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Talarica: "minha melhor amiga pegou meu namorado". Tem perdão?

Marcella considera que foi "talaricada" pela melhor amiga - Arquivo pessoal
Marcella considera que foi "talaricada" pela melhor amiga Imagem: Arquivo pessoal

Júlia Flores

De Universa

27/06/2021 04h00

O que dói mais: ser traída ou perder a amizade? A resposta é complexa. Para muitas, pegar o "crush" da amiga é imperdoável; para outras, tudo bem. Uma coisa é certa, o ato é tão polêmico que já até ganhou nome próprio, talaricagem.

Recentemente, uma usuária do Twitter contou o drama de como foi descobrir que o namorado estava ficando com sua BFF. O post chegou a mais de 100 mil curtidas. "Quero que todos saibam quem são os dois", escreveu a recifense Eduarda Mendes:

Talarica é uma gíria pra definir quem alguém que se envolve com um ex ou atual de um amigo. Na visão da psicóloga Ellen Senra, ver uma pessoa próxima quebrar sua confiança pode, inclusive, ser mais doloroso do que a traição em si. "Amizade é uma forma de amor. A gente sabe que quando estamos nos relacionando amorosamente com alguém aquilo pode acabar a qualquer momento; mas com amizade não imaginamos isso, pensamos que a relação será para sempre", reflete.

Universa foi atrás de mulheres que passaram por uma situação parecida com a de Eduarda para refletir sobre o tema. Primeiro, contamos a história de Marcella, que descobriu que a amiga ficou com o ex. Também contamos a história de uma personagem que conseguiu reconstruir a amizade depois de "talaricar" o crush de outra. Leia:

"Não consegui perdoar a talaricagem da minha amiga"

O ex de Marcella confessou a talaricagem: "Ela teve o que mereceu porque eu peguei a melhor amiga dela"  - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
O ex de Marcella confessou a talaricagem: "Ela teve o que mereceu porque eu peguei a melhor amiga dela"
Imagem: Arquivo pessoal

"Eu estava namorando há mais ou menos 4 anos e meio quando terminamos. Essa minha amiga (na época, minha melhor amiga), era quase uma irmã para mim só que não me apoiou no término e ficou super distante com o fim do relacionamento.

Quando eu ainda estava lidando com o término, comecei a ver vários snapchats dela na casa do meu ex. Vários amigos nossos começaram a falar que ela estava conversando com ele. A gente se conhecia há mais de 5 anos. Ela acompanhou meu relacionamento inteiro. Enquanto eu ainda estava com ele, achava um pouco estranho o jeito como os dois se tratavam; ela ficava abraçando ele o tempo todo, mas nunca suspeitei de nada.

Lembro que uma vez vi que ele tinha presenteado ela com uma joia. Não entendi, porque fazia menos de um mês que eu e ele tínhamos terminado o namoro.

Fiquei uns 6 meses brigando com meu ex para buscar coisas minhas que ficaram na casa dele. No final, foi ela quem trouxe os objetos para mim — simplesmente deixou a sacola na portaria do prédio e foi embora.

Meu ex-namorado, em uma festa, assumiu que tinha ficado com ela para outra conhecida minha. Ele disse: 'Ela teve o que mereceu porque eu peguei a melhor amiga dela'.

Depois de um tempo sem falar com essa amiga, ela veio tirar satisfações comigo, disse que eu estava enganada, que jamais ficou com ele. Ela nega até hoje. Quando encontra minha mãe na rua ainda diz: 'Ai, eu não sei por que a Má não fala mais comigo'.

Fiquei muito chateada — mais com ela do que com ele. Senti uma facada nas costas. Com ele, eu fiquei triste, mas analisando o relacionamento conturbado que tivemos, não esperava nada de diferente, porque ele queria me atingir de alguma forma.

Minha amiga 'talarica', às vezes, tenta me mandar mensagem, me marcar em posts no Instagram, e eu só ignoro a existência dela, porque não quero esse tipo de gente perto de mim.

Isso aconteceu no final de 2014 e ela continua tentando me chamar atenção nas redes sociais. A única vez que nos falamos depois do que aconteceu foi quando a mãe dela faleceu.

Depois desse episódio, passei a me sentir insegura com amizades Quando eu conto essa história para outras mulheres, já digo: 'Se tiver algum tipo de interesse pelo meu crush, me avisa'. Inclusive, não acho que você não pode pegar ex de amiga, mas é preciso ter uma conversa franca, respeito e empatia pela outra. É tudo questão de tempo." Marcella Antunes, 26 anos, analista de mercado, mora em Santos, litoral de São Paulo

"Minha amiga perdoou eu ter beijado o namorado dela"

"Eu e minha amiga éramos adolescentes. Essa história aconteceu em 2008, quando estávamos no ensino médio. Eu estava em um namoro abusivo e não conseguia terminar o relacionamento. Ela também namorava, só que o rapaz tinha um crush não correspondido em mim.

Como éramos todos próximos, um belo dia, eu e ele saímos juntos e aconteceu da gente dar um beijo — que foi péssimo, inclusive. Nós nunca mais ficamos e eu falei para ele que não queria mais repetir a situação. Mas ele ficou 'emocionado' e contou para o irmão o que tinha feito. O irmão, por sua vez, contou para outra pessoa.

Virou o assunto da cidade em que moramos, Praia Grande (cidade no litoral de São Paulo), por algum tempo. Com medo, eu neguei até a morte. Meus amigos nunca mais falariam comigo se eu assumisse que tinha ficado com o boy da minha amiga.

Por causa da repercussão, eles terminaram o namoro, mas eu e ela continuamos nos falando durante um tempo. Ele se arrependeu do que fez e foi atrás dela para tentar se redimir. Quando ela confrontou o ex-namorado, ele confessou que nós tínhamos nos beijado.

Ela ficou p*ta da vida. Parou de falar com ambos. Ficamos cerca de 8 anos sem nos falarmos, porém, em meados de 2016 retomamos contato.

Eu suponho até que ela tenha criado contas fakes na internet para me seguir durante um tempo - sabe quando você tem raiva de alguém e você fica acompanhando para dar hate nela? Era isso que acontecia, ela virou minha hater

A reaproximação entre nós duas aconteceu pela internet. Voltamos a nos falar aos poucos. Demorou um tempo para normalizarmos a situação. Às vezes recebia um cutucão, algum ataque, parecia que ela queria falar comigo porque sentia falta, mas ainda assim tinha mágoa da traição. Certa vez tocamos no assunto e contei para ela como aconteceu. Expliquei que tinha sido só um beijo e ela ficou surpresa. Pelo bafafá que deu, ela achava que eu e ele tínhamos ficado meses.

Hoje nos falamos normal, mas eu não toco no assunto, porque vai que ela muda de ideia, né... Temos uma boa relação. Às vezes ela viaja, eu cuido dos gatos dela. Somos adultas

Na época, eu não me senti culpada, mas sim com medo do julgamento alheio. Passei a sentir mais culpa a partir do momento em que fui amadurecendo — não por ter traído o meu namorado, mas sim por ter traído a minha amiga. Estava em uma relação abusiva da qual eu não conseguia sair. Só terminamos mais tarde, por outras razões. Acho que o fato de estar com um cara abusivo foi um dos motivos que me levou a ficar com o namorado dela, ele era bonzinho e compreensivo.

Se fosse comigo, acho que também perdoaria a amiga talarica. Também levaria um tempo para me reaproximar, é claro. Quando o menino revelou para ela que tínhamos ficado, ela esperava pelo menos que eu fosse sincera, assumisse o que tinha rolado, mas eu não fiz isso. Fui covarde." A personagem pediu para não ser identificada*, tem 28 anos e mora em Praia Grande, litoral de São Paulo

Com conversa, tudo pode se acertar

Já existe até música para falar sobre a amiga talarica. "Marido dos outros não é presente de Deus", diz os versos do funk de Rennan da Penha. Na opinião da psicóloga Ellen Senra, porém, é importante não culpar apenas a mulher pela traição, afinal de contas existe um terceiro elemento na história: "A gente nunca culpa o homem. Se eu visse meu marido me traindo, eu iria para cima dele primeiro - a não ser que essa mulher fosse minha amiga, porque aí é traição dupla e cobraria ambos".

O perdão, ainda segundo a especialista, pode sim existir, desde que haja conversa: "Se você talaricou alguém, conte tudo para sua amiga. É uma decisão dela querer te perdoar ou não, mas é importante ser sincera".