"Somos duas noivas": lésbicas lembram busca pelo look perfeito de casamento
Em abril, Lorrany Figueiredo se casou usando um vestido branco tradicional, mas combinou com um all-star e uma meia de arco-íris, peça que, nas palavras dela, "levanta a bandeira" do relacionamento com a esposa, Fernanda Mesquita. Nayda e Jaqueline, por sua vez, trocaram alianças em 2019 usando coturnos.
Apesar das várias tradições relacionadas ao casamento, casais podem criar as próprias regras e fazer deste dia tão especial um evento único, que dialogue com a própria personalidade. E essa ideia vai da decoração aos trajes escolhidos — não é preciso coordenar o visual das noivas, nem seguir estereótipos femininos ou masculinos. Conforto e autenticidade falam mais alto.
A experiência da busca pelo look sonhado também é única. No mês da visibilidade LGBTQIA+, Universa conta a história das peças eleitas por quatro casais lésbicos, que lembram a corrida pela roupa perfeita e a expectativa de ver a amada pronta para dizer "sim".
"Quando finalmente a vi pronta, só chorava"
Lorrany Figueiredo, bacharel em Direito, se casou com a maquiadora Fernanda Mesquita em abril de 2021.
"Nós fomos às lojas juntas, mas não vimos os vestidos até o dia do casamento. Uma ficava do lado de fora com os nossos trigêmeos, de 5 anos, enquanto a outra ficava no provador, escolhendo. Foi uma surpresa total.
Não combinamos nada, nem se seria curto, longo, tradicional, moderno. Só sabíamos que as duas casariam de branco — nossa família é tradicional como qualquer outra, nós somos duas noivas e fizemos questão de usar branco.
Tínhamos uma verba contadinha para o casamento. Por conta dos meninos, não podíamos mexer muito na nossa vida financeira.
Depois que escolhemos as peças, no dia da prova, a Nanda viu um outro vestido e se apaixonou por ele, mas era R$ 500 mais caro. Eu sentei e comecei a chorar, porque a gente não tinha dinheiro para pagar essa diferença.
A Nanda falou que tudo bem, que também tinha gostado do outro, mas eu queria que ela estivesse muito feliz, afinal era o dia dela, o nosso dia. No final, a vendedora conseguiu um desconto de R$ 400 e eu chorei mais ainda, porque minha esposa vestiria exatamente o que ela queria no dia do nosso casamento.
Nós nos arrumamos em um estúdio, cada uma em uma sala. Depois de prontas, demos as mãos por uma porta, mas sem olhar, e eu senti que a manga do vestido dela era longa. Criei ainda mais expectativa!
Quando eu finalmente vi a Nanda pronta, no altar, fiquei com falta de ar. Chorava, chorava, chorava. Foi muita emoção. Tem fotos que mostram minha cara nesse momento. Ela estava maravilhosa, muito mais bonita do que já é."
"Não pensava em casar de branco"
Luiza Loroza, cantora, se casou com a trancista Vitória Luz em julho de 2020.
"Confesso que não pensava em dizer 'sim' vestindo branco. Apesar de sermos do Candomblé, religião em que a roupa branca é muito usada, eu tenho uma coisa de artista muito forte, de querer cor. Sempre que imagino casamento — e penso em casar com a Vitória muitas outras vezes, obviamente depois da pandemia — penso variar as cores, subverter um pouco a lógica.
Mas o branco é uma cor espiritualizada e, naquele momento, ajudou a gente a se sentir em comunhão com o universo, de alguma maneira.
Nosso casamento foi realizado por um blog especializado em casamentos minimalistas, então nós não escolhemos diretamente as roupas. Preenchemos um formulário com muitas questões sobre a nossa personalidade, a nossa história, os nossos gostos — respondemos uma parte juntas, outra separadas. Isso guiou todo o texto que foi lido durante a cerimônia e todas as escolhas
O buquê, por exemplo, foi uma surpresa — recebemos na hora e foi muito emocionante, porque o da Vitória era de girassóis, uma flor que lembrava o avô dela, que faleceu há pouco tempo.
Os vestidos, também recebemos momentos antes. Nos arrumamos em salas separadas e nos vimos ao mesmo tempo, quando saímos por portas que ficavam frente a frente. Foi lindo, absolutamente emocionante.
A equipe escolheu as nossas roupas respeitando muito nossos formatos de corpo e nossas personalidades. O meu era mais solto, mais aberto, e tinha um decote em V, que eu gosto bastante, e o da Vitória era mais acinturado, que a deixava ainda mais alta.
Eu, por exemplo, tenho seios muito grandes e essa era uma preocupação para mim — a equipe conseguiu encontrar um modelo que eu não precisava usar com sutiã e que, mesmo assim, ficava muito confortável."
"Busca por looks perfeitos foi um perrengue"
Nayda Rodrigues, produtora-executiva, casou com a fotógrafa Jaqueline Santos em junho de 2019.
"Quando a gente começou a pensar em casar, a ideia era fazer surpresa e só ver a roupa na hora. Mas, na prática, tudo mudou: acabamos escolhendo juntas e até levamos nossos padrinhos para procurar com a gente.
Sempre soubemos que queríamos casar de coturno — eu casei com um modelo branco, de cano alto, e a Jacque com um de cano baixo, preto.
Mas as roupas não estavam tão definidas na nossa cabeça, por isso foi difícil de encontrar. Procuramos muita coisa na internet, foram noites inteiras de pesquisa, dias rodando lojas de shopping.
As duas queriam usar roupas claras. Para a Jacque, as roupas da seçaão masculina sempre precisavam de ajustes e as da seção feminina, muito justas e acinturadas. Fora isso, ela queria casar usando calça social e um blazer. Foi uma saga, portanto, combinar a cor das duas peças, que não eram um conjunto.
Para mim, que queria usar vestido, as opções variavam entre os tradicionais, que eu acho bem antiquados ou sem graça, ou então com cara de réveillon em Trancoso.
Esse é um nicho que deveria existir no mercado de moda. Um casal não heteronormativo que decide se casar, mas não quer usar roupas tão tradicionais, como duas noivas com vestidos clássicos, passará por esse perrengue também.
No final das contas, ficamos muito confortáveis. As roupas que usamos no nosso casamento representam muito a gente, nosso estilo, nossa personalidade."
"Vestido representa a autoestima que nasceu com essa relação"
Sandra Fonseca, jornalista e mestre em Educação, casou com a administradora Amanda Bispo em fevereiro de 2021.
"Por conta da pandemia, tivemos que adiar a festa de casamento, que estava programada para maio de 2021, e nos casamos apenas no civil.
Para não deixar a data passar, fizemos uma sessão de fotos e comemoramos com nossos padrinhos ao ar livre, perto da nossa casa, em um lugar que amamos.
Quando a nossa festa acontecer — ainda não sabemos quando será, mas esperaremos a vacinação completa — vamos usar peças muito soltas e estaremos descalças, porque queremos um evento praia. Por isso, para o cartório, decidimos por roupas elegantes. Aliás, no fim das contas, acho que as roupas é que nos escolheram.
Nunca pensamos em usar peças iguais ou coordenadas, porque priorizamos muito nossas liberdades pessoais — e os nossos looks simbolizam isso.
Fomos a uma loja de roupas do nosso bairro, que gostamos muito, e contamos para a vendedora mais ou menos o que queríamos. Dias depois, ela apareceu com roupas exatamente como esperávamos.
Só vimos as escolhas uma da outra na hora de ir para o cartório; quisemos manter esse efeito-surpresa. A Amanda usou um macacão decotado e bem colado ao corpo e eu, um vestido sereia — o mais engraçado é que, depois, olhando fotos antigas, percebi que usei modelos parecidos de vestido nas minhas formaturas do Ensino Médio e da faculdade.
Para mim, esse vestido, que é justo, colado, tem decote, representa muito um momento de autoestima que estou vivendo e que começou junto com a minha relação com a Amanda."
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