Como Naomi Campbell: elas contam como é se tornar mãe aos 50 anos
Naomi Campbell acaba de entrar para o time de mulheres que se tornaram mães "tardiamente": aos 50 anos, a modelo anunciou na terça-feira (18) a chegada da filha. "Estou tão honrada por ter esta alma gentil em minha vida que não há palavras para descrever o vínculo que agora compartilho com você", escreveu no Instagram, seguido de uma foto segurando os pés da bebê. Até o momento, Naomi não deixou claro para o público se passou por uma gestação, se optou por uma barriga solidária ou se é um caso de adoção.
A escolha de ter um filho nessa idade costuma ser um tabu e envolve muitos julgamentos alheios - seja em relação aos riscos de uma gestação ou ao fôlego que uma mulher precisa ter para acompanhar o ritmo de uma criança. Aqui, Madalena e Fátima contam porquê decidiram encarar a maternidade quando estavam chegando aos 50 e descrevem os desafios e alegrias dessa jornada.
"Dei à luz aos 52 anos. Muitos perguntam se eu sou mãe ou avó"
"Quando me casei, já estava na faixa dos 40 anos e sabia que, caso engravidasse, precisaria de um acompanhamento médico. Mas o tempo foi passando e a vida me apresentou outras questões. Eu, que já tinha um escritório de arquitetura, fui estudar também gastronomia e abri um bistrô. Tinha uma rotina bastante agitada, organizando eventos e dando aula em faculdade, quando resolvi embarcar na ideia de ser mãe. A essa altura, já estava com 48 anos.
Primeiro, precisei fazer um check-up: há alguns anos, tinha me submetido a uma cirurgia bariátrica e, mesmo tendo perdido peso, ainda era obesa. Levei quase um ano fazendo os exames, até que, com o aval médico, procurei uma clínica de reprodução assistida para saber minhas reais possibilidades de engravidar.
A equipe foi sincera comigo: como minhas reservas ovarianas estavam quase esgotadas, a chance era mínima, em torno de 1%. Ainda assim, quis fazer minha parte e topei iniciar o tratamento de fertilização
Em meio ao processo, precisei fazer uma microcirurgia, chamada histeroscopia, para corrigir um problema no útero. Logo em seguida, continuei com o tratamento e consegui engravidar na primeira tentativa, de uma menina. Já estava com 51 anos, portanto, sabia que precisaria tomar o máximo de cuidados possíveis. Fui acompanhada por uma hematologista, um cardiologista e pela minha obstetra. Passei os nove meses sem comer doces e carboidratos, para evitar diabete gestacional. Também diminuí bruscamente as minhas atividades, a fim de não correr riscos. Ao final, nossa filha, Maria Rita, nasceu com 38 semanas e perfeitamente saudável.
Nos primeiros meses, tive a confirmação de que havia feito a escolha certa: com a bebê, precisamos passar muito tempo em casa, quase não tínhamos vida social. Imagino que, para uma pessoa jovem, isso tenha um impacto completamente diferente. Eu já tinha ido para muitas festas, viajado para muitos lugares e estava tranquila em encarar essa fase
A principal limitação, claro, é a física. Uma pessoa de vinte e poucos anos tem muito mais vigor para correr atrás de um bebê quando ele começa a andar. Mas meu companheiro sempre esteve presente, dividindo as tarefas e isso foi fundamental. Acredito, no entanto, que qualquer escolha tenha suas complexidades e essa foi a que encaramos juntos. Dentro do nosso núcleo, nunca tivemos problemas.
Em compensação, fora de casa, já vivi todo tipo de situação constrangedora: desde a gravidez até eventos recentes ao lado da minha filha. Muitos questionam se sou a avó. Outros insinuam que fiz algo de errado, para mim ou para ela. Outro dia alguém comentou que, no futuro, quando ela precisasse de mim, eu é que precisaria ser ajudada. Fico me questionando se essas pessoas conhecem minha saúde, sabem os resultados dos meus exames. No fundo, vejo machismo: o homem pode ser pai até aos 90, mas a mulher tem que ser até os 30. A verdade é que as tecnologias médicas estão aí para nos auxiliar e não me arrependo nem por um segundo de ter tomado essa decisão quando eu tomei".
Madalena Albuquerque, 58 anos, arquiteta, de Recife (PE). É mãe de Maria Rita, de 6 anos
"As pessoas diziam que estava fazendo uma grande bobagem"
"Aos 45 anos, decidi que iria ser mãe, mas as pessoas ao meu redor não aceitaram muito bem a ideia. Sempre que tocava no assunto, alguém me perguntava se eu tinha ficado maluca, porque, afinal, já tinha a vida muito bem estruturada. De fato: antes de me divorciar, havia passado 17 anos casada, sem o desejo de ter um filho. Nesse período, me desenvolvi como personal trainer, conquistei meus alunos e tinha bem estabelecida minha rotina como atleta amadora. As pessoas me diziam que tudo iria mudar.
Ainda assim, com 46 anos, decidi entrar para a fila de adoção. Como não era mais casada, sabia que seria uma jornada difícil e que a minha probabilidade seria menor. Mesmo assim, participava de todas as reuniões e comparecia nas entrevistas
Enquanto esse processo — que é bastante lento — acontecia, comecei a sonhar com uma criança. Era um menino pequeno e muito sorridente, que me abraçava e estava sempre do meu lado. Às vezes, até mesmo acordada, imaginava que ele estava ali.
Por duas vezes, as tentativas não deram certo. Os perfis das crianças que estavam disponíveis não eram compatíveis com as condições de vida que eu poderia proporcionar a elas: em um dos casos, por exemplo, a adoção seria de dois irmãos, uma responsabilidade maior do que a que eu poderia arcar naquele momento. Fiquei apreensiva, até que, aos 48 anos, recebi a terceira ligação. Pedi para que a assistente social desse mais detalhes de como era a criança e meus olhos encheram de lágrima: a descrição batia exatamente com a do menino que aparecia nos meus sonhos. Soube na mesma hora que ele era meu filho.
Quando fui buscá-lo, no abrigo, nossa conexão foi instantânea: ele, que tinha 1 ano e meio, se aconchegou no meu colo e dormiu. Hoje, o Benjamin tem 5 anos e sou casada com a Vanessa, que topou encarar essa experiência ao meu lado
Somos felizes, mas não gosto de romantizar a maternidade: ela dá realmente muito trabalho. Em especial quando você já está passando pela menopausa e todas as mudanças físicas que ela proporciona.
No entanto, posso dizer que as minhas dúvidas todas sumiram. Se um dia me questionei se poderia amar incondicionalmente uma criança, sem ao menos passar pela preparação da gestação, hoje tenho certeza de que sim. E incentivo outras mulheres, com este mesmo desejo de serem mães, a escutarem suas vontades, independentemente do que os outros digam".
Fátima Provençano, personal trainer, 51 anos, do Rio de Janeiro (RJ). É mãe de Benjamin, de 5 anos
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