"Revolta": a história da jovem que homenageou pais mortos ao ser vacinada
Para a maioria das pessoas, receber a vacina contra a covid-19 traz sentimentos como alegria e alívio. Mas, no último sábado (19), ao tomar a primeira dose da AstraZeneca, a professora Tallyta Bueno de Cerqueira, de 32 anos, sentiu revolta e tristeza — em março, ela perdeu a mãe, o pai e a avó para a covid-19 em um intervalo de 17 dias.
"Por que eu fui privilegiada enquanto meu pai, minha mãe e minha avó não foram? Quando chegou a minha vez [de tomar a vacina], eu estava muito grata, mas sentia um misto de revolta e tristeza", lembra, em conversa com Universa, por telefone. "Se a população tivesse começado a ser vacinada antes, eu poderia estar com a minha família agora."
No dia agendado para receber a imunização, em uma unidade de saúde de Ponta Grossa (PR), Tallyta levou uma placa com as datas das mortes dos três familiares e a frase "a vida não espera". A ideia era prestar uma homenagem à família, "mostrar que não são só números", mas a foto viralizou e, até a tarde desta segunda-feira (21), tinha mais de 90 mil curtidas e 5,6 mil comentários no Instagram.
"Quando agendei para tomar a vacina, decidi em levar essa placa como forma de homenagear minha família e mostrar que eles não são só números, são famílias que foram devastadas", fala. "Pensei em escrever os nomes deles, mas escolhi marcar as datas porque são dias que eu e meu irmão jamais esqueceremos."
"Claro que eu não queria que uma foto minha repercutisse por conta disso, mas fico feliz que tenha tomado essa proporção. Nada vai mudar a situação da minha família, mas, quem sabe, a minha história pode evitar que outra família sofra o que estamos sofrendo. O vírus existe, está matando e é triste o descaso com que somos tratados."
"De repente, perdi metade da minha família"
Apesar de ter perdido os três parentes em menos de três semanas, Tallyta e o irmão mais novo, Marllon, viveram pelo menos dois meses de agonia entre a primeira pessoa da família testar positivo — a avó, Terezinha, de 73 anos — e a morte dos pais, Wilson e Inês.
Toda a família foi infectada pelo coronavírus. O marido e a sogra de Tallyta foram internados. Ela e o irmão mais novo, de 22 anos, que tem asma, foram os únicos que não precisaram ser hospitalizados.
"Foram dois meses de agonia e desespero. Meus pais ficaram em um hospital e minha avó em outro, então todos os dias recebíamos ligação de dois hospitais, cada um em um horário diferente. Eu só rezava e esperava notícias", lembra.
A avó de Tallyta morreu após quase trinta dias intubada. O pai, por outro lado, viveu menos de uma semana depois de ser hospitalizado. A mãe morreu por último: chegou a deixar a UTI, conversar com os filhos — coube a Tallyta e ao irmão contar à mãe sobre a morte dos outros familiares — e assistir à missa de 7º dia do marido pelo Facebook, antes de piorar novamente.
"De uma hora para a outra, perdi metade da minha família. Ficamos eu, meu irmão, meu marido e meu filho. É muito triste não ter a quem recorrer, pedir conselho, pedir colo. É uma luta diária."
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