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"Vizinhos, não estranhem o barulho": histórias de quem fez o parto em casa

Ana Paula e a filha Pietra - Acervo pessoal
Ana Paula e a filha Pietra Imagem: Acervo pessoal

Ana Bardella

De Universa

01/07/2021 04h00

São muitas as razões que levam uma gestante a planejar um parto dentro de casa: sensação de conforto, familiaridade com o espaço, maior contato com o bebê, ter por perto as pessoas em quem confia e se sentir à vontade para fazer o que quiser durante o processo, que pode levar horas — e até dias.

No entanto, o aconchego do lar pode trazer também situações inusitadas e até engraçadas para os futuros papais e mamães. Nos relatos a seguir, as mães de João Pedro, Cecília e Pietra relembram cuidados, incidentes e surpresas que tiveram enquanto aguardavam por suas respectivas chegadas:

"No meio do trabalho de parto, a energia elétrica da minha casa caiu"

Ana Paula teve um apagão em casa minutos antes do parto da filha, Pietra - Acervo pessoal - Acervo pessoal
Ana Paula teve um apagão em casa minutos antes do parto da filha, Pietra
Imagem: Acervo pessoal

"Minha filha, Pietra, nasceu em maio deste ano e o dia do parto dela se tornou bastante marcante. Eu já estava apresentando contrações de treino há duas semanas quando finalmente chegou o momento da sua vinda. Uma profissional da equipe que auxiliaria no processo veio até a casa para me avaliar e notou que a bebê estava com os batimentos acelerados. Tentamos várias manobras para isso ceder. Como elas não funcionaram, acionei a ambulância que estava à minha disposição para qualquer emergência e fui para o hospital, fazer um exame.

Os momentos no hospital foram os mais tensos. Não sabíamos, por exemplo, se ela estava em sofrimento fetal ou se precisaria fazer uma cesárea de emergência. Enquanto aguardávamos pelo resultado do exame, nos lembramos os motivos pelos quais escolhemos realizar o parto em casa: lá, eu podia comer, beber, me movimentar. Já no ambiente hospitalar, os profissionais da saúde é que tinham o domínio da situação. Não éramos mais os protagonistas das decisões. Por sorte, os resultados dos exames vieram completamente normais e pudemos retornar.

Chegando em casa, já havia anoitecido e estava uma noite bem fria. Para me aquecer, eu pedia a equipe para abastecer a piscina o tempo todo com água quente e revezava entre ela e o chuveiro.

Em um determinado momento, estava debaixo do chuveiro, já agachada e fazendo força para a bebê sair, quando as luzes se apagaram e a água ficou fria. Pelo excesso de uso, a energia elétrica da casa inteira caiu. Como se tratava de um espaço alugado, eu e meu marido não sabíamos onde ficava o quadro de luz para religá-la.

Passamos mais ou menos 20 minutos no escuro. Eu voltei para a banheira e estava totalmente concentrada no parto, mas ouvia, ao fundo, a equipe correndo de um lado para o outro com as lanternas dos celulares tentando encontrar os disjuntores. Finalmente acharam o quadro, que ficava na área externa da casa, e pude finalizar o momento com as luzes acesas. Depois fui avisada pela equipe de que essa falta de energia não traria nenhum problema para o bebê, caso não conseguíssemos resolver a tempo. Mesmo com o incidente, foi um momento lindo". Ana Paula Velasques, 25 anos, consultora de imagem, de Campo Grande (MS), mãe de Pietra, de 1 mês.

"O chuveiro caiu quando eu estava no banheiro"

Ana Paula fez o parto de Maria Laura no hospital, mas preferiu ter a segunda filha, Cecília, em casa - Acervo pessoal - Acervo pessoal
Ana Paula fez o parto de Maria Laura no hospital, mas preferiu ter a segunda filha, Cecília, em casa
Imagem: Acervo pessoal

"Decidi que o parto da minha segunda filha seria feito em casa. A minha primeira experiência tinha sido no hospital e fui atendida por uma equipe atenciosa, sem nenhum problema, mas gostaria de vivenciar algo novo desta vez. Por ser a segunda gestação, meu corpo já estava familiarizado e o processo foi bastante rápido. Assim que senti que as contrações começaram a ficar ritmadas, acionei os profissionais que me auxiliariam e meu marido saiu de casa para levar a nossa filha mais velha para casa de parentes.

Neste intervalo, fiquei sozinha em casa e acredito ter sido um momento muito positivo, como se tivesse a sensação de degustar pelas últimas horas da minha gestação. Alguns minutos depois, eles chegaram. Eu estava na cama, mas aceitei a sugestão de ir para o chuveiro. Ali, senti que água estava um pouco fria e pedi à enfermeira que estava comigo, Beatriz, que regulasse a temperatura para deixá-la mais quente. Ela tem a estatura baixa, por isso subiu em cima do vaso sanitário para alcançar o botão.

Eu estava de costas para o chuveiro, quando senti um jato gelado nas minhas costas e logo em seguida um barulho. Ela se desequilibrou e derrubou o chuveiro e as cortinas do box no chão. Sem graça, pediu mil desculpas. Na hora, eu estava tão concentrada no nascimento da minha filha que nem dei muita atenção, só voltei para o quarto para continuar o processo.

Não demorou, a equipe recolocou o aparelho, mas preferi não voltar para lá. Em pouco tempo, minha filha nasceu perfeitamente bem. Hoje ela tem 4 anos, eu e a Beatriz somos colegas de equipe, já que também sou enfermeira obstétrica, e sempre damos risada quando relembramos a história". Ana Paula Medeiros, enfermeira, de Santo André (SP). É mãe de Maria Laura, de 10 anos e de Cecília, de 4.

"Entregamos 19 cartas para os vizinhos pedindo que relevassem o barulho"

Laura e Maurílio avisaram os vizinhos sobre o parto e receberam um presente - Acervo pessoal - Acervo pessoal
Laura e Maurílio avisaram os vizinhos sobre o parto e receberam um presente
Imagem: Acervo pessoal

"Eu e o Maurílio estamos juntos há 11 meses. Nos conhecemos por um aplicativo de relacionamento, começamos a namorar e logo em seguida engravidei. Já tinha planos de ser mãe, mas ainda não sentia que essa era uma prioridade — até, de fato, acontecer. A partir de então, buscamos por grupos de apoio à gestante e escolhemos uma equipe multidisciplinar para ajudar no nosso parto. A preferência por realizar o processo em casa foi muito natural para mim: quanto mais estudava sobre o assunto, mais me sentia confiante com essa decisão.

Conforme o parto se aproximava, recebemos do grupo a orientação de deixar a vizinhança avisada sobre a chegada do nosso bebê. É uma recomendação bastante importante, principalmente para quem mora em prédio. Não sabemos o dia e nem o horário em que o parto vai acontecer, mas é preciso que a portaria os outros moradores estejam cientes. Além do barulho, também existe a entrada e saída dos profissionais e uma movimentação nos elevadores e corredores — e não queremos gerar nenhum tipo de incômodo.

Ao todo, distribuímos dezenove cartas para os vizinhos. Depois disso, passamos a conhecer muitos deles, que nos cumprimentam nas áreas comuns do prédio e se colocam à disposição para ajudar caso seja necessário.

Um casal, em especial, nos mandou uma carta de resposta desejando boas-vindas para o bebê, com direito a uma cesta de presentes para ele. Graças a essa delicadeza, hoje nos tornamos amigos". Laura Alonso, 36 anos, nutricionista, de São Paulo (SP), à espera de João Pedro