Só mais um creminho: o excesso de produtos prejudica a pele e o planeta
Com apenas alguns cliques, navegamos não só pelas lojas virtuais de qualquer lugar do globo, como também acessamos banheiros e penteadeiras de pessoas que temos como referências de beleza. Essa janela para o mundo pode ser incrível e render uma porção de inspirações todos os dias. Por outro lado, também pode despertar uma espécie de F.O.M.O (termo para fear of missing out, em tradução livre, medo de estar perdendo algo). São milhares de ofertas de novidades, fórmulas que parecem conter tudo o que precisamos.
O resultado pode ser uma vontade de comprar aquelas opções todas até para preencher outras frustações — a tal indulgência possível, às vezes disfarçada de autocuidado. Problema: não é de hoje que os excessos fazem mal à pele e ao planeta. Investigamos quais são as consequências:
Alergia cosmética: já ouviu falar?
Você está lá, dedicando horas ao skincare, e o retorno são espinhas doloridas, bolinhas, pequenas bolhas. "O excesso de produtos de limpeza, esfoliantes e até argilas podem ressecar demais a pele e causar a quebra da barreira natural (composta por proteínas, água e lipídeos), o que a deixa mais exposta a infecções e a alergias", avisa a dermatologista Lidia Machado, do Rio de Janeiro.
Não é exclusividade dos adstringentes. "Se um creme contém mais substâncias emolientes, como vaselina, e derivados de petróleo, como óleo mineral, a chance de causar acne é ainda maior. Quando realmente existe necessidade de associar mais de um produto, é preciso utilizar veículos leves, como sérum", continua.
Sabe aquela história de usar o creme recomendado pela amiga? Também é complicada. "Produtos não indicados podem causar acne, dermatites de contato, piora de dermatite seborreica ou inflamação da rosácea", argumenta a dermatologista Fabiana Seidl, do Rio de Janeiro.
Ativos em guerra
Um produto em cima do outro? Vá com calma. A incompatibilidade das substâncias é um problema real. Os produtos mais perigosos para usar sem indicação do dermatologista são os ácidos e clareadores. "Os secativos também pedem parcimônia", aconselha.
Cuidado, especialmente, com os "renovadores" e afins. "Quando a gente coloca muitos ativos que têm função de estimular rejuvenescimento celular, a pele fica sensibilizada", conta a dermatologista Fernanda Porphirio, de São Paulo.
Menos é mesmo mais
Aquilo que não é usado também faz mal, só que ao planeta. A ideia de reduzir ao essencial é tão importante, que ganhou até nome nos relatórios de tendências de consumo e comportamento: skinimalism. Partindo daí, pode dizer adeus a tudo aquilo considerado não essencial como tônicos, águas termais, gagdets de beleza (escovas, rolinhos de massagem..) e até as máscaras de tratamento.
Sabonetes, hidratantes e filtros solares são o tripé do skincare. "Depois vamos adequando e adicionando outros cuidados, mas não adianta ter um monte de produtos em casa e não levar essa rotina à risca", fala Regislaine Miquelin, dermatologista, de São Paulo.
Além disso, se fosse para elencar um quarto pilar, seria a paciência. A maioria dos tratamentos precisa de dois a três meses para demonstrar resultados.
Antes de comprar, respira e não pira
"O desafio é que cada pessoa encontre o próprio ritmo com tantos 'tem que'. Por isso, desacelerar para refletir, repensar, se conhecer e, então, sentir o que é necessário e o que é só um desejo por estímulos externos ajuda muito", sugere Marcela Rodrigues, designer em sustentabilidade, adepta do slow beauty e fundadora da plataforma "A Naturalíssima" e da Limpp, primeira ferramenta do Brasil para pesquisa sobre ingredientes cosméticos.
Ela também indica usar até a última gota, mesmo que a experiência não seja absolutamente incrível. "Jogar fora e deixar vencer não seria nada responsável, afinal, não existe 'fora' em nosso planeta", observa ela.
A compra desenfreada, inclusive de cosméticos, mexe com o meio ambiente de três maneiras. "A primeira é a exploração dos recursos naturais em um ritmo acelerado. A segunda é o aumento na geração de resíduos que acabarão em um aterro sanitário. E, por fim, a contaminação dos nossos rios, mares, oceanos e da água que consumimos. Culpa dos micropoluentes, substâncias tóxicas presentes nos cosméticos e que não são passíveis de serem removidas nas estações de tratamento", explica Rafael Zarvos, especialista em resíduos sólidos e fundador da Oceano Resíduos.
"Dentre esses impactos no pós-consumo, estão desde poluição ambiental a desequilíbrios hormonais, passando pela fragilidade da saúde mental, já que um dos pilares da máquina do consumo é manter a autoestima dependente de produtos", fala Marcela.
É gostoso provar uma novidade? Claro que sim, reconhece a psicóloga Ana Volpe, de São Paulo. Entretanto, ela diz, fica o alerta para tentar perceber até onde a indulgência vai. "Tem a sensação gostosa de receber, abrir, provar a textura, são pequenas pausas na rotina. Mas é bacana deixar essa pergunta no ar: ser ou ter?", finaliza a especialista em psicanálise.
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