Vida pós-BBB: "Peguei o limão do cancelamento e fiz um mojito", diz Lumena
Eliminada do BBB 21 sob a implacável condição de cancelada, Lumena Aleluia se reinventou nas redes sociais com uma versão mais "gastadora de onda". Acusada de arrogância pelo jeito de falar e por ter excluído e julgado outros participantes, ela aprendeu a assumir seu "BOs" e estreará em breve um canal no Youtube, para ajudar o corre de quem também quer ser influenciador de jornadas acadêmicas —brincadeira que Lumena autorizou.
Morando em São Paulo, perto de sua casa de santo, a mestre em psicologia baiana falou ainda sobre autoconhecimento e saúde mental. "Precisei de um autocuidado espiritual, dobrei a terapia", revela. Leia os principais trechos da conversa com Universa:
UNIVERSA: O que você não conseguiu mostrar de você mesma dentro do BBB?
LUMENA ALELUIA: É óbvio que não quis ir para apontar o dedão na cara de ninguém. Tinha o desejo grande de levar minha identidade profissional, a relação com a musicalidade baiana, de ser DJ de pagodão. Levar a alegria e a leveza da mulher baiana, nordestina. Desde sempre, tento driblar violências estruturais com leveza. Até as bandeiras que levanto, sempre tentei que fosse de um jeito mais lúdico.
Boa parte da minha contribuição aos movimentos sociais, para falar de questões mais duras, foi com a arte, em projetos sociais para mulheres negras. E não foi o que mostrei no reality. Fico triste, porque lá caí nas minhas "ciladinhas emocionais".
Como o racismo estrutural impactou na sua autoestima?
É barril dobrado essa parada. A minha relação com o cabelo, por exemplo. É muito simbólico que eu, Karol e Camila não entramos com nossos cabelos naturais no BBB. Por ser um programa de pressão psicológica, se eu fosse com ele natural, sendo que não tenho uma relação 100% positiva, ficaria mais vulnerável ainda. De forma consciente ou inconsciente, foi uma estratégia para evitar a fadiga.
Enquanto menina negra, fui socializada em Salvador, um lugar com o maior contingente de população fenotipicamente negra. Olha o fenotipicamente aí! (risos). Tive acesso a espaços socialmente privilegiados: colégio, balé, inglês. Era uma das poucas negras. No famigerado ritual do baile de 15 anos, usei megahair pela primeira vez e pedi para minha mãe lente de contato verde. Na minha cabeça, só fazia sentido ficar 'bem princesa' assim. Era uma tentativa de diminuir uma memória de violência da cor da pele e do cabelo crespo.
Sua relação com moda, beleza, autocuidado mudou ao longo do tempo? E depois do BBB?
Minha relação com a estética foi sempre de uma "política de redução de danos", como o aplique no cabelo. Além disso, tive um trauma, próximo à perda de Marielle Franco [vereadora do Rio, assassinada em 2018]. Estava muito adoecida, deprê mesmo, e passei dois anos sem ligar para cabelo, autocuidado, maquiagem...
Comecei a usar roupas que são vistas como masculinas. Também estava com o cabelo amarelo, raspado. Passei por uma abordagem policial, acharam que eu era menino e desconfiaram porque eu estava com equipamentos de DJ de quase R$ 20 mil. Fiquei sem reação, já que, por ser mulher, não poderia ser abordada por eles. Isso refletiu na escolha de uma "performance feminina" para entrar no BBB.
Você assumiu "Lumena autorizou" e o "fenotipicamente" como brincadeira, mas o discurso acadêmico é parte da sua vida. Até que ponto isso te afeta?
Quando saí da casa para falar com o Tiago Leifert, disseram que eu tinha virado meme. Pensei: 'Que merda!'. Depois, vi que tinha alguma coisa ali muito massa que poderia me ajudar a recuperar a Lumena da zoeira. Priorizei essa estratégia para me conectar com a galera.
Estava numa de meme e de cancelamento, e resolvi usá-los para gastar onda. Fizemos o lance dos cílios postiços, com maquiadores me ajudando a colocá-los... Foi pegar esse limão podre, que foi o cancelamento, e fazer uma limonada, um mojito.
Quero também falar de temas mais sérios com meus bordões, amo o "Lumena autorizou", os filtros, tudo que fazem na internet.
Sua namorada, Fernanda Maia, deu uma declaração de que não a reconhecia na casa. Como ela reagiu à sua saída?
Ela sofreu, viu. Aqui fora comecei a entender como foi a pressão para ela, minha mãe, minha família, até para o pessoal do meu terreiro... Sobrou para todo mundo.
Conversamos e fortalecemos ainda mais a relação depois desse baque. Estamos bem. Organizando nosso apê em São Paulo, fortalecendo o vínculo e fazendo planos... O dinheiro do prêmio, aliás, seria para gente investir na maternidade, com uma reprodução assistida. E também para comprar um trio elétrico e, o que sobrasse, para dar close!
Você pretende seguir com a vida acadêmica?
Vou levar isso para o canal do Youtube que vou lançar. Um dos quadros será apresentando termos da minha vivência acadêmica, explicando o 'Lumenês', e convidando um pessoal da Academia para compartilhar o conhecimento dos seus projetos de pesquisa.
Quero dar foco nas Ciências Humanas, a galera alternativa, da miçanga... Tem que dar uma moral.
Nesta semana, você mostrou no Twitter alguns ataques racistas que têm sofrido nas redes. Como tem sido lidar com isso?
Quando eu saí, mergulhei em um processo de baixa autoestima bizarro. Comecei a acreditar naquelas narrativas de ódio, um dos sintomas do cancelamento, né? Ter pânico e ansiedade por achar que somos aquelas coisas que as pessoas estão dizendo.
Tive que fazer um exercício racional. Uma assessoria jurídica, de comunicação, que me ajudou diferenciar o que era crítica do jogo e o que era racismo, criminoso. Do jogo, tudo bem, fui lá para ser julgada, vamos ouvir e fazer autocrítica. Mas teve o ódio de gente racista, lesbofóbica, xenefóbica, preconceituosa.
Se eu não tivesse feito esse exercício de entender que aquilo não me pertencia, a minha ideação suicida, que tive logo nos primeiros dias após a saída da casa, me faria afundar naquilo que a internet quer fazer a gente acreditar.
A assessoria de imprensa informou que mapeou os autores das mensagens de ódio e que está atenta a novos ataques por parte desses autores.
Você falou ali de um período de depressão depois da morte da Marielle e agora de ideações suicidas. Como cuida da sua saúde mental?
Fui estudar psicologia porque desde a adolescência tinha crises de depressão. Controlados, porque sempre fiz terapia. Hoje meu suporte é o cuidado espiritual. Vou para o candomblé e ele consegue me dar respostas que Lacan, Freud passaram longe de descobrir. Ali está a fonte do axé.
Neguei por muito tempo minha responsabilidade com a religião, viu? Frequentava o terreiro, em festas públicas, mas, nunca tinha feito santo, a ritualística de iniciação... Até que sofri um acidente em uma cachoeira há uns dois anos, quase morri. E ali entendi o 'chamadão' profundo.
Qual foi a maior transformação depois de sair do reality?
Perceber a responsabilidade e o BO que é ser uma figura pública. Fui muito ingênua, até irresponsável, porque fui com o desejo de não querer representar ninguém, de me humanizar, me divertir, e caí nas ciladas.
Ao mesmo tempo, tenho fã clube. Tem umas meninas que têm uma projeção sobre mim, em relação a minha experiência com o cabelo, com a sexualidade... Aliás, tem um grupo de adolescentes que me chamam de "Lumãe".
Até aqui, era uma representatividade de muita dor. Com a morte da minha referência, Marielle, então, decidi que não queria mais saber de militância dura. Quando encontro carinho das pessoas que se espelham em mim, noto que ser referência pode ser muito gostoso. Estou mudando a chave.
Mesmo com o "cancelamento", você tem sido procurada para fazer publicidade. Quais são seus planos?
Não tinha noção de como é desafiador ser criadora de conteúdo. É gostoso, mas muito trabalhoso também. Achava que por ter saído cheia de polêmicas nas costas, nenhuma marca iria me querer. No entanto, estou fazendo coisas, brincando com meus jargões.
O que mais quero é investir agora no meu canal do Youtube. No começo, vou levar alguns vídeos sobre o BBB. A Lumena que quero mostrar agora é a que se reinventa. A do programa, eu já tinha aposentado há um tempo.
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