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O cabelo mudou na pandemia? Talvez o problema esteja no couro cabeludo

Estresse impacta diretamente a saúde da raiz dos fios - Getty Images
Estresse impacta diretamente a saúde da raiz dos fios Imagem: Getty Images

Isabella Marinelli

De Universa

11/05/2021 04h00

A pandemia também colocou em xeque a saúde mental. Há quem tenha sentido as repercussões no organismo depois de tantos meses convivendo com medo, ansiedade, apreensão. Entre as queixas nos consultórios dermatológicos, acne pelo uso de máscara e queda de cabelo figuram entre os problemas mais comuns associadas ao período. Falando especificamente das madeixas, as consequências apareceram tanto nos fios, quanto no couro cabeludo. Coceira, descamação, ardência e sangramentos estão entre os sintomas da ação da montanha-russa de emoções no cabelo.

"O estresse é um mecanismo de defesa da sobrevivência. Quando ameaçados, somos preparados para o ataque. Entretanto, viver em uma atmosfera de risco faz com que o estresse se torne crônico. É como se a gente estivesse dirigindo um carro em terceira marcha sem trocar para a quarta ou a quinta. Fisiologicamente, isso implica em menor distribuição de sangue aos órgãos que não são vitais, como pele e cabelo. Com menor circulação, o couro cabeludo se torna mais inflamado e mais suscetível a doenças", explica a dermatologista Valéria Campos, de São Paulo.

Somam-se a isso as mudanças no estilo de vida, como quem espaçou as lavagens ou passou a usar mais xampu seco durante a quarentena. São as condições perfeitas para o surgimento da dermatite seborreica, popularmente conhecida como caspa.

cabelo cacheado - iStock - iStock
Xampus contra a caspa podem ressecar ainda mais os cabelos crespos e cacheados
Imagem: iStock

Meu couro cabeludo está descascando. O que pode ser?

Quem está sentindo a raiz mais oleosa, com coceira ligeira e pequenos pontinhos brancos aparentes, pode apresentar um diagnóstico de caspa. "Algumas pessoas já têm predisposição, mas ela também aparece ou piora em situações de estresse emocional e estações mais frias", explica a dermatologista Andrea Frange, de São Paulo. Segundo a especialista, o excesso de sebo no couro cabeludo e a contaminação fúngica complicam o quadro.

Quando as escamas são maiores, a coceira é mais intensa e há pontos de vermelhidão intensa ou sangramento, soa o alerta de psoríase do couro cabeludo. "Ela também é uma doença crônica que tem o estresse como um dos gatilhos possíveis. Neste caso, o aspecto de descamação ainda pode avançar a linha do cabelo e ficar aparente próximo ao rosto", define.

O ideal é diferenciar os quadros com auxílio médico para tratá-los adequadamente. "Dependendo do caso, há a possibilidade de realização de biópsia para entender qual doença está se manifestando", conta a especialista.

Se o couro cabeludo não está bem, os fios sofrem

A proliferação de fungos e bactérias, excesso de oleosidade e a falta de nutrição adequada na raiz podem intensificar a queda de cabelo.

"Além disso, há ainda o diagnóstico de eflúvio telógeno agudo, um tipo de queda autolimitada que ocorre cerca de três meses depois de um episódio estressante", diz Andrea. Na prática, vale desde uma situação de luto até uma infecção controlada com medicamentos fortes. Como o nome adianta, dura um período de tempo específico sem repercussões mais graves. Entretanto, quem passa por ele pode sentir alguma perda de densidade do rabo de cavalo ou ainda perceber muitos fios jovens.

Caso sinta dor no couro cabeludo, vale a visita ao especialista. A questão pode pertencer à seara da pele, como excesso de tração ou pressão por acessórios de cabelo, ou ainda representar um reflexo de outras dores, inclusive associadas ao pescoço e à coluna.

Foco no couro cabeludo

Para reduzir a oleosidade e controlar a caspa, é possível lançar mão de xampus voltados ao tratamento da condição. São apenas cosméticos e encontrados em farmácias, mas úteis para deixar a região mais sequinha. "Pela alta capacidade adstringente, indico que a paciente enluve as pontas das mechas com condicionador antes de aplicar o sabão na raiz. Será criada uma barreira física, impedindo que o comprimento sofra com a desidratação — o passo é especialmente importante para as crespas e cacheadas. Após o enxágue, vale repetir o creme", indica Andrea.

Outro ponto importante é evitar o atrito das unhas no couro cabeludo. "Elas criam fissuras microscópicas que permitem a entrada de microorganismos, piorando os quadros citados", argumenta. Nada de prender o cabelo ou dormir com os fios molhados, pois a umidade abafada é terreno fértil para fungos e bactérias, além de facilitar a quebra. "Lave o cabelo todos os dias e não exagere na temperatura da água. Banhos quentes demais estimulam a produção de sebo nas glândulas responsáveis", diz a médica.

Se os sintomas persistirem ou suspeitar de psoríase, o tratamento medicamentoso é indicado. "Um profissional poderá recomendar a terapia mais efetiva, que vai de remédios às loções de uso tópico", finaliza.