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Tatiane Spitzner: 10 mil páginas de conversas mostram discussões do casal

Luis Felipe Manvailer, acusado de feminicídio e fraude processual no caso da morte de Tatiane Spitzner - Reprodução/Instagram
Luis Felipe Manvailer, acusado de feminicídio e fraude processual no caso da morte de Tatiane Spitzner Imagem: Reprodução/Instagram

Lorena Pelanda

Colaboração para Universa, em Curitiba

08/05/2021 10h42Atualizada em 09/05/2021 00h31

O quinto dia do julgamento de Luís Felipe Manvailer foi retomado na manhã deste sábado (08), em Guarapuava, no Paraná. O biólogo é acusado pela morte da esposa, a advogada Tatiane Spitzner, em julho de 2018.

Durante a sessão, foram apresentadas mais de 10 mil páginas de trocas de mensagens entre o casal, que indicam que Manvailer tentava intimidar Tatiane com frequência. As mensagens apresentadas pelo Ministério Público do Paraná estão sendo usadas para comprovar que Manvailer colocava medo, humilhava e xingava Tatiane, assim como apresentava episódios de ciúmes excessivo. O material completo foi entregue para os sete jurados.

Com a autorização do juiz Adriano Scussiatto, foi exibido também um vídeo com depoimento do médico Rodrigo Crema, que prescreveu medicamentos encontrados pela polícia no apartamento na ocasião do crime. O profissional contou que o casal o procurou com interesse em nutrição esportiva. Segundo as investigações, o médico receitou diferentes remédios, como testosterona e um antidepressivo.

À Universa, Gustavo Scandelari, advogado da família de Tatiane e assistente da acusação, reforça que durante o depoimento o médico foi enfático ao dizer que Tatiane nunca teve sinais clínicos de depressão. "Pelo contrário, era uma moça alegre, que fazia planos para o futuro. Ele recordou inclusive que a advogada iria prestar um concurso público poucos dias depois da data em que foi assassinada".

"Ataques a Tatiane são irrelevantes e mostram padrão da defesa"

Durante quase quatro horas de depoimento, o irmão do réu, André Manvailer, disse ontem que acredita que o uso de anabolizantes pode ter modificado o comportamento do acusado. Apesar de conversas comprovarem frequentes brigas entre o casal, André relatou que nunca presenciou ou soube de agressões físicas entre os dois e que o comportamento do irmão não tinha mudado meses antes da morte.

André também afirmou durante o julgamento que considerava Tatiane "narcisista", já que nas redes sociais ela só postava foto sozinha, diferentemente do irmão, que sempre estava acompanhado nas publicações. Por causa do grau de parentesco, o irmão do acusado deu esse depoimento apenas como informante.

Antes do julgamento deste sábado, os advogados das duas partes conversaram com a imprensa. Gustavo Scandelari lamentou os frequentes ataques à vítima por parte da defesa de Manvailer. "É desnecessário e irrelevante. Mostra um padrão de argumento da defesa, de não querer enfrentar as provas técnicas e científicas."

O advogado do réu, Cláudio Dalledone Junior, rebateu, afirmando que as testemunhas estão mudando de versão. "A acusação quer julgar o caso somente com as imagens do elevador e da garagem [momentos antes da morte de Tatiane, imagens do circuito interno de câmeras do prédio em que o casal vivia filmou Manvailer agredindo a mulher]. Os depoimentos estão mudando e muitas testemunhas já se retrataram de maneira muito firme", diz.

Desde o início do julgamento, na última terça-feira (04), onze pessoas já falaram perante os jurados. A previsão é que veredito só seja conhecido neste domingo (09).

Ainda hoje estão previstos os depoimentos de dois técnicos da defesa, além da transmissão de dois vídeos de duas testemunhas que eram vizinhas do casal. Em seguida, Manvailer, que acompanha o júri presencialmente, pode escolher se quer falar ou não.

Em média, três perguntas tem sido feitas pelo júri para cada uma das testemunhas a fim de apurar o que aconteceu na noite do dia 22 de julho de 2018, quando Tatiane foi encontrada morta, após cair do quarto andar do prédio em que morava com o marido. Desde o crime, Manvailer está preso preventivamente na Penitenciária Industrial de Guarapuava (PR). Ele é acusado de homicídio qualificado (feminicídio e morte mediante asfixia) e também responde por fraude processual.

Entenda o caso

  • Tatiane Spitzner morreu em julho de 2018, em Guarapuava (PR). Foi encontrada após cair do 4° andar do prédio;
  • Luis Felipe Manvailer é acusado de ter matado Tatiane por enforcamento e jogado seu corpo da sacada do edifício. Câmeras registraram o acusado agredindo Tatiane no elevador, recolhendo o corpo dela na calçada e, por fim, limpando as marcas de sangue;
  • A acusação defende que Tatiane foi jogada. A defesa afirma, agora, que ela se acidentou;
  • Depois de três julgamentos adiados, o júri popular de Manvailer começou na terça-feira (4) e deve acabar no domingo (9). Manvailer responde pelos crimes de homicídio (com as qualificadoras de motivo fútil; mediante asfixia e meio cruel; e feminicídio) e fraude processual.