No isolamento, perfumes melhoram o humor e dão sensação de bem-estar
O que há no perfume que nos afeta em um nível tão emocional? Bem, para começo de conversa, ele evoca memórias profundas, porque o olfato é o único sentido diretamente ligado ao centro do cérebro. Funciona assim: você, inconscientemente, se lembra de se sentir bem e o cérebro libera hormônios, como a serotonina, que afetam o humor.
"O que sabemos é que os cheiros, perfumes disparam em nós tanto as memórias positivas, quanto as negativas. Isso acontece, porque armazenamos informações diferentes no cérebro, vinculando uma experiência na outra. Por exemplo, ligamos o cheiro de mostarda ao ato de comer cachorro quente, e quando somos expostos àquele cheiro, o conjunto: fato (comer cachorro quente), emoção (prazer de comer) e até o sabor associado do cheiro são resgatados juntos", explica Marcelo Katayama, médico com formação em psicologia transpessoal, de São Paulo.
Sendo assim, por que não aproveitar o momento de isolamento social, com poucas escapadas, para viajar sem sair de casa?
Sim, é coisa da sua cabeça
Quem nunca teve uma experiência de sentir algum aroma e, imediatamente, recordar de uma pessoa, um local ou experiência intimamente ligada aquele estímulo olfativo? "É uma experiência conhecida como efeito Proust, em conexão com uma cena descrita no livro 'Em busca do tempo perdido', do escritor Marcel Proust, no qual ele descreve que, ao comer uma madeleine molhada no chá, essa lhe evocava uma lembrança vívida da casa de sua tia", conta Maurício Cella, diretor de Tecnologia e Inovação Latam da Givaudan Fragrâncias.
Há uma razão neurobiológica para que esse fenômeno ocorra: o sentido do olfato é, dentre os cinco que temos, o que tem conexão mais direta com o sistema límbico, onde muitas dessas emoções são armazenadas.
"Talvez seja o único que não pode ser 'desligado'. Ele está sempre em ação. Quando respiramos o ar com moléculas olfativas voláteis, estas se ligam com os aproximadamente 50 milhões de receptores olfativos expressos por mais de 400 diferentes tipos de receptores. Estes receptores olfativos realizam a tradução desses estímulos químicos em sinais elétricos até termos respostas inconscientes e conscientes ao tal cheiro", detalha Maurício. E é assim que as fragrâncias, com suas dezenas ou até centenas de diferentes moléculas olfativas na sua composição, têm potencial de evocar sentimentos conscientes como inconscientes.
Diante dessa memória agora ativada na mente, o cérebro libera uma série de neurotransmissores, entre eles a dopamina e serotonina."Lembramos de um momento em que nos sentimos bem e, dependendo da intensidade da emoção, podemos ficar imersos por uns minutos nessa experiência", fala.
"Por outro lado, a perda do olfato pode causar depressão, além de desnutrição, já que os dois sentidos estão totalmente ligados. Sentir um perfume, que fez ou faz parte de momentos significantes, pode causar fortes emoções. Ele é um acessório invisível fundamental para uma boa qualidade de vida", complementa Leonora Nogueira, editora de perfumes da consultoria olfativa EAUX Parfums.
Do nariz para o coração
"Não conseguimos explicar porque os motivos que nos levam a gostar ou não de um perfume. A reação é involuntária. Às vezes cheiramos algo que amamos e simplesmente sorrimos ou até respiramos de forma profunda", observa Adriana Sayuri, Diretora de Consumer & Market Insights da Symrise para a América Latina.
Os perfumistas sabem disso. E exploram em fragrâncias que brincam com sensações para que você se sinta feliz, bonita, tranquila, sedutora... "Com o avanço da tecnologia e das metodologias de pesquisa, a Symrise criou um programa inovador de neurociência conhecido como gen-isys, que consegue até comprovar as emoções e sensações sentidas por quem usa o perfume", conta ela.
Portas em automático
Se viajar ainda é um sonho distante para muitos, qual é jeito mais fácil de simular a área de embarque? Uma borrifada. Para escapar, vale recapitular os seus registros mais preciosos. É fã de praia? Os perfumes aquáticos, que costumam transitar pelo universo dos rótulos masculinos e tiveram grande força nos anos 1990, são bons candidatos.
"O ingrediente sintético calone é o responsável por trazer esta sensação de proximidade com o oceano. É verdade que se fecharmos os olhos e sentirmos boas criações com ele, conseguimos nos imaginar no mar, ou mesmo aquele cheiro de ozônio, que sentimos no começo de uma chuva", conta Leonora.
Já fragrâncias com caminhos herbais, por exemplo, que lembram grama, natureza, terra molhada, podem produzir os mesmos produtos neuroquímicos de bem-estar que horas passadas no campo, criando impressões vívidas desses momentos.
"O sândalo por exemplo tem um poder de trazer a tranquilidade, a lavanda estimula a calma. Toda fragrância tem este tipo de poder", finaliza a master perfumista da Symrise Fanny Grau.
Para experimentar
Mandarino de Amalfi, Tom Ford, R$1650
Perfume sem gênero cítrico e aromático que leva você para uma luminosa e refrescante tarde na praia. Combina o frescor da hortelã, do limão e do manjericão com o calor da pimenta preta e leveza do jasmim. No fundo, vetiver e almíscar arrematam.
Emerald Bliss (Energize), Jeunesse, R$299
Para despertar o corpo e revigorar os sentidos, com o frescor na saída com notas cítricas de bergamota e laranja, evoluindo para corpo floral delicado e fundo cremoso das madeiras e musk. Um banho de floresta.
Montblanc Lady Emblem, R$629
Floral amadeirado almiscarado que traz notas de pimenta rosa, grapefruit e saquê. No fundo, óleo de sândalo e cristal de almíscar para aconchego.
Wood Sage & Sea Salt, Jo Malone London, R$445
Amadeirada, leva sementes de ambreta, sal marinho e sálvia em uma combinação fresca, com fundo mineral. Tem cheiro de vento gelado no fim de tarde na praia.
Ocean di Gioia, Giorgio Armani, R$ 469
Pêras e cítricos se misturam ao buquê floral de jasmim aquático, lírio e rosa, que recriam a sensação da água salgada. Na base, notas amadeiradas de sândalo e almíscares.
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