"Apanhava do ex, sobrevivi a um AVC e hoje vendo suplementos", diz advogada

"Tenho 59 anos e morei por muitos anos nos EUA, onde tinha uma empresa de home care. Lá fiz muitos cursos na área do direito. Tenho faculdade de letras, artes visuais e ciências jurídicas, além de mestrado em direito internacional e pós em direito da saúde.

Por causa da minha atuação, fui convidada em 2014 para ser vice-presidência do Comitê Internacional contra Crimes de Lavagem de Dinheiro. Fui a primeira mulher brasileira a ocupar esse cargo pela ABA (American Bar Association), a OAB americana.

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Ao mesmo tempo em que vivia esse momento importante na carreira, estava em um relacionamento muito abusivo. Sofria agressões físicas e psicológicas. Ele já quebrou meu braço, mas não denunciei porque quando você vive isso parece que está num torpor, e acha que será só aquela vez. Mas foram dez anos de relacionamento. Acreditava que ele ia mudar.

Como advogada, atendia muitas mulheres vítimas de violência, mas não via que aquilo estava acontecendo comigo. Como éramos sócios, perdi muitos negócios quando sabiam o que fazia comigo

"Depois do coma acordei sem saber quem eu era"

Ainda em 2015, estava me preparando para abrir a minha própria empresa de suplementos alimentares, nos EUA. Eu estava muito interessada por estudos sobre componentes para o sistema metabólico e celular, e logo depois me correspondi com a cientista canadense Marika Bacovik, do Departamento de Saúde Humana e Ciências Nutricionais da Universidade de Guelph, e especialista no tema. A ideia era criar um suplemento que pudesse metabolizar melhor as células para elas se tornarem mais resistentes e fortes, e assim evitar doenças.

Mas no início de 2017, já no Brasil, acordei na minha casa, em Foz do Iguaçu, sentindo cãibra muito forte na perna e no pé. Sentia falta de ar e foi paralisando tudo. A última coisa que me lembro foi falar para o médico: 'Por favor, me salva porque estou morrendo'.

Tive parada cardiorrespiratória. Os médicos deram início ao protocolo de reanimação e fiquei praticamente 15 minutos sem oxigênio. Tive ainda um AVC isquêmico e encefalopatia durante a reanimação. Por isso, fiquei em coma por quase 15 dias.

Ninguém me explicou por que cheguei a esse estado de saúde. Ainda está sob investigação. Mas só fui piorando. O médico chamou meus filhos num domingo e falou: 'Se sua mãe não respirar por ela mesma até quarta, é melhor chamar a família para se despedir'. Minha filha assinou autorização para desligar os aparelhos, mas por fim comecei a reagir.

Acordei sem movimentos e a visão. Nem sabia quem eu era, onde morava. Esqueci toda minha vida acadêmica. Tive que reaprender tudo. Mas contei com o apoio dos meus filhos, irmãs, amigas. Comecei a ver alguma coisa e a sentar para comer depois de 7 meses. Hoje tenho 50% da visão. Sinto que ficou uma sequela cognitiva, mas tenho certeza de que vou recuperar.

Câncer, separação e volta por cima

Voltei a trabalhar mesmo em março de 2019. Minha filha quem tocou os negócios da empresa que estava abrindo. Mas fui surpreendida com a volta de um câncer que enfrentei em 2014, o carcinoma espinocelular. E dessa vez foi mais agressivo. Mas operei e hoje faço acompanhamento. Já tinha perdido meus pais para o câncer num intervalo de seis meses, em 2011.

Ainda descobri que o meu então companheiro vendeu a empresa que tínhamos nos EUA enquanto eu me recuperava. Resolvi dar um basta, e pedi uma medida protetiva para ele não mais se aproximar de mim.

Também decidi voltar a estudar e estou cursando medicina. Se der, em julho agora começo também na turma de biomedicina. Na empresa que comecei a pensar, lá em 2015, a Oro Newlife, hoje conto com uma equipe de dez pesquisadores, divididos entre o Brasil e os EUA, mais os terceirizados. Estamos investindo em nanotecnologia nos produtos do ramo da saúde, beleza e bem-estar, e vendemos suplementos alimentares para consumidores em todo o mundo. A ideia é abrir uma unidade em cada país.

Quero ser inspiração e motivo de superação para as mulheres, mostrar que podemos superar até a morte."

*Marinete Luiza Oro é advogada e ex-vice presidente do Comitê Internacional contra Crimes de Lavagem de Dinheiro; ela vive em Curitiba (PR)