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Caso Klein reproduz pacto da masculinidade, diz coordenadora do MeToo

De Universa, em São Paulo

10/05/2021 13h13Atualizada em 23/06/2022 18h25

A advogada, coordenadora do movimento MeToo Brasil e colunista de Universa Isabela Del Monde afirmou que o tratamento dado pelo judiciário às denúncias de abusos sexuais envolvendo Samuel e Saul Klein, respectivamente fundador das Casas Bahia (morto em 2014) e seu filho, reproduzem o chamado pacto da masculinidade, que é quando homens aliviam ou relativizam práticas cometidas por outros homens.

Em participação no UOL News Tarde, ela declarou que os crimes de violência contra as mulheres estão entre os de maior impunidade no Brasil porque, geralmente, são investigados, denunciados e julgados por homens, que tendem a adotar um comportamento corporativista.

Estrategicamente, até faz sentido que homens não tratem as coisas como deveriam porque têm amigos envolvidos, conhecidos que fazem a mesma coisa. Vemos na prática um exercício do pacto da masculinidade, como homens têm um corporativismo de proteger condutas violentas e criminosas de outros homens
Isabela Del Monde, no UOL News Tarde

A coordenadora do MeToo também criticou decisão da Justiça que revogou medidas protetivas em favor das vítimas no inquérito contra Saul Klein, aceitando argumento da defesa de que o empresário atuou como "sugar daddy" e que as relações foram consensuais.

"É muito desgastante termos um juiz que, diante de 32 relatórios psicológicos, jurídicos e sociais de cada uma das vítimas, os tenha ignorado e dando como valor um papel dizendo que Saul é 'sugar daddy'. (...) Ignorar as provas desse jeito e colocar essas mulheres em risco, é absolutamente desumano e, na minha perspectiva, ilegal", declarou a advogada.

Entenda o caso

No dia 25 de dezembro, o UOL Esporte publicou reportagem detalhando o funcionamento de um esquema de prostituição e aliciamento mantido pelo empresário Saul Klein por uma década — de 2008 a 2019. No dia 30 de abril deste ano, outra série de reportagens foi publicada por Universa mostrando mais detalhes das acusações e trazendo trechos de depoimentos que fazem parte do inquérito policial envolvendo 32 vítimas. A investigação corre em segredo de Justiça.

O empresário é investigado por aliciamento, estupro, exploração sexual, prostituição, entre outros crimes. As mulheres relataram em entrevistas e em depoimentos entregues à Justiça que sofriam abusos sexuais, violência física e psicológica. Eram pagas para participarem de festas e passarem alguns dias na casa do empresário, mediante remuneração de até R$ 4.000 por semana.

O advogado de Saul Klein, André Boiani e Azevedo, nega as acusações de crime sexual contra seu cliente. Ele afirma que o empresário teve contato com diversas jovens nos últimos anos e que se relacionou com algumas delas, mas que seria uma relação de "sugar daddy", por meio da qual se "mantém um pagamento, mas não por sexo, [em que ele] sustenta, trata todas como namoradas, essa é a verdade em relação ao Saul".

"Nada do que se diz em termos de violência, de obrigatoriedade, de coação, ele participou", afirma Azevedo. Ainda segundo o advogado, as denúncias contra Klein são parte de uma tentativa de extorsão da dona da empresa Avlis, Marta Gomes da Silva, encarregada até 2019 de agenciar as garotas. O empresário, no entanto, não registrou denúncia de extorsão contra ela.