Juliette de Juliet: os óculos que refletem a moda e a sociedade brasileira
"Juliette ao quadrado" escreveu a rainha dos cactos na legenda da foto em que aparece usando óculos espelhado, de metal, futurista e que, de tão brasileiro, falta só o sotaque. Você já deve ter visto a peça antes: seja no rosto de algum famoso como Neymar ou em clipes de funk e rap brasileiros.
O "Juliet" foi originalmente criada na década de 90 pela Oakley. Em 1997 a marca lançou a linha X-Metal, uma coleção com óculos de armação metálica e lentes de reflexo, já anunciando o que viria por aí. O primeiro par oficial de Juliet chegou ao mundo em 1999. Nos anos 2000 foi, durante algum tempo, febre. Quem se lembra de Tom Cruise usando a peça em Missão Impossível?
Passado o frisson, o acessório parecia ter caído no esquecimento. Até que o funk redescobriu o Juliet e não demorou para que ele invadisse a periferia brasileira e se tornasse um "must have" dos looks de quem é da quebrada (e de quem está no Tik Tok).
Nos sites oficiais, qualquer óculos espelhado da Oakley não saí por menos de R$ 1 mil; já nos camelôs do centro de São Paulo e do Rio de Janeiro, você pode adquirir o Juliet por um preço bem mais honesto, cerca de R$ 100. Ter um modelo original, porém, reflete ostentação, como canta o funkeiro MC Japa: "Quando eu não era nada e andava de chinelo, você sempre me zoava, nunca me levava à sério... hoje eu porto cartão e você leva o martelo. Cordão de ouro, juliet no rosto, e um adidas no pé".
Da ex-BBB Juliette à Mc Dricka, elas estão "on" para provar que os óculos da vez não tem gênero e pode ser usado tanto por homem quanto por mulher.
"E nós tem um charme que é da hora"
Da periferia de São Paulo para os murais da Time Square, a cantora MC Drika é adepta de um visual ostentação. Tops de marca, croppeds e calças cintura baixa fazem parte do estilo da artista, que arremata o look com cordões de ouro, prata e o Juliet.
No clipe de sua música de maior sucesso, "E nós tem um charme que é da hora", a Mc ostenta carros de luxo, bebidas cara e um Juliet enquanto canta "ó, de nave 'nóis tamo' a milhão. No baile, chamando atenção e as recalcada me odeia, 'nóis' é porte de sereia".
A especialista em moda Marina Santa Helena explica por que a peça é considerada "de luxo" para muitas pessoas. "Como o valor do óculos é alto, ele se tornou um modelo desejado. Principalmente quando o funk ostentação estourou no Brasil. Muita gente copiou o estilo dos funkeiros para o próprio vestuário e aí a peça viralizou", comenta.
Santa Helena também dá dicas para quem quer começar a usar o acessório: "Para adotar a peça ao seu visual o importante é ter personalidade para bancar os óculos. É um modelo que, sim, ainda faz muita referência ao funk e ao esporte, mas como outras peças espelhadas têm feito muito sucesso, o Juliet também não pode ser aderido por quem quiser."
Juliette, não era Juliet!
Como Splash apurou, o modelo usado por Juliette não era um Juliet oficial, mas sim um óculos da linha X-Squared, também da Oakley. As peças se diferenciam pelo formato da lente: enquanto o primeiro é oval, o segundo é retangular. Só que, para o brasileiro, qualquer óculos de lente colorida e com armação de metal virou sinônimo de Juliet.
"Hoje qualquer óculos com lente espelhada é chamado de Juliet justamente pela popularização do modelo", explica Marina, que fala também sobre como a lógica da escassez ajudou na popularização do modelo: "O Juliet original saiu de linha. O último foi fabricado em 2009. Tem um modelo parecido, o X-Metal, que a Oakley continuou produzindo até 2012, mas também já saiu do mercado. Hoje em dia tem até especialista em Juliet, que verifica se a peça é original ou não. Em resumo: a escassez do produto no mercado, o fato de ser um queridinho das celebridades e o funk ostentação colaboraram para que o modelo se tornasse popular, e gerasse um desejo nas pessoas de terem a peça — como tudo na moda".
Como antes a gente teve um revival dos anos 60, e agora a gente está vivendo um revival dos anos 2000, era de se esperar que esse óculos voltasse mais forte para a cena e conquistasse um novo público.
Apesar da rainha dos cactos ter errado o nome do modelo na legenda, o que importa é a intenção. E, sem dúvidas, Juliette se transformou em uma das principais difusoras da cultura e de peças típicas do vestiário brasileiro - como ela fez com o chapéu do cangaço.
Será que a moda da Juliet pega de vez agora? Derrubaremos o preconceito e o estigma com a peça para aderi-la ao nosso cotidiano? Camila Cabello já está pronta.
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