Juras de morte e estupros ameaçam mulheres do campo no Brasil, diz estudo
Na última década, pelo menos 37 mulheres do campo foram assassinadas em áreas de conflitos fundiários e socioambientais, a maioria delas na região Norte — são 24, ao todo. Além das mortes, houve 77 tentativas de homicídio, além de uma extensa lista de 446 trabalhadoras rurais marcadas para morrer.
Além disso, ao menos 1.814 mulheres sofreram algum tipo de violência. O documento catalogou ainda 37 estupros e 76 agressões físicas.
Os números fazem parte do relatório Conflitos no Campo Brasil 2020, sobre a violência no campo, da Comissão Pastoral da Terra (CPT), divulgado nesta segunda-feira (31). Ele destaca vários tipos de violência envolvendo mulheres que vivem em áreas sob algum tipo de disputa. O cenário de violência no campo, assim como nas áreas urbanas, também é permeado pelo machismo e pela misoginia.
A assessora jurídica da CPT e professora de Direito da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Tatiana Dias Gomes, atua na área e analisou os dados. A Universa, ela diz que a ação violenta contra mulheres nessas áreas de tensão são acentuadas por camadas de vulnerabilidade social.
A imensa maioria delas são das etnias originárias, quilombolas e trabalhadoras rurais sem-terra. Essa violência se torna mais grave, porque se soma a todas as demais opressões patriarcais
Segundo ela, essas violências também têm relação com problemas sociais históricos. "Para analisa o cenário, é necessário observar como o racismo, o machismo e a exploração dos trabalhadores, das trabalhadoras e da natureza incidem como sistemas de opressão articulados", diz.
Um número que preocupa Gomes é o de mulheres marcadas para morrer.
Os desafios são enormes, porque as ameaças de morte sempre se concretizam, mais cedo ou mais tarde. Há um sistema estatal ineficiente de proteção a vítimas e testemunhas
Ela ainda destaca a dificuldade de se combater a violência sexual nesses contextos. 'É um crime ainda mais silenciado quando ocorre em contextos de conflitos agrários e socioambientais. Denunciar um estupro é sempre difícil, porque há vários elementos em jogo. A vítima costuma ser descredibilizada pelo Estado", pontua.
Sobre o predomínio de casos na região amazônica, ela afirma que isso segue a tendência das violências contra os homens. "Tudo indica que tem a ver com o fato de que a região Norte se converteu, desde o século 20, na principal fronteira agropecuária e mineral brasileira", afirma. Vale lembrar ainda que o número de ocorrências é apenas um recorte, já que muitas acabam não sendo denunciadas. "Os dados do relatório se referem o que foi oficialmente notificado. Há muita subnotificação, muitas cifras ocultas", finaliza.
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