psicoterapia durante todo o período em que estão no serviço.
Embora tenha esta ajuda, é muito comum apresentarem transtorno pós-traumático quando deixam as bases militares. "Tem pessoas que viveram a guerra de perto e veem gente morrendo. Então sempre sofrem com pós-trauma", relata Ana.
Por causa disso, depois do fim do período no exército, muitos partem em busca de uma viagem ou sabático pelo mundo. A brasileira conta que a maioria escolhe a América do Sul, para descansar e tentar decidir o que fará no futuro.
Agora, após um mês de sua saída, ela ainda está decidindo o que pretende fazer nos próximos meses, mas não pretende voltar ao Brasil.
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