Ela vende coletores menstruais e triplicou o faturamento na pandemia
Há 13 anos, um copinho de silicone na mesma prateleira de absorventes para menstruação em uma farmácia no Canadá chamou a atenção da obstetriz e administradora de empresas Mariana Betioli. Viajando de férias, a especialista em partos comprou o produto para testar e levou para algumas mulheres da família.
Mariana atuava como doula e tinha afinidade com as questões do corpo feminino. Ficou interessada nas qualidades do coletor menstrual, mas notou que não havia marcas nacionais e resolveu "pegar o trenzinho da oportunidade que estava passando", nas próprias palavras. Dois anos depois, criou a Inciclo.
A empresa foi fundada em 2010 e teve investimento inicial de 100 mil reais. Dez anos depois, um boom durante a pandemia. Na comparação entre os primeiros trimestres de 2020 e 2021, os números mostraram que o faturamento triplicou. Como reflexo, a empresa contratou 50 novos funcionários e abriu revenda em 600 pontos. O isolamento, justifica a empresária, fez com que mais gente apostasse nas compras online. O tempo em casa também deu confiança para quem ainda não havia testado o copinho.
Neste momento, a Inciclo está em expansão para atender o mercado dos Estados Unidos, Canadá e de outros países da América Latina. "Nos últimos dois anos, investimos mais de R$ 2 milhões no projeto", relata.
Inciclo: venda na internet quando "vagina" era palavra proibida
Desde o início, um dos pilares de divulgação e de vendas da Inciclo foi a internet, apesar dos pontos fixos, como redes de farmácia. Segundo Mariana, no tempo do Orkut e nos primórdios do Facebook, no entanto, qualquer texto que a empresa publicasse com a palavra "vagina" era visto como conteúdo adulto e sofria retaliações.
"A conta era bloqueada, mas sempre fomos um negócio que trabalha com a educação, principalmente pela minha experiência como doula e obstetriz. Não vendemos só o produto", argumenta.
Até por isso, desmistificar os tabus da menstruação e do copinho sempre foi parte essencial da comunicação da Inciclo. Afinal, primeiro era necessário apresentar o objeto ao público para, só depois, demonstrar o quanto ele poderia ser útil.
"O coletor é um produto que a pessoa coloca dentro do corpo e isso mexe com a questão do tabu, com autoestima. O que vemos é que a mulher tinha repulsa à menstruação, olhar o sangue, ter que encostar na região da vulva", afirma.
Os fóruns de discussão sobre o assunto, aos poucos, foram esclarecendo os jeitos de usar e de cuidar do acessório. Hoje, no Facebook, há grupos específicos sobre o tema com dezenas de milhares de participantes. "Há dez anos, há um movimento feminista que traz mais liberdade", argumenta Mariana.
Vários outros copinhos surgiram no mercado desde 2010, mas a CEO garante que o produto ainda tem diferenciais, como o formato anatômico e a densidade do silicone para garantir encaixe perfeito com maleabilidade. Com a marca estruturada, outros itens chegaram para rechear o portfólio, como calcinhas absorventes para menstruação e incontinência urinária, disco menstrual para evitar vazamentos do sangue durante sexo com penetração e absorventes reutilizáveis. Em breve, ainda haverá o relançamento de uma linha de cosméticos veganos.
Menstruar não é igual para todo mundo
Os tabus em torno do tema, para além do corpo feminino, também estão no radar da marca. É impossível, afinal, falar sobre o período sem entrar na seara da pobreza menstrual, problema que ainda assombra o Brasil.
A realidade de quem sequer tem absorventes e se vale de toalhas, papel higiênico ou qualquer outro objeto que sirva para absorver o sangue menstrual, garante a CEO, também é contemplada pela empresa.
"A área de projetos sociais da empresa desenvolve ações nesse sentido. Já fizemos doações a mulheres em situação de vulnerabilidade, para presidiárias no interior de São Paulo. O que elas precisam é de água encanada e um fogão ou micro-ondas para fazer a higienização do produto", comenta.
Papo de mulher?
Apesar de privilegiada e bem-sucedida nos negócios, Mariana não escapa dos preconceitos na hora de dialogar e fechar contratos. À frente de uma empresa com 80% dos cargos ocupados por mulheres, ela diz que ainda enfrenta o machismo, uma realidade comum às lideranças femininas.
"O produto é para mulheres, mas, no dia a dia, lido com homens. Então, já tive conversas em que eles não tiveram coragem de verbalizar, mas tentaram perguntar quem é o 'homem que está por trás' da empresa. Eu vou me colocando: 'O cara sou eu'", conta. A Inciclo é uma sociedade entre Mariana e o marido, Cesar Augusto Carneiro Betioli, mas ele chegou após o lançamento da marca.
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